Representantes de auditores fiscais confirmaram risco de cargas não chegarem em Manaus devido à greve
Um dos objetivos da greve dos auditores fiscais da Receita Federal é a recomposição salarial. (Foto: Daniel Brandão)
O coordenador nacional do Comando Nacional de Mobilização (CNM) da greve dos auditores fiscais da Receita Federal, Marcus Dantas, afirmou que se o movimento continuar por mais algumas semanas, há o risco de os navios de carga deixarem de desembarcar nos portos de Manaus. A greve começou em 26 de novembro de 2024 e segue por tempo indeterminado.
O presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco) no estado do Amazonas, Marcos José Neto, destacou que a mobilização ocorre após o governo federal assinar um acordo com todas as categorias do funcionalismo público comprometendo-se a abrir mesas de negociações para tratar das pautas das categorias. Segundo ele, os auditores fiscais não tiveram sua mesa de negociação aberta.
Um dos objetivos da greve, de acordo com o presidente, é a recomposição salarial. O salário dos auditores fiscais está congelado desde 2016, na época da presidência de Michel Temer (MDB). Apesar do reajuste linear para todos os servidores em 2023, ele afirma que as perdas salariais não foram recuperadas.
Como não podem paralisar totalmente suas atividades, a categoria funciona com operação-padrão nas aduanas, enquanto no setor de arrecadação estão mantidos o funcionamento de 30% das atividades, como determinado pela lei. Marcus Dantas explicou que a operação-padrão das aduanas, que controla a entrada e saída do país, deixa a fiscalização ainda mais rigorosa, deixando contêineres parados por mais tempo.
Atualmente, existem nove auditores fiscais entre os quase 160 que atuam diretamente na liberação de cargas nos portos e no aeroporto de Manaus. O presidente do Sindifisco no Amazonas afirmou que há pelo menos 50 declarações de importação que precisam ser analisadas por cada auditor. No movimento grevista de 2022, chegou a ter 500 declarações paradas, mas a intenção é de que não chegue a esse número em 2025.
Os representantes explicaram que essas declarações são divididas entre diferentes níveis: verde, cinza e vermelho. Uma equipe da Receita Federal em Brasília decide como cada declaração deve ser analisada. Durante a greve, a maioria das fiscalizações vai para o canal vermelho, onde a fiscalização é muito mais acirrada e demorada, com vistoria física e análise documental.
A demora já está sendo sentida na capital amazonense. Segundo o presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros (Sidam), Marcelo Barbosa Peixoto, os terminais tiveram mais de 180 canais vermelhos desde o fim de 2024.
O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus (CDL/Manaus), Ralph Assayag, confirmou a demora na liberação das cargas devido ao excesso de canais vermelhos. O dirigente defendeu que o governo federal ouça as demandas dos sindicalistas para que o serviço seja normalizado.
O presidente-executivo do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Lúcio Flávio, afirmou que o setor vem sendo afetado desde dezembro devido a cargas retidas, prejudicando as linhas produção. Segundo ele, algumas fábricas instaladas na cidade já paralisaram suas linhas e perderam vendas e contratos já firmados.
A reportagem procurou o Ministério da Gestão e Inovação nos Serviços Públicos, chefiado pela ministra Esther Dweck. Em nota, o MGI afirmou que o acordo com as entidades representativas dos auditores da receita foi fechado em fevereiro de 2024, “em uma mesa específica e temporária de negociação que tratou da regulamentação do bônus, com impacto financeiro para os servidores já em 2024, resultando em remuneração total para o topo da carreira de auditor fiscal podendo alcançar R$ 42,7 mil”.