Medicamento

Dispositivo pode transformar a vida de pessoas que convivem com alergias graves

Caneta para aplicação em casos de emergências alérgicas foi apresentada durante o 51º Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia em Salvador

Amariles Gama
cidades@acritica.com
23/11/2024 às 09:37.
Atualizado em 23/11/2024 às 09:37

Autônoma Carolina Fernanda Soares, de 24 anos, mãe de Maria Flor Soares Bezerra, de 4 anos, que tem alergia severa ao leite de vaca. (Foto: Acervo pessoal)

Pesquisadores brasileiros desenvolveram a primeira caneta de adrenalina do Brasil. O medicamento pode transformar a vida de milhares de pessoas que convivem com alergias graves. A fabricação nacional do dispositivo, que é usado em casos de emergências alérgicas e pode ser aplicado até pelo próprio paciente, também é uma alternativa mais acessível aos produtos importados, cujo custo é alto e representa uma grande dificuldade para muitas famílias brasileiras. 

É o caso da autônoma amazonense Carolina Fernanda Soares, de 24 anos, mãe de Maria Flor Soares Bezerra, de 4 anos, que tem alergia severa ao leite de vaca. Carolina relata que, aos quatro meses, a filha precisou tomar fórmula de leite e teve uma leve vermelhidão ao redor da boca. 

Após levá-la ao hospital, a família descobriu que Maria Flor tinha alergia ao leite de vaca, mas até aquele momento, ainda não tinham ideia da gravidade. 

“Quando ela estava com 1 ano e 8 meses, comeu um pão de queijo escondida e, em questão de minutos, o rosto dela começou a inchar. Corremos para o hospital, que ficava a 20 minutos de distância, e quase não deu tempo de chegar, pois já estava evoluindo para um fechamento de glote. Teve todos os sintomas de anafilaxia nesse dia: vermelhidão, coceiras, rosto deformado, espirros, tosse e a glote quase fechando”, relata Carolina.

Na ocasião, Carolina conta que foram necessárias três doses de adrenalina no hospital para estabilizar a filha. Depois, a pequena Maria ainda precisou tomar antialérgicos por alguns dias em casa. E foi a partir desse episódio que a família começou a buscar alternativas que trouxessem mais segurança e praticidade em momentos como esse de corrida contra o tempo. Foi quando Carolina descobriu a caneta de adrenalina. 

Duas canetas para aplicação de antialérgico, com validade de 1 ano, custam em torno de R$ 1.500 a R$ 2.000 fora do Brasil (Foto: Reprodução)

 “Nesse dia em que descobrimos a real gravidade, começamos a pesquisar sobre a caneta de adrenalina. Descobrimos que não tinha no Brasil e que íamos precisar importar, infelizmente. Entramos em contato com algumas empresas que fazem esse intermédio e compramos da Turquia, que oferecia o melhor custo-benefício”, disse. 

Segundo Carolina, duas canetas com validade de 1 ano custam em torno de R$ 1.500 a R$ 2.000 e, dependendo da empresa, só parcelam em até duas vezes. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o paciente só pode ter acesso a partir de judicialização. 

Por conta do alto custo e de toda a burocracia para a aquisição da caneta, Carolina revela que precisa sempre se planejar com antecedência financeiramente, abrindo mão de outras aquisições para dar prioridade à segurança da filha. 

Esperança

Mas essa situação pode mudar em breve. É o que afirma o líder do grupo que desenvolveu a caneta nacional, Renato Rozental, que explicou que os pesquisadores estão em busca de parceria com laboratórios para a produção em larga escala do produto e registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

A caneta foi apresentada durante o 51º Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia, ocorrido entre os dias 14 e 17 de novembro, em Salvador (BA). Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Fábio Kuschnir, apresentou a jornada para chegar ao protótipo e o desenvolvedor da caneta, Renato Rozental, mostrou o processo para chegar ao dispositivo. 

“Uma vez aprovado pela Anvisa, qualquer brasileiro poderá ter acesso a essa caneta injetável por um preço infinitamente menor do que os praticados pela importação ou através de judicialização”, disse Rozental.

Também esteve presente durante a apresentação a representante da Anvisa, Isabella do Carmo Gomes, gerente de avaliação, segurança e eficácia da direção geral das drogas, que apresentou o tripé para a aprovação de novos medicamentos.  

A Asbai informou que o dispositivo será analisado pela agência reguladora. “Esperamos que em breve tragamos ótimas notícias sobre o assunto”, comentou a entidade nesta semana. Os pesquisadores estimam que o produto nacional seja vendido por R$ 400, e a ideia é que o medicamento esteja disponível em cerca de 11 meses. 

Principais 'vilões'

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Fábio Kuschnir, houve um “aumento exponencial” de alergias no Brasil – incluindo casos de anafilaxia. Ele afirma que os alimentos figuram, no país, como a principal causa de alergia entre crianças – sobretudo leite e ovo.

“Essa criança com alergia alimentar fica muito mais exposta na rua do que quando está dentro de casa. Com isso, a qualidade de vida de toda a família fica muito ruim. Eles vivem esperando uma reação grave. Temos casos de crianças que caminham pela sessão de laticínios do mercado e têm reação”, comentou.

Entre adultos, a principal causa de alergia, de acordo com Kuschnir, são medicamentos – sobretudo analgésicos e anti-inflamatórios, remédios que sequer exigem prescrição médica no ato da compra. Antibióticos também respondem por um número considerável de casos de alergia na população adulta, além de alimentos como crustáceos e mariscos.

“Essa reação (anafilaxia) causa choque anafilático, uma queda de pressão abrupta e muito grande, que faz com que o sangue não circule pelo corpo e não chegue ao cérebro. O organismo libera uma substância chamada histamina, que causa uma reação generalizada e pode afetar pele e pulmão, além de causar broncoespasmo e edema de glote, fechando as vias aéreas superiores”, explicou.

Segundo a Asbai, a adrenalina é atualmente o único medicamento disponível no mercado capaz de tratar casos de anafilaxia. "Se eu começo a ter uma reação dessa e aplico a adrenalina, no prazo de um a cinco minutos, reverto quase totalmente o quadro de anafilaxia – ou permito que essa pessoa vá ao hospital completar o tratamento”, frisou Kuschnir, destacando que a adrenalina reverte todos esses sintomas de alergia severa.

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