Avaliação é de analistas políticos e de um membro da campanha do candidato bolsonarista, derrotado pelo atual prefeito
Deputado também defendeu voto contra a regulamentação da reforma, quando sete dos oito deputados do Amazonas disseram não ao texto por considerarem prejudicial à ZFM (Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
O voto contrário do deputado federal Alberto Neto (PL) à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Reforma Tributária, que era favorável à Zona Franca, pesou para a derrota dele na disputa para a prefeitura de Manaus. Essa é avaliação de analistas políticos e de um aliado que trabalhou na campanha do bolsonarista.
O fato ocorreu há mais um ano, em 6 de julho de 2023. Na ocasião, ele foi o único deputado federal do Amazonas a dizer não à PEC 45/2019, que não só alterava o sistema tributário brasileiro e mantinha a Zona Franca na Constituição, como incluía novas garantias e melhorava a segurança jurídica do modelo, conforme economistas ouvidos por A CRÍTICA à época.
Naquela ocasião, Alberto Neto justificou o voto com a afirmação de que o texto não estava maduro e que não se podia "dar um tiro no escuro". Por outro lado, havia uma orientação de Jair Bolsonaro, presidente de honra do PL, para que os deputados do partido votassem contra. O parlamentar do Amazonas optou por esse caminho.
Outro peso nessa conjuntura foi um vídeo postado por Alberto Neto do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, anunciando apoio à candidatura do bolsonarista em Manaus. O estado é reconhecido interessado na redução dos incentivos fiscais para a Zona Franca de Manaus, já que também abriga importantes polos industriais.
Na coletiva após o resultado do segundo turno, Alberto Neto falou sobre o assunto, defendendo seu voto em 2022.
Já no projeto de lei complementar 68/2024, de regulamentação da reforma tributária, a avaliação dos parlamentares do Amazonas é que a Zona Franca perderia com o texto. Sete dos oito deputados federais, incluindo Alberto Neto, votaram contra. A Exceção foi Silas Câmara (Republicanos), criticado pelo posicionamento anti-ZFM.
O prefeito David Almeida também tinha à disposição o histórico do próprio embate que teve com Jair Bolsonaro em 2022, quando o ex-presidente editou decretos que reduziam o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que, na prática, tiravam competitividade da Zona Franca.
Embora fosse eleitor declarado de Bolsonaro, David Almeida fez críticas a ele e não participou de um evento com o ex-presidente no dia da Marcha para Jesus de 2022, em Manaus. "Estou com tranquilidade, porém, não vou deixar de cobrar sobre os decretos, porque sou representante do povo do Amazonas", pontuou à epoca, enquanto Alberto Neto e Wilson Lima estiveram com Bolsonaro.
Um aliado de Alberto Neto que trabalhou na campanha deste ano afirmou que o voto contra a reforma tributária pró-ZFM pesou para ele. "A nossa avaliação interna é que pesou, sim. Fizemos denúncia no Pardal [da Justiça Eleitoral] de que a campanha contrária distribuiu panfletos no Distrito Industrial dizendo que o Alberto era contra a Zona Franca", afirma a fonte.
"Esse apoio do Tarcísio, por exemplo, era para mostrar que os principais expoentes da direita chancelavam ele, mas os adversários acabaram explorando de maneira negativa", acrescenta.
Apesar disso, a avaliação geral no QG de Alberto Neto é que a força da máquina pública municipal foi a definidora da eleição. "Vimos asfaltamento de ruas, entrega de viaduto, de outras obras. Isso pesa na imagem do eleitor. Nós não tínhamos promessa para os nossos aliados, não prometemos cargos, iluminação em ruas. Era todo mundo com Deus, Pátria e Família no coração", comenta.
Outro fator que explica a derrota, na avaliação desse aliado, é a alta abstenção no segundo turno. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 23,29% dos eleitores não foram às urnas, totalizando 330 mil pessoas. O número é três vezes maior que a diferença entre David Almeida e Alberto Neto, de 96 mil votos.
"Esse feriadão prolongado atrapalhou. A gente identificou queda em pesquisas internas já na quarta-feira, um dia antes do feriadão. E esse prolongamento do feriado foi decretado pela prefeitura e pelo governo estadual", diz.
Parte do resultado na eleição também se explica pela presença da vice de Alberto Neto, a empresária Maria do Carmo Seffair. Ao abandonar a pré-candidatura à prefeitura e compor a chapa bolsonarista, ela prometeu "não ser um abajur" e foi protagonista de muitos momentos da campanha - positiva e negativamente.
"A professora Maria é muito competente, mas não tem o traquejo político, a rapidez de resposta que o político precisa ter. Naquele debate em que foi acusada de dever o IPTU, ela devia ter dito de cara que devia, mas que estava parcelado. Ela só foi falar isso depois. O corte para as redes sociais já estava feito", avalia o aliado.
Um fator extra que pode ter sido um tiro no pé, conforme Ademir Ramos, é a aposta de Alberto Neto em polarizar a disputa municipal. "Ele tentou se colocar como o representante da direita, ideologizar a disputa. Quem é da esquerda, vota na esquerda. Isso não foi bom para ele. O David acertou em se apresentar como alternativa a isso", afirma.
Diretor da Pontual Pesquisas, Eric Barbosa avalia que a derrota de Alberto Neto pode ser explicada por um conjunto de fatores. “Acredito que pesou a questão da Zona Franca. O uso da máquina também é inevitável e dá muita força a quem tem isso. Outras questões são a polêmica do IPTU com a vice dele e a polarização entre direita e esquerda na eleição. Se você é da direita e busca esse eleitor, automaticamente não tem o voto da esquerda”, disse.
Apesar da derrota e do voto contrário na reforma tributária, o pesquisador avalia que Alberto Neto ainda sai com força para as próximas eleições. O candidato teve 479.297 votos. O pensamento futuro é em 2026, quando haverá disputa para o governo do Amazonas e o Senado.
Na coletiva após o resultado das urnas, Alberto Neto afirmou que pode ser candidato ao Senado se Jair Bolsonaro assim pedir. O martelo ainda não está batido, mas o aliado ouvido pela reportagem considerou que um palanque de disputa ao governo poderia ser mais favorável a Bolsonaro, que está inelegível, mas sonha em reverter o quadro e disputar a presidência em 2026.