Risco para animais

Parasita encontrada na osga pode levar felinos à morte

Quando infectadas pelo parasita Platynosomum fastosum, as osgas podem ser transmissoras de doença

Karol Rocha
06/05/2023 às 14:01.
Atualizado em 06/05/2023 às 14:01

Osgas, ou lagartixas, podem ser transmissoras da doença platinosomose felina (Divulgação)

Gatos e lagartixas ou osgas, como são conhecidas popularmente no Amazonas, não convivem bem no mesmo espaço. Isso porque as lagartixas podem ser facilmente alvos dos felinos, que são caçadores por natureza. 

O problema é que apesar de inofensivas, quando infectadas pelo parasita chamado Platynosomum fastosum, as osgas ou lagartixas podem ser transmissoras da doença platinosomose felina. O Picles, um gato de 3 anos, foi acometido pela doença e por conta do diagnóstico tardio, não sobreviveu à platinosomose. 

“Tudo começou em novembro de 2022. Naquele mês, estava limpando o gatil, onde os meus gatos ficam e a gente notou que ele não se alimentava direito, e havia muito vômito espalhado. Nós fomos averiguar um por um e notamos que o Picles estava muito amarelo”, comentou a tutora dele, a profissional de marketing Naissa Miranda, de 25 anos, atualmente responsável por sete gatos.

Naquela circunstância, Naissa não imaginava que se trataria de uma infecção causada pelo contato com a lagartixa contaminada. Dias antes de constatar os sintomas do Picles, ela comentou que tinha visto uma osga despedaçada próximo ao gatil. 

“Nós não tínhamos a noção da gravidade e quando levamos ao veterinário, ele já estava em estado muito avançado. Após a ultrassom, foi detectado no exame que ele estava com uma doença da verme da lagartixa”.

Segundo Naissa, Picles ficou cinco dias internado e após uma pequena melhora, ele continuou o tratamento em casa por quatro dias. No quinto dia, o felino faleceu. “Ele ainda ficou conosco quatro dias em casa, apresentou uma melhora, mas todas as vezes que ele chegava perto do prato de ração, ele vomitava. No quinto dia, ele se isolou na caixinha dele e a gente sabia que ele estava partindo”, lamentou a tutora. 

Picles tinha 3 anos de idade quando foi acometido pela doença e não sobreviveu (Divulgação)


Picles tinha 3 anos de idade quando foi acometido pela doença e não sobreviveu (Divulgação)

Perigo para os gatos

A médica veterinária, pós-graduada em clínica e cirurgia de felino, Adriana Oliveira da Silva Queiroz, explica que embora lagartixas não tenham veneno e não ataquem, os pequenos repteis transmitem doenças para os gatos. “Elas podem estar parasitadas pelo verme Platynosomum Spp, causador da platinosomose”, comentou. 

De acordo com a especialista, os sintomas da doença são vômitos, emagrecimento progressivo, diminuição do apetite, diarreia e icterícia que é o amarelamento da cor dos olhos e das mucosas devido ao excesso de bilirrubina no sangue. “Ainda que a maioria dos gatos infectados seja assintomática, a doença pode se tornar grave quando inflama e obstrui as vias biliares, o que pode evoluir para óbito”, explicou ainda.

A médica afirma que não há como saber se a osga tem ou não o parasita. Em todo o caso, ela sugere que gatos fiquem longe de qualquer lagartixa. “Ela precisa estar contaminada com o parasita para transmitir. Nem todas estão infectadas. Por isso, devemos evitar a caça e não devemos matar as lagartixas”. 

Para evitar que os felinos procurem pelos animais, ela reforça a necessidade de que o tutor enriqueça o ambiente com brinquedos e pede que em caso de sintomas, visite um veterinário especializado. 

“Não é comum gato bem alimentado comer a lagartixa, eles até caçam e matam, mas comer nem todos comem. É importante enriquecer o ambiente com brinquedos interativos. As vezes, uma caixa de papelão e bolinhas de papel são mais apreciados pelos gatos", comenta ela. "Ao perceber qualquer alteração no gato como vômito e perda de apetite, procure um médico veterinário para realizar exames”.

Lagartixas podem fazer mal a gatos

De acordo com o biólogo, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e doutor em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa),  Igor Luis Kaefer, todas as espécies de lagartixa podem fazer algum mal para os felinos. “Especialmente as domésticas 'Hemidactylus mabouia' e 'Lepidodactylus lugubris' porque dividem espaço com animais domésticos como gatos”, explicou ele. 

Em Manaus, há duas espécies que podem chegar às residências dos amazonenses, a mais conhecida, a Hemidactylus mabouia e uma "nova” lagartixa chamada de Lepidodactylus lugubris, que tem como característica marcante a vocalização em uma intensidade bem alta. Ela emite o som especialmente no início da noite. 

“A olho nu é difícil diferenciar as duas espécies, pois o formato do corpo é parecido e a coloração pode variar bastante dentro de cada espécie. Algumas diferenças mais sutis encontradas na espécie nova Lepidodactylus lugubris incluem a presença de sacos esbranquiçados na região ventral do pescoço e também linhas escuras que vão da narina até a inserção do braço”, reforçou ele, sobre as características do animal.

De acordo com o doutor em Ecologia, a espécie também é mais corajosa, porque chega perto de restos de comida e bebida para se alimentar de açúcar. Quanto aos perigos, ele reafirma que a recomendação de manter gatos longe de lagartixas. 

“Até agora não sabemos de implicações diretas para a saúde humana, mas a saúde de outros animais como felinos pode ser impactada pela platinosomose, uma doença transmitida por lagartixas e causada por um parasita que pode causar doenças hepáticas nos gatos”, finalizou.
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