Cidade é uma das capitais onde o presidente e o ex-presidente não conseguem emplacar os seus candidatos a prefeito
(Foto: Divulgação)
Na chamada capital bolsonarista, ainda é incerta a ida do candidato Capitão Alberto Neto (PL), apoiado por Jair Bolsonaro, ao segundo turno. No sábado, o parlamentar recebeu o ex-presidente pela segunda vez em Manaus, em uma cartada final para tentar se garantir na segunda fase do pleito. Já o candidato de Lula, Marcelo Ramos (PT), corre distante do segundo turno sem conseguir transferir para a campanha a melhora da economia nacional e nem reduzir a sua rejeição na cidade.
As pesquisas mais recentes têm colocado o prefeito David Almeida (Avante) como garantido no segundo turno, com Roberto Cidade (União) e Amom Mandel (Cidadania) disputando a segunda posição. Em alguns levantamentos, porém, Alberto Neto aparece em empate duplo ou triplo para ir a um novo turno.
Três pesquisas divulgadas em 25 de setembro apresentaram resultados diferentes. A Atlas/Intel (nº AM-02999/2024) mostra Alberto Neto (22,9%) na segunda posição, empatado na margem de erro com Amom Mandel (19,2%). Na Futura (nº AM-08625/2024), quem aparece em segundo é Roberto Cidade (26,3%), seguido por Alberto Neto (14,7%). Na Perspectiva (nº AM-09920/2024), é Roberto Cidade (21%) em segundo, seguido por Alberto Neto (14,4%). David Almeida lidera todos. Marcelo Ramos aparece em quinto lugar em todas.
Problemas locais
Historicamente, as eleições municipais têm menor influência do cenário nacional e da disputa entre esquerda e direita. O fenômeno explica também o fato de alguns candidatos identificados com uma ideologia estarem em partidos que, nacionalmente, estão mais relacionados a outra visão de mundo.
“A eleição municipal, historicamente, se descola da federal. Os problemas e as alianças locais suplantam as questões nacionais. Podemos considerar que o resultado da eleição presidencial é um indicativo, mas só isso. Na hora do voto, os problemas locais, como mobilidade, saúde e até buracos nas ruas acabam pesando muito na mente do eleitor”, avalia o cientista político e consultor em pesquisas eleitorais e de marketing, Gilson Gil.
A Atlas/Intel aferiu os principais problemas apontados pelos manauaras. A criminalidade é o mais citado (67,8%), seguido por saúde (55,3%), corrupção (31,6%), educação (30%), engarrafamentos (21,6%) e poluição (16,8%), dentre outros.
O levantamento também mediu a imagem de líderes políticos pela população. O ex-presidente Jair Bolsonaro é visto de maneira positiva por mais da metade (52%) do eleitorado. Já 43% o rejeitam. Com Lula, o cenário se inverte. Ao menos 34% dos manauaras têm uma imagem positiva do petista, ante 60% que o veem negativamente.
‘Direita se partiu’
Na eleição de 2022, Bolsonaro perdeu no Amazonas, mas levou 61,28% dos votos em Manaus, o que deu a alcunha a cidade de “capital bolsonarista”. Lula foi a escolha de 38,72% do eleitorado manauara naquela ocasião. O resultado animou candidatos bolsonaristas para o pleito de 2024, mas um fator fez reduzir essa força: a divisão da direita na cidade.
“Temos de pensar que a direita amazonense se partiu. Roberto Cidade e Alberto Neto são a direita local e, juntos, pelas pesquisas, têm cerca de 40% dos votos. Por problemas de negociação, saíram separados, o que fez com que tivessem menos votos. Porém, ainda mostram certa força. O capitão, inclusive, está subindo nas pesquisas”, afirma.
Parte dessa divisão se explica pelo vice de Roberto Cidade, o coronel Alfredo Menezes, que se apresenta como amigo de Bolsonaro e que tentou ser o candidato bolsonarista do pleito, mas foi preterido em favor de Alberto Neto.
Durante a primeira vinda de Bolsonaro a Manaus em 2024, na Arena Amadeu Teixeira, a expectativa era lotar o espaço com 10 mil pessoas. Era o lançamento da pré-candidatura de Alberto Neto. Ao final, a estimativa foi de 5 mil pessoas presentes. O episódio rendeu uma ‘direta’ de Menezes, que falou que se Bolsonaro quisesse lotar a arena deveria estar com Roberto Cidade.
Estratégia evita a ‘polarização’
O sociólogo Gilson Gil destaca a estratégia do líder nas pesquisas em Manaus, David Almeida, que já se disse eleitor de Bolsonaro, mas, ao longo do mandato, se aproximou ainda mais dos senadores Omar Aziz (PSD) e Eduardo Braga (MDB), figuras próximas a Lula. O prefeito chegou a chamar o petista de “estadista” após ser recebido por ele para tratar de um deslizamento de terra que matou oito pessoas em Manaus, em 2023.
“O prefeito David evitou focar no tema federal, apesar de ter elogiado Bolsonaro antes. Aceitou o apoio da esquerda, via Omar e Eduardo, reduzindo a identificação com essa briga nacional, o que parece estar dando resultado. Mostrou que, nem sempre, tal identificação é uma garantia de votos de eleições passadas”, comenta o sociólogo.
Outro nome que cresceu nas pesquisas e pode ir para o segundo turno, Roberto Cidade também evita focar na polarização Bolsonaro x Lula, embora tenha o bolsonarista Alfredo Menezes como vice. No caso de Roberto, porém, o padrinho é o governador Wilson Lima, que tem empenhado a máquina estatal em favor do seu candidato.
“O Cidade está fazendo uma campanha com muita estrutura. São milhares de pessoas contratadas, fora os servidores que estão, abertamente, fazendo campanha. É uma estrutura de mídia e de rua muito grande. Além disso, a presença do Alfredo Menezes faz ele se aproximar da direita. Está focando em temas locais, evitando agredir Lula”, pontua o cientista político.
Rejeição elevada impacta candidatura
Candidato de Lula, Marcelo Ramos é o mais rejeitado do pleito, segundo as principais pesquisas. A imagem negativa reflete o fato de o presidente petista também ser mal visto por mais da metade dos manauaras, como apontou pesquisa citada anteriormente.
O candidato tem apostado em colar a imagem ao presidente, citando marcos da cidade que foram obras das gestões petistas. Alguns exemplos são a ponte Rio Negro, a Arena da Amazônia, o conjunto habitacional Viver Melhor e a prorrogação da Zona Franca de Manaus. A estratégia, porém, não funcionou até aqui.
“O Lula perdeu na capital, em 2022, e Marcelo perdeu para deputado. Ele não elegeu nem o irmão para vereador. A rejeição ao Marcelo já era muito alta antes da eleição. Além disso, ele começou muito agressivo, batendo em todos e só falando de Lula, sem expor suas ideias. Some-se a isso o fato dele ter sido imposto ao PT, criando certo racha nas bases, que demoraram a aceitá-lo. A eleição não foi suficiente pra Marcelo ‘limpar' a imagem dele e de Lula”, avalia o cientista político.