DESBARRANCAMENTO

Sobreviventes sentiram a terra tremer com obras no porto dias antes da tragédia em Manacapuru

A reportagem de A CRÍTICA ouviu o relato de moradores de flutuantes que ficavam às margens do porto que desmoronou, no bairro da Terra Preta, em Macapuru. Eles atravessaram para a outra margem do rio em busca de segurança

Natasha Pinto
online@acritica.com
08/10/2024 às 16:16.
Atualizado em 08/10/2024 às 16:54

Marinelza Magalhães vive há sete anos no flutuante onde também tem uma pequena mercearia (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

Sobreviventes do desbarrancamento do Porto da Terra Preta, no município de Manacapuru, região metropolitana de Manaus, acreditam que o desastre, que deixou uma criança de seis anos e um homem de 37 anos desaparecidos, foi causado por uma obra de terraplanagem e aterramento realizada em um porto privado.

Os sobreviventes desatracaram os flutuantes e atravessaram para a outra margem do rio, em busca de segurança. Eles relataram que, nos últimos dias, moradores dos flutuantes e outros trabalhadores estavam sentindo a terra tremer a cada movimentação de caminhões e escavadeiras na região. Inclusive, os próprios flutuantes chegavam a balançar.

Conforme apuração do repórter Lucas Motta, de A Crítica, o conhecimento da Prefeitura de Manacapuru é de que não estava sendo realizada uma obra no local, mas sim que estava acontecendo a descarga de materiais que seriam utilizados em uma obra em outro município.

No entanto, a autônoma Marinelza Magalhães, que vive há sete anos no flutuante onde também tem uma pequena mercearia, atendendo os ribeirinhos, diz que a história é diferente.

"Tenho certeza de que isso aconteceu por causa dessa obra. Eu e meus filhos escapamos por pouco. Eles passavam um rolo, e a terra chegava a tremer. Tiravam essa terra, que era nativa, e colocavam em um caminhão que ia embora; no lugar, colocavam tipo um barro. Ninguém viu o José Maria (suposto proprietário), ele nem veio aqui nos procurar para saber se precisávamos de algo", disse, emocionada, Marinelza.

A comerciante relatou que não foi procurada pelo suposto dono da área desbarrancada, o empresário José Maria (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

A mesma história também foi contada pelo tio da criança desaparecida, o pescador Raimundo Bentes. Ele revelou que todos na região estavam sentindo a terra tremer há dias, devido à movimentação das máquinas.

Raimundo Bentes, pescador, também relatou ter sentido os tremores (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

"Há mais de três semanas eles estavam jogando terra, meio barro, em cima desse barranco. A gente, que vivia lá, sentia os tremores das máquinas, mesmo no flutuante, e era mais forte na terra. Para mim, isso foi a causa do deslizamento, porque eles aterraram muito, tinha muito barro mesmo, e essa é a minha indignação", desabafou o pescador.

Imagens feitas por moradores e trabalhadores do local mostraram rachaduras no chão e atividades de maquinários no local dias antes da tragédia:

Fenômeno natural ou erro humano

Os testemunhos dos sobreviventes coincidem com a suspeita do geólogo do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), Daniel Borges, que afirmou que há uma possibilidade de que os deslizamentos não tenham sido causados pelo fenômeno natural conhecido como terras caídas, registrados nos rios Solimões, mas talvez por um sinistro causado pela intervenção humana.

“Se for um fenômeno exclusivamente natural, poderíamos chamar de terras caídas, mas se há histórico de ocupação naquele local… resíduos de madeireiras, de aterros feitos sem controle ocupando essa área, provavelmente vai acontecer um escorregamento de massa, porque em algum momento o rio tirou aquela base de sustentação”, comentou.

O desbarrancamento destruiu boa parte da área portuária de Manacapuru (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

A reportagem de A CRÍTICA busca contato com o suposto dono do porto, o empresário José Maria, mas até o momento não obteve sucesso. O espaço continua aberto e assim que uma posição oficial do empresário for recebida, será adicionada a esta reportagem. 

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