Crianças

Saúde digital na infância

Com o uso crescente de dispositivos eletrônicos entre crianças, especialistas alertam para a importância de equilibrar a exposição às telas e atividades essenciais para o desenvolvimento saudável.

Tiago Melo
13/10/2024 às 12:21.
Atualizado em 13/10/2024 às 12:21

(Foto: Agência Brasil)

Nos últimos anos, o acesso à tecnologia tornou-se praticamente universal entre as crianças no Brasil. De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil (2023), 95% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos estão conectadas à internet, o que representa mais de 25 milhões de usuários. Esse contato precoce com a tecnologia levanta uma questão fundamental: como garantir que o uso das telas seja equilibrado e não prejudique o desenvolvimento físico, mental e social das crianças?

 O impacto do uso excessivo


Embora a tecnologia ofereça uma série de benefícios — desde a educação até a socialização —, o uso excessivo de telas pode causar danos significativos à saúde infantil. Estudos apontam que a exposição prolongada pode levar ao aumento de problemas comportamentais e de saúde mental, como ansiedade, hiperatividade, distúrbios do sono e até mesmo depressão.

A psicóloga Bárbara Couto, especialista em relacionamentos, alerta para o papel viciante das redes sociais e dos algoritmos que prendem a atenção dos usuários. “Sabemos que as redes sociais funcionam usando algoritmos, entregando conteúdos que nos interessam e prendendo nossa atenção. Com isso, ficamos tempo demais e acabamos abrindo mão de outras coisas que são importantes, trocando a vida social pela internet. Muitos passam a ter queda de desempenho escolar ou profissional, pais passam a ficar mais ausentes, amigos mais distantes, entre outras consequências”, explica Bárbara.

Esse quadro é agravado pela alta conectividade da população brasileira. Um estudo divulgado no Relatório Digital 2024 aponta que o Brasil é o segundo país onde os usuários passam mais tempo on-line, com uma média de 9 horas e 13 minutos por dia, e o terceiro em tempo gasto especificamente nas redes sociais, com 3 horas e 37 minutos diários.

 Monitorado e limitado 


Especialistas defendem que a prevenção dos danos causados pela exposição excessiva às telas deve começar na infância. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orienta que, até os dois anos, os bebês não sejam expostos a telas desnecessariamente, pois essa fase é crucial para o desenvolvimento cerebral. Dos dois aos cinco anos, o tempo de tela deve ser restrito a uma hora por dia, sempre com supervisão de um adulto. Crianças de seis a 10 anos podem passar entre uma a duas horas diante das telas, enquanto adolescentes entre 11 e 18 anos devem limitar seu uso a três horas diárias.

Para dra. Evelyn Eisenstein, coordenadora do Grupo de Trabalho de Saúde Digital, o monitoramento é fundamental não só por parte dos pais, mas também das escolas, que desempenham um papel essencial na educação digital. “Os assuntos sobre saúde digital e a vivência de nossas crianças e adolescentes são dever de toda a sociedade e as escolas possuem papel fundamental no quesito da educação. Não podemos falar de internet sem falar de ensinar o correto uso dela”, afirma.

O acompanhamento dos conteúdos acessados pelas crianças é outro ponto crucial. Ferramentas como a Classificação Indicativa (Classind) ajudam pais e educadores a identificar quais conteúdos audiovisuais e jogos são apropriados para cada faixa etária. “Estudos mostram que há aumento de riscos e problemas de saúde e comportamentais com o uso de mais de quatro ou cinco horas por dia. Pensando, especialmente, nos adolescentes que gostam de videogames, isso é extremamente prejudicial para a saúde física e mental dos jovens”, adverte dra. Evelyn.

 Uso saudável da tecnologia


Diante de tantos desafios, como os pais e cuidadores podem incentivar o uso consciente da tecnologia? A resposta está no equilíbrio e no exemplo. A psicóloga Bárbara Couto sugere que os adultos também repensem seu próprio comportamento digital. “Não só as crianças devem limitar o uso de telas. Adultos também devem se policiar, principalmente limitar o próprio uso de redes sociais, que oferecem recursos para que isso seja feito. É preciso parar e analisar se o uso de telas está prejudicando alguma área da vida, traçar metas para melhorar e aplicar o que se propôs a fazer”, orienta.

Além disso, Bárbara lembra da importância do convívio social e da interação humana no desenvolvimento das crianças. “Somos seres sociais e precisamos estar com pessoas, conviver pessoalmente. As redes sociais não substituem a relação pessoal”, destaca.

Já dra. Evelyn Eisenstein enfatiza que a desconexão das telas é um exercício que deve ser feito em família. “Nada é mais benéfico para eles que o contato humano e verdadeiro com os pais. Por isso, brincar, interagir e conversar com as crianças é o caminho para criar união e uma infância e adolescência mais felizes e saudáveis”, finaliza.

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