COP-30

Organizações veem nomeação de embaixador para comando da COP-30 como positiva

Entidades indígenas e ambientalistas repercutiram nomeação de André Corrêa

Lucas dos Santos
21/01/2025 às 18:26.
Atualizado em 21/01/2025 às 18:26

André Corrêa, embaixador que irá presidir a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Organizações indígenas e ambientalistas reagiram positivamente à nomeação do embaixador André Aranha Corrêa do Lago para presidir a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorrerá em novembro na capital paraense de Belém (PA). Em nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) saudou a nomeação do embaixador, destacando sua “ampla experiência em negociações e na agenda climática”.

Com a saída dos EUA do Acordo de Paris, a Apib defendeu que “os países precisam se comprometer em reduzir ainda mais suas taxas de emissão de CO²”. No entanto, a instituição lamentou que o governo federal não tenha atendido à demanda de indicar uma pessoa indígena para presidir a COP30.

“A Apib reafirma sua reinvindicação por esse papel, destacando a importância central dos povos indígenas na proteção dos biomas, da biodiversidade e, consequentemente, do equilibro climático. Nosso conhecimento ancestral e a defesa de nossos territórios são essenciais para enfrentar a crise climática global e garantir um futuro sustentável a todos”, escrevem.

A diretora-executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, afirmou que a nomeação de André Corrêa foi recebida com bons olhos “após uma série de presidências da COP alinhadas a empresas de petróleo e gás”, a exemplo do comando da COP29 em Baku, no Azerbaijão.

“Corrêa do Lago terá uma grande responsabilidade pela frente: em um mundo polarizado, com os Estados Unidos - o segundo maior emissor do mundo de gases do efeito estufa - deixando o Acordo de Paris, enquanto vemos os eventos extremos se intensificarem, será necessária muita habilidade para que avanços cruciais aconteçam”, disse.

Pasquali afirma que o maior desafio do embaixador será imprimir a urgência da transição para um mundo sem combustíveis fósseis e viabilizar recursos para países em desenvolvimento em meio a um cenário político controverso. Para o site Amazônia Vox, o coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Toya Manchineri, a escolha de Corrêa demonstra um esforço do governo, mas não garante os povos indígenas como ponto central da discussão climática.

“Sendo uma COP na Amazônia, é imprescindível que nossa voz, como guardiões históricos das florestas, esteja no centro do debate e das decisões. Por isso, a Coiab reivindica a copresidência da COP30, para assegurar que as soluções discutidas partam de quem vive e protege a floresta e defende o clima todos os dias. Sem isso, qualquer avanço será superficial, pois a crise climática exige soluções construídas com a nossa participação”, disse.

Manchineri aponta essa necessidade ainda mais após o “discurso negacionista” de Donald Trump, que defendeu maior exploração de petróleo e assinou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris.

Presidência

A nomeação do embaixador André Corrêa foi feita nesta terça-feira (21) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao lado das ministras do Meio Ambiente (MMA) e das Relações Exteriores (MRE), Marina Silva (Rede) e Maria Laura da Rocha, que está substituindo temporariamente o chanceler Mauro Vieira. Na mesma oportunidade, a secretária nacional de Mudança do Clima do MMA, Ana Toni, foi anunciada como diretora executiva da COP30.

Corrêa do Lago tem experiência em temas de meio ambiente, desenvolvimento sustentável e mudança do clima e foi o negociador-chefe do Brasil em fóruns internacionais sobre o tema entre 2011 e 2013 e em 2023 e 2024. Ana Toni tem longa trajetória direcionada ao fomento de projetos e políticas públicas voltadas à justiça social, meio ambiente e mudança do clima.

Os dois integraram ativamente a delegação oficial brasileira da COP29, realizada em novembro de 2024, em Baku, no Azerbaijão. Em entrevista à imprensa, o embaixador agradeceu a confiança do presidente Lula e disse que o Brasil pode ter um “papel incrível” na COP deste ano, que, segundo ele, será construída com diversos atores – governo, sociedade civil e empresariado.

“Durante esse período preparatório nós vamos ter muito diálogo com a sociedade civil porque é essencial que eles estejam envolvidos no processo. Porque, como na RIO-92 são as populações que tem que acreditar nessa agenda [de combate a mudanças do clima] e que tem que contribuir para que essa agenda dê certo”, disse.
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