Conforme o estudo divulgado pela Roche Farma Brasil, em evento em São Paulo, a cada R$ 1 investido em saúde pública gera um retorno de R$ 1,61 no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil
O evento foi realizado na última semana, em São Paulo (SP) (Foto: Divulgação/Roche)
São Paulo – Um estudo divulgado pela Roche Farma Brasil revelou que cada R$ 1 investido em saúde pública gera um retorno de R$ 1,61 no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Apresentado na última semana, em São Paulo (SP), o levantamento indica que o aumento de recursos destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS) pode ter impactos significativos na economia brasileira, mostrando como o investimento em saúde pública pode ser uma ferramenta estratégica para o crescimento econômico e a redução das desigualdades sociais no país.
Além do efeito multiplicador do investimento na economia brasileira, o estudo, que utilizou dados da contabilidade nacional, revelou também que os gastos em saúde podem proporcionar um retorno de R$ 1,23 em renda adicional para as famílias brasileiras, especialmente aquelas mais vulneráveis. Os pesquisadores explicam que esse impacto positivo é motivado por uma série de fatores, como a redução de despesas diretas com saúde, o aumento da produtividade dos trabalhadores e o fortalecimento da economia por meio do consumo.
Segundo o estudo, as famílias de baixa renda, principalmente aquelas que ganham até R$ 1.200, são as mais beneficiadas por esses investimentos, visto que dependem mais frequentemente do SUS. Famílias que ganham até R$ 1.200 utilizam cerca de 82% dos recursos aplicados em saúde no sistema público, de acordo com o estudo e, uma vez que elas não precisam gastar com saúde porque dispõem de um sistema robusto, sobra mais dinheiro para o consumo de bens e serviços, fazendo a economia girar.
O coordenador do estudo, pesquisador na área de economia da saúde e doutor em ciências da saúde, Everton Macêdo, destacou a necessidade de mudar a perspectiva sobre os impactos do setor da saúde na economia do país. Durante a apresentação dos resultados do estudo desenvolvido pela consultoria HTopics, em parceria com a Roche Farma Brasil, o pesquisador levantou o questionamento: "Afinal, saúde é um gasto ou um investimento?"
“Encarar a saúde como investimento, e não como despesa, muda completamente a perspectiva sobre o impacto desse setor. Quando eu cuido das pessoas, eu promovo não somente o direito à saúde, que é um direito social e que a gente deu um passo importante com a Constituição Brasileira, que traz o SUS como um sistema universal para a promoção do direito à saúde, mas, a partir da construção do SUS, nós temos toda uma discussão de como dar sustentabilidade a esse sistema, e a gente continua discutindo isso”, disse o pesquisador.
Everton destacou ainda que os estudos mostraram que aplicar recursos de forma estratégica em saúde gera benefícios econômicos significativos e cria novas oportunidades em outros segmentos. “Quando as famílias não precisam comprometer sua renda com cuidados médicos, elas podem direcionar seus recursos para o consumo e o crescimento pessoal, fortalecendo a economia de maneira ampla e sustentável”, frisou.
À esquerda da foto, o coordenador do estudo, pesquisador na área de economia da saúde e doutor em ciências da saúde, Everton Macêdo
Em entrevista ao A CRÍTICA, após a apresentação da pesquisa, Everton disse que os idealizadores do estudo pretendem aprofundar a análise dos efeitos multiplicadores em diferentes grupos familiares, considerando variáveis como renda, localização geográfica, raça e composição familiar. A ideia, segundo ele, é explorar essa abordagem da melhor forma possível para conseguir retratar, por exemplo, as realidades regionais do país.
Questionado sobre como o estudo pode subsidiar políticas específicas para reduzir desigualdades regionais no acesso à saúde, especialmente em estados com grandes desafios de infraestrutura, como o Amazonas, Everton disse que, com a continuidade do estudo, o objetivo agora é identificar como os investimentos em saúde podem ser direcionados para maximizar seus benefícios econômicos e sociais em diferentes contextos.
“O nosso desafio agora é conseguir enxergar essas realidades regionais. No caso da região Norte, a gente precisa olhar para quais elementos podem estar influenciando de uma forma mais acentuada aquele efeito multiplicador. Por exemplo, quando a gente observa a produção pela indústria da saúde, qual é o peso que ela tem no estado do Amazonas e quais são os pesos dos outros setores da economia? Qual é o peso do setor logístico para captar a variação que ele gera? Não sei se a gente vai conseguir atingir esse grau de desagregação, mas a ideia é que a gente consiga retratar essas realidades regionais”, disse.
Contudo, os resultados já apresentados chamam atenção para a necessidade de ampliar o financiamento do SUS, não apenas como uma medida de proteção social, mas como um motor para o desenvolvimento econômico e a redução das desigualdades sociais no Brasil.
Após a apresentação do estudo, os ex-ministros da Saúde, Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta, comentaram os resultados durante uma roda de conversa sobre o tema. Também participaram dos debates a doutora em economia da saúde, Mônica Viegas, o médico e doutor em saúde coletiva, Denizar Vianna, e a professora e doutora em medicina preventiva, Ana Maria Malik.
Em entrevista ao A CRÍTICA, os ex-ministros da Saúde também compartilharam suas perspectivas sobre a importância dos investimentos em saúde pública no Brasil. Mandetta defendeu a necessidade de executar os orçamentos em sua totalidade, garantindo que os recursos destinados à saúde sejam plenamente utilizados.
“A primeira coisa que eu fiz antes de assumir foi ir ao ministro e perguntar: 'O meu orçamento é esse?' Ele respondeu: 'É.' Então tá bom. Eu vou executar 100% dele. Porque me irritava muito nos anos anteriores, os ministros chegavam ao final do ano, sobravam 10%, 8%, e diziam: 'Recolha esse dinheiro ao Tesouro Nacional.' Ora, se a gente está nessa dificuldade de dinheiro, como é que eu vou deixar? Eu não deixei. Foi a primeira vez que o Ministério da Saúde executou 100% do orçamento”, contou.
Já Nelson Teich destacou a importância de encarar a saúde como um investimento essencial. Para ele, a principal questão diante da discussão proposta é como distribuir esses investimentos de forma a garantir a equidade e a universalização do acesso aos serviços de saúde.
“Eu acho que essa discussão de hoje sobre se saúde é custo ou investimento, a gente até traz isso de uma forma mais semântica, mas é claro que você tem que investir em saúde, a sociedade precisa disso, as pessoas precisam. Você tem que tentar minimizar o sofrimento das pessoas. Então, a função como país, como estado, é ajudar as pessoas a viverem melhor. É claro que a saúde é um investimento, não tenho a menor dúvida disso. A pergunta é: como você vai distribuir esses investimentos? Mas achar que isso é gasto de forma pejorativa, de jeito nenhum, isso não tem o menor sentido”, destacou.
Durante o evento em São Paulo, a reportagem de A CRÍTICA entrevistou com exclusividade os ex-ministros Henrique Mandetta e Nelson Teich, que também relembraram suas atuações durante a gestão do Ministério da Saúde, ocorridas durante uma das maiores crises de saúde do mundo, a pandemia de Covid-19. Os detalhes sobre esse tema, além das visões dos ex-ministros sobre gestão em saúde pública, estarão em uma próxima reportagem a ser publicada em breve.