Caneta para aplicação em casos de emergências alérgicas foi apresentada durante o 51º Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia em Salvador
Autônoma Carolina Fernanda Soares, de 24 anos, mãe de Maria Flor Soares Bezerra, de 4 anos, que tem alergia severa ao leite de vaca. (Foto: Acervo pessoal)
Pesquisadores brasileiros desenvolveram a primeira caneta de adrenalina do Brasil. O medicamento pode transformar a vida de milhares de pessoas que convivem com alergias graves. A fabricação nacional do dispositivo, que é usado em casos de emergências alérgicas e pode ser aplicado até pelo próprio paciente, também é uma alternativa mais acessível aos produtos importados, cujo custo é alto e representa uma grande dificuldade para muitas famílias brasileiras.
É o caso da autônoma amazonense Carolina Fernanda Soares, de 24 anos, mãe de Maria Flor Soares Bezerra, de 4 anos, que tem alergia severa ao leite de vaca. Carolina relata que, aos quatro meses, a filha precisou tomar fórmula de leite e teve uma leve vermelhidão ao redor da boca.
Após levá-la ao hospital, a família descobriu que Maria Flor tinha alergia ao leite de vaca, mas até aquele momento, ainda não tinham ideia da gravidade.
Na ocasião, Carolina conta que foram necessárias três doses de adrenalina no hospital para estabilizar a filha. Depois, a pequena Maria ainda precisou tomar antialérgicos por alguns dias em casa. E foi a partir desse episódio que a família começou a buscar alternativas que trouxessem mais segurança e praticidade em momentos como esse de corrida contra o tempo. Foi quando Carolina descobriu a caneta de adrenalina.
Duas canetas para aplicação de antialérgico, com validade de 1 ano, custam em torno de R$ 1.500 a R$ 2.000 fora do Brasil (Foto: Reprodução)
“Nesse dia em que descobrimos a real gravidade, começamos a pesquisar sobre a caneta de adrenalina. Descobrimos que não tinha no Brasil e que íamos precisar importar, infelizmente. Entramos em contato com algumas empresas que fazem esse intermédio e compramos da Turquia, que oferecia o melhor custo-benefício”, disse.
Segundo Carolina, duas canetas com validade de 1 ano custam em torno de R$ 1.500 a R$ 2.000 e, dependendo da empresa, só parcelam em até duas vezes. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o paciente só pode ter acesso a partir de judicialização.
Por conta do alto custo e de toda a burocracia para a aquisição da caneta, Carolina revela que precisa sempre se planejar com antecedência financeiramente, abrindo mão de outras aquisições para dar prioridade à segurança da filha.
Esperança
Mas essa situação pode mudar em breve. É o que afirma o líder do grupo que desenvolveu a caneta nacional, Renato Rozental, que explicou que os pesquisadores estão em busca de parceria com laboratórios para a produção em larga escala do produto e registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A caneta foi apresentada durante o 51º Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia, ocorrido entre os dias 14 e 17 de novembro, em Salvador (BA). Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Fábio Kuschnir, apresentou a jornada para chegar ao protótipo e o desenvolvedor da caneta, Renato Rozental, mostrou o processo para chegar ao dispositivo.
Também esteve presente durante a apresentação a representante da Anvisa, Isabella do Carmo Gomes, gerente de avaliação, segurança e eficácia da direção geral das drogas, que apresentou o tripé para a aprovação de novos medicamentos.
A Asbai informou que o dispositivo será analisado pela agência reguladora. “Esperamos que em breve tragamos ótimas notícias sobre o assunto”, comentou a entidade nesta semana. Os pesquisadores estimam que o produto nacional seja vendido por R$ 400, e a ideia é que o medicamento esteja disponível em cerca de 11 meses.
Principais 'vilões'
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Fábio Kuschnir, houve um “aumento exponencial” de alergias no Brasil – incluindo casos de anafilaxia. Ele afirma que os alimentos figuram, no país, como a principal causa de alergia entre crianças – sobretudo leite e ovo.
Entre adultos, a principal causa de alergia, de acordo com Kuschnir, são medicamentos – sobretudo analgésicos e anti-inflamatórios, remédios que sequer exigem prescrição médica no ato da compra. Antibióticos também respondem por um número considerável de casos de alergia na população adulta, além de alimentos como crustáceos e mariscos.
“Essa reação (anafilaxia) causa choque anafilático, uma queda de pressão abrupta e muito grande, que faz com que o sangue não circule pelo corpo e não chegue ao cérebro. O organismo libera uma substância chamada histamina, que causa uma reação generalizada e pode afetar pele e pulmão, além de causar broncoespasmo e edema de glote, fechando as vias aéreas superiores”, explicou.
Segundo a Asbai, a adrenalina é atualmente o único medicamento disponível no mercado capaz de tratar casos de anafilaxia. "Se eu começo a ter uma reação dessa e aplico a adrenalina, no prazo de um a cinco minutos, reverto quase totalmente o quadro de anafilaxia – ou permito que essa pessoa vá ao hospital completar o tratamento”, frisou Kuschnir, destacando que a adrenalina reverte todos esses sintomas de alergia severa.