Dentre as doenças que mais aparecem entre os indígenas adultos, destacam-se a hipertensão arterial e problemas crônicos da coluna vertebral
Dados apresentados no estudo, segundo os pesquisadores, são um alerta sobre a urgência em melhorar a atenção à saúde indígena no Amazonas. (Foto: Junio Matos/A Crítica)
Um estudo inédito sobre a saúde da população indígena não aldeada no Brasil revela um quadro preocupante em relação às doenças crônicas. A pesquisa que envolveu indígenas com 20 anos ou mais, mostrou que cerca de 60% dessa população apresenta ao menos uma condição crônica de saúde.
Em entrevista à reportagem de A CRÍTICA, a professora e pesquisadora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coautora do artigo científico, Deborah Carvalho Malta, explica que o estudo foi realizado com base em análises de dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Dentre as doenças que mais aparecem entre os indígenas adultos, destacam-se : hipertensão arterial, com 29,3% dos casos, e problemas crônicos da coluna vertebral, com 20,6%.
“Todas as perguntas se referiam ao diagnóstico médico prévio, exceto para doenças/problemas crônicos da coluna vertebral. Na investigação sobre depressão, o diagnóstico poderia ter sido dado pelo médico ou outro profissional de saúde mental (psicólogo/ psiquiatra). Para compor a variável número de doenças crônicas e estimar sua prevalência, foram consideradas todas as doenças/condições crônicas supracitadas. Na análise das doenças específicas, AVC, asma, Dort, doença pulmonar, câncer e insuficiência renal não apresentaram um número de casos suficiente para se proceder ao cálculo de estimativas específicas com precisão aceitável”, ressaltou Malta.
Outro dado levantado no estudo foi a maior presença de mulheres indígenas com hipertensão. O número, segundo a pesquisadora, é ainda maior em mulheres idosas.
Outro dado levantado no estudo foi a maior presença de mulheres indígenas com hipertensão.
“A hipertensão arterial é mais comum entre as mulheres e a prevalência aumenta significativamente entre os idosos. No grupo etário acima de 60 anos, a taxa de hipertensão chega a 65%, um aumento de 3,6 vezes em comparação aos adultos mais jovens. Além disso, as condições de vida e o contato com culturas diferentes têm contribuído para o surgimento de novas doenças e para a piora da saúde dessa população”, pontuou a pesquisadora.
Na capital amazonense, há o primeiro e o único bairro indígena da cidade, o Parque das Tribos, fundado em 2014 e, atualmente, é o lar de aproximadamente 700 famílias de 35 etnias distintas.
Muitos, migraram de seus territórios em busca de melhores condições de vida na cidade. Alguns se mudaram para estudar e depois voltar para as aldeias. Porém, no ambiente urbano, precisam enfrentar desafios como a discriminação e a falta de acesso a serviços essenciais como educação, segurança e principalmente, saúde.
Os dados apresentados no estudo, segundo os pesquisadores, são um alerta sobre a urgência em melhorar a atenção à saúde indígena no Amazonas e em todo o país, onde a interseção entre urbanização e cultura pode impactar a saúde de forma profunda.
“O desafio é assegurar que o direito à saúde seja garantido, levando em consideração as singularidades dessa população e promovendo ações efetivas de cuidado e tratamento”, concluiu
A pesquisadora Deborah Carvalho Malta destaca também que a média de idade dos participantes foi de 45 anos, sendo 23,2% idosos. O estudo se concentrou em indígenas que vivem em contextos urbanos e, conforme demonstrou na pesquisa, ainda que estes povos indígenas vivam em ambientes urbanos, o acesso à saúde pública ainda é difícil.