Saúde mental

Especialistas explicam o 'Folie à Deux', raro transtorno retratado no filme 'Coringa 2'

O transtorno psiquiátrico incomum é caracterizado quando duas ou mais pessoas compartilham a mesma ilusão ou delírio

Tiago Melo
online@acritica.com
05/10/2024 às 15:50.
Atualizado em 05/10/2024 às 15:50

Segundo psiquiatra, o ‘delírio a dois’ tende a se manifestar em situações de isolamento (Divulgação)

O aguardado "Coringa 2 - Folie à Deux", que estreou no dia 3 de outubro, traz de volta Joaquin Phoenix ao papel do icônico vilão, agora acompanhado por Lady Gaga como Arlequina. Além do fascínio por seus personagens controversos, o filme apresenta ao público um raro transtorno psiquiátrico que dá nome à produção: "Folie à Deux", ou "delírio a dois", em tradução literal. Entenda mais sobre essa condição psicológica peculiar e suas implicações.

O que é Folie à Deux?

O termo "Folie à Deux" descreve um transtorno psiquiátrico incomum em que duas ou mais pessoas compartilham a mesma ilusão ou delírio. Esse fenômeno ocorre geralmente em relações extremamente próximas, como entre casais, irmãos ou amigos íntimos, onde uma pessoa influencia a outra a adotar crenças irracionais. Segundo o psiquiatra Dr. Flávio H. Nascimento, essa é uma condição rara, que vem sendo estudada com mais profundidade apenas recentemente.

"O ‘delírio a dois’ tende a se manifestar em situações de isolamento, onde há pouco contato com o mundo exterior", explica o Dr. Nascimento. "Os pacientes influenciados acabam se rendendo ao delírio do ‘indutor’, o que pode levar a comportamentos arriscados".

Como se desenvolve o transtorno?

A condição ainda não é completamente compreendida pela comunidade científica, mas há hipóteses que envolvem o papel dos chamados neurônios-espelho. Essas células refletem as emoções e comportamentos de outras pessoas, e sua ativação excessiva pode estar relacionada à adoção de delírios por parte de quem já possui uma predisposição emocional, como explica o neurocientista Dr. Fabiano de Abreu Agrela.

“A insegurança emocional e a necessidade de aceitação estão na raiz desse transtorno. Muitas vezes, as pessoas suprimem suas identidades em favor de quem têm ao lado, o que pode facilitar o surgimento dessas ilusões compartilhadas”, afirma Agrela.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico do "Folie à Deux" envolve uma avaliação clínica criteriosa, onde psicólogos ou psiquiatras observam os comportamentos e a relação entre os envolvidos. Dr. Nascimento destaca que a separação dos pacientes é o principal caminho terapêutico, especialmente para a pessoa que foi influenciada.

"A separação geralmente é suficiente para reverter o delírio no indivíduo secundário", explica ele. "Já o indutor, por sua vez, pode necessitar de internação, psicoterapia intensiva e, em alguns casos, medicação".

Em casos mais graves, além da psicoterapia, antipsicóticos podem ser utilizados para tratar o transtorno. Dr. Agrela alerta ainda para a importância de prevenir situações de dependência emocional e isolamento, fatores que podem intensificar a psicose compartilhada.

Um alerta sobre a dependência emocional

A trama do filme também levanta questões sobre os efeitos da dependência emocional, como observa Dr. Agrela. “A ativação exagerada dos neurônios-espelho em pessoas emocionalmente inseguras pode facilitar a adoção de crenças irracionais, levando até a uma psicose, como no caso do transtorno."

Assim, "Coringa 2" vai além da simples ficção, oferecendo um olhar sobre como a mente humana pode ser influenciada por laços emocionais profundos, até o ponto em que a realidade se distorce e duas pessoas passam a viver a mesma ilusão.

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