Manaus é a que figura melhor no ranking. Já o município de Coari, segundo mais rico do Amazonas, ficou em último lugar
Dados do novo índice de desenvolvimento sustentável feito pelo projeto de extensão Atlas ODS (Foto: Nilton Ricardo)
Nenhum dos municípios do Amazonas apresentou números ideais de desenvolvimento sustentável, segundo o novo índice de desenvolvimento sustentável lançado nesta terça-feira (29) pelo projeto de extensão Atlas ODS Amazonas, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). O objetivo da plataforma é apontar quais municípios estão mais próximos de cumprir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) com prazo para 2030. Entre os indicadores estão combate à fome, pobreza e desastres naturais e medição dos serviços de saúde, educação e saneamento básico.
O destaque vai para o município de Coari (a 363 km de Manaus), que ficou em último lugar em desenvolvimento sustentável apesar de ser a segunda maior economia do estado, perdendo apenas para a capital. A terra do gás natural somou 41,13 pontos em uma escala de zero a 100 produzida pelo grupo de pesquisa, ficando atrás de municípios relativamente pobres como Lábrea, Boa Vista do Ramos, Nova Olinda do Norte, Eirunepé, Apuí, Maraã, Atalaia do Norte, Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira.
Em comparação, o PIB do município no ano de 2021 foi de R$ 3,3 milhões, de acordo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti). Naquele ano, a cidade só perdeu para Manaus, que teve PIB de R$ 103,2 milhões.
Segundo os dados divulgados no site oficial do Atlas ODS Amazonas, Coari teve desempenho próximo do máximo em somente dois dos 42 indicadores analisados: educação de qualidade (84 pontos) e saúde de qualidade (80 pontos). A análise identificou que 23 indicadores apresentaram nota abaixo dos 36 pontos, com destaque negativo para o aumento das taxas de feminicídio entre 2000 e 2019, crescimento insatisfatório do PIB per capita real, altos níveis de poluição hídrica, baixa participação de mulheres na política e carência nos sistemas de controle interno.
A revelação de Coari surpreendeu o pesquisador Bruno Lorenzi, que faz parte do grupo que idealizou o índice ODS para os municípios a partir do estudo desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2018. Segundo ele, os números de todas as cidades são bastante baixos e “estão bastante distantes do atingimento das metas da agenda 2030”.
Bruno Lorenzi, pesquisador do Atlas ODS Amazonas (Foto: Nilton Ricardo)
Segundo ele, o estudo mostra que há uma tendência de municípios que vivem na região metropolitana seguirem um padrão mais elevado no desenvolvimento sustentável, mas há algumas exceções.
No ranking geral, a capital Manaus ficou em primeiro lugar com 66,39 pontos, obtendo desempenho máximo em oito dos 42 indicadores analisados. Dentre os indicadores que se destacaram positivamente podem ser verificados os números de dentistas e de farmacêuticos para cada mil, já que o município apresenta valores que atendem à meta proposta pela Organização Mundial de Saúde. Também colaborou para a boa composição do índice o fato de a Prefeitura de Manaus possuir Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos.
Por outro lado, alguns indicadores apresentaram desempenhos insatisfatórios, como o baixo percentual de mulheres candidatas à prefeitura da capital. Uma reportagem de A CRÍTICA mostrou que a eleição municipal de 2024 foi a terceira consecutiva a não ter mulheres na cabeça de chapa. O atlas constatou ainda que apesar da importância nacional do Polo Industrial de Manaus, poucas entidades são certificadas em Sistema de Gestão Ambiental e Sistema de Gestão de Qualidade.
Durante a apresentação do projeto, o grupo anunciou que irá buscar as prefeituras do interior do estado para apresentar meios de melhorar esses indicadores. A ideia é buscar novos dados que não estão nas bases dos governos federal e estadual, construindo uma parceria com os municípios e monitorar “junto com eles os indicadores”.
O coordenador técnico do grupo, pesquisador Danilo Egle, afirmou que, possivelmente a partir de 2025, o Atlas ODS Amazonas irá lançar um projeto de pactos com os municípios. O site passará a mostrar um painel e “toda vez que o município assinar um pacto de melhoria dos indicadores, a gente acende ele no mapa. Isso é bem legal, porque é um compromisso que o gestor público vai firmar com a sociedade”. A ideia é que os indicadores da pesquisa sejam ampliados para os 772 municípios da Amazônia Legal.
Danilo Egle, coordenador técnico do Atlas ODS Amazonas (Foto: Nilton Ricardo)
A expansão para melhorar o desenvolvimento sustentável do interior já foi iniciada, segundo Bruno Lorenzi. Em Coari, a participação ocorreu dentro do projeto IDH+, do Ministério Público do Amazonas (MP-AM), que lançou a proposta na terra do gás natural em abril deste ano.
Até o momento, a Prefeitura de Manaus não teve uma reunião com o grupo por ter os melhores índices, mas o secretário interino de Meio Ambiente, Igor Costa, participou da primeira parte do evento.
O coordenador do projeto e presidente do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Henrique Pereira, lamentou que a maior parte dos índices nos municípios do Amazonas ainda sejam os mesmos do último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010. Ele pediu ainda que as prefeituras sejam transparentes quanto a seus dados para que se possa construir melhorias para os municípios.
Henrique Pereira, coordenador do projeto e diretor do Inpa (Foto: Nilton Ricardo)