Em meio a descuidos, casos de dengue crescem 164% no Amazonas em 2024

Pneus velhos, lixo acumulado e recipientes com água parada são ambientes propícios para a proliferação do mosquito da dengue. Em Manaus, esses focos de dengue podem ser encontrados em diversos pontos da cidade, apontando a necessidade de uma ação conjunta entre as autoridades de saúde e a população. A situação também é comum em outros municípios do estado.

Dados apresentados pelo Ministério da Saúde na última terça-feira (28) mostram que o Amazonas é o segundo estado da região Norte com o maior número de casos de dengue até o momento, ficando atrás somente do Pará. No momento, o estado totaliza 8.852 casos prováveis da doença, segundo o Painel de Monitoramento das Arboviroses, um aumento de 164,15% se comparado ao mesmo período do ano passado, quando apresentava 3.351 casos prováveis da doença.

Quanto aos casos confirmados de dengue, o Amazonas apresenta um total de 4.770 de janeiro até esta quinta-feira (30/05), segundo o último levantamento da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), que confirmou também três mortes pela doença. A entidade destaca que a eliminação dos focos do mosquito segue sendo a medida mais eficaz para evitar a dengue.

Problemas de Infraestrutura e Conscientização

Luiz Rodrigues, de 63 anos, morador do bairro Distrito Industrial, na Zona Leste de Manaus, afirma que a falta de conscientização e os problemas de infraestrutura da cidade agravam a situação. Ele reclama do acúmulo de lixo nos quintais da vizinhança, que acabam se tornando verdadeiros criadouros do mosquito, além da falta de acesso à rede de esgotamento sanitário, que ocasiona o acúmulo de água parada no local, segundo ele.

“Está tudo ali, esgoto, canos, muita água acumulada, tudo vem para cá. Eu mando limpar esse terreno para não ficar ensopado com essas chuvas agora, eu sei como fica essa situação aí, se fica água parada, eu vou lá e ajeito. Mas isso aqui [lixo acumulado no quintal da vizinhança] é assim: dia e noite, meses e meses, entra ano e sai ano nessa situação aí... O que está faltando é as autoridades tomarem uma providência”, disse o morador.

Luiz Rodrigues (Foto: Jeiza Russo/A CRÍTICA)

No bairro Japiim, na Zona Sul de Manaus, um morador de 60 anos, que terá a sua identidade preservada, afirma que já recebeu até ameaças por reclamar do acúmulo de pneus em um terreno baldio próximo à sua casa. Segundo ele, o descarte incorreto dos pneus velhos é feito por vizinhos que trabalham em uma borracharia ali perto.

Ele afirma que já teve dengue duas vezes e não quer outra experiência com a doença. O morador defende que o enfrentamento da dengue também é uma responsabilidade da população que pode exercer o seu papel mantendo os cuidados de prevenção para evitar a proliferação do mosquito.

“Ele joga tudo aí, se vocês forem lá vão ver um monte de pneu e carapanã que tem nos pneus com água ali. O ‘cara’ pega e joga pneu aí, a pessoa não tem consciência... Eu peguei dengue duas vezes e pretendo nunca mais pegar. Dói o corpo da gente todo, a cabeça falta estourar, os ossos, a gente fica sem força nas pernas, nas juntas. Então, eu não posso brincar com isso, para mim é coisa séria”, disse o morador.

(Foto: Jeiza Russo/A CRÍTICA)

Em nota, a Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp) informou que está ciente da atual situação de focos de dengue espalhados pela cidade, principalmente da presença de grande quantidade de pneus velhos em canteiros centrais de avenidas da capital. Segundo o órgão, equipes da secretaria estão realizando o recolhimento em vários pontos da capital, para que essa solicitação seja atendida da maneira mais rápida possível.

“Contamos também com a ajuda e conscientização de toda a população para que possamos conter a quantidade de pneus descartados de forma indevida e estamos com um ponto físico de coleta dos pneus na Bola da Suframa, localizada na Avenida Rodrigo Otávio, Crespo”, destacou.

Vacinação contra a Dengue

Entre as estratégias de vigilância e controle da dengue está a vacinação. Em Manaus, a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) está vacinando crianças e adolescentes de 10 a 14 anos contra a dengue, e a secretária municipal de Saúde, Shádia Fraxe, reforçou a importância da imunização, orientando pais e responsáveis a levarem os filhos para receber a vacina, ofertada em mais de 70 unidades de saúde da rede básica.

“A vacina protege contra a infecção pelos principais sorotipos do vírus, reduzindo o risco de hospitalização ou mesmo morte pela dengue. E, quanto mais pessoas vacinadas, menor será a incidência da doença e dos agravos dela decorrentes”, disse a titular da pasta.

Com relação ao coeficiente de incidência da dengue, ou seja, a proporção de infecções por habitantes, o Amazonas apresenta 230,6 infecções a cada 100 mil habitantes. Os dados são do Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde, que atualiza semanalmente o cenário de enfrentamento da dengue em todo o Brasil.

(Foto: Jeiza Russo/A CRÍTICA)

Dados apresentados na primeira quinzena de maio sinalizam um cenário mais positivo no enfrentamento da doença no país, segundo o Ministério da Saúde. Na última coletiva de imprensa realizada em maio pelo órgão para discutir o cenário da dengue no país, o MS mostrou uma queda na incidência da doença em 24 estados e no Distrito Federal.

Além do Amazonas, estão em tendência de queda: Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe, São Paulo e Tocantins. Apenas Maranhão e Mato Grosso apresentam estabilidade.

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