SAÚDE INDÍGENA

Seis em cada dez indígenas que vivem em áreas urbanas tem ao menos uma doença crônica, diz estudo

Dentre as doenças que mais aparecem entre os indígenas adultos, destacam-se a hipertensão arterial e problemas crônicos da coluna vertebral

Lucas Vasconcelos e Agência Bori
acritica.com
05/10/2024 às 11:54.
Atualizado em 05/10/2024 às 11:54

Dados apresentados no estudo, segundo os pesquisadores, são um alerta sobre a urgência em melhorar a atenção à saúde indígena no Amazonas. (Foto: Junio Matos/A Crítica)

Um estudo inédito sobre a saúde da população indígena não aldeada no Brasil revela um quadro preocupante em relação às doenças crônicas. A pesquisa que envolveu indígenas com 20 anos ou mais, mostrou que cerca de 60% dessa população apresenta ao menos uma condição crônica de saúde.

Em entrevista à reportagem de A CRÍTICA, a professora e pesquisadora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coautora do artigo científico, Deborah Carvalho Malta, explica que o estudo foi realizado com base em análises de dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“O estudo utilizou dados de indivíduos que se autodeclararam indígenas (informação baseada na pergunta sobre cor ou raça) que responderam ao questionário da PNS 2019, referente ao morador selecionado”, explicou a pesquisadora.

Dentre as doenças que mais aparecem entre os indígenas adultos, destacam-se : hipertensão arterial, com 29,3% dos casos, e problemas crônicos da coluna vertebral, com 20,6%.

“Todas as perguntas se referiam ao diagnóstico médico prévio, exceto para doenças/problemas crônicos da coluna vertebral. Na investigação sobre depressão, o diagnóstico poderia ter sido dado pelo médico ou outro profissional de saúde mental (psicólogo/ psiquiatra). Para compor a variável número de doenças crônicas e estimar sua prevalência, foram consideradas todas as doenças/condições crônicas supracitadas. Na análise das doenças específicas, AVC, asma, Dort, doença pulmonar, câncer e insuficiência renal não apresentaram um número de casos suficiente para se proceder ao cálculo de estimativas específicas com precisão aceitável”, ressaltou Malta.

Hipertensão em mulheres indígenas

Outro dado levantado no estudo foi a maior presença de mulheres indígenas com hipertensão. O número, segundo a pesquisadora, é ainda maior em mulheres idosas.

Outro dado levantado no estudo foi a maior presença de mulheres indígenas com hipertensão. (Foto: Junio Matos/A Crítica)

“A hipertensão arterial é mais comum entre as mulheres e a prevalência aumenta significativamente entre os idosos. No grupo etário acima de 60 anos, a taxa de hipertensão chega a 65%, um aumento de 3,6 vezes em comparação aos adultos mais jovens. Além disso, as condições de vida e o contato com culturas diferentes têm contribuído para o surgimento de novas doenças e para a piora da saúde dessa população”, pontuou a pesquisadora.

Parque das Tribos abriga 700 famílias indígenas de 35 etnias

Na capital amazonense, há o primeiro e o único bairro indígena da cidade, o Parque das Tribos, fundado em 2014 e, atualmente, é o lar de aproximadamente 700 famílias de 35 etnias distintas. 

Muitos, migraram de seus territórios em busca de melhores condições de vida na cidade. Alguns se mudaram para estudar e depois voltar para as aldeias. Porém, no ambiente urbano, precisam enfrentar desafios como a discriminação e a falta de acesso a serviços essenciais como educação, segurança e principalmente, saúde.

“Manaus, como um importante centro urbano, reflete essas mudanças. A cidade, que abriga uma significativa população indígena, enfrenta o desafio de garantir que os serviços de saúde atendam às necessidades específicas desses cidadãos. O estudo ressalta a necessidade de uma abordagem que respeite a diversidade cultural e os saberes tradicionais, essenciais para a promoção de saúde e prevenção de doenças entre os indígenas”, declara.

Os dados apresentados no estudo, segundo os pesquisadores, são um alerta sobre a urgência em melhorar a atenção à saúde indígena no Amazonas e em todo o país, onde a interseção entre urbanização e cultura pode impactar a saúde de forma profunda.

“O desafio é assegurar que o direito à saúde seja garantido, levando em consideração as singularidades dessa população e promovendo ações efetivas de cuidado e tratamento”, concluiu

Dificuldade de acesso à saúde

A pesquisadora Deborah Carvalho Malta destaca também que a média de idade dos participantes foi de 45 anos, sendo 23,2% idosos. O estudo se concentrou em indígenas que vivem em contextos urbanos e, conforme demonstrou na pesquisa, ainda que estes povos indígenas vivam em ambientes urbanos, o acesso à saúde pública ainda é difícil.

“A urbanização tem sido um fator influente, com 87,5% dos indígenas vivendo em áreas urbanas. Entretanto, as dificuldades de acesso a serviços de saúde de qualidade persistem, mesmo com políticas públicas implementadas desde a Constituição de 1988, como o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena”, pontuou Malta.
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