Número deste ano é um pouco maior do que o de 2020 quando nove candidatos concorreram a vereador na capital
Manaus possui o maior bairro indígena do Brasil o Parque das Tribos, mas não conta com representantes dos povos originários no Legislativo (Foto: Ascom/TRE-AM)
Nas eleições deste ano, 11 indígenas concorrem a uma vaga na Câmara Municipal de Manaus. A cidade é a que possui a maior população indígena do país, segundo o Censo 2022 (71 mil pessoas), mas tem zero representatividade no Executivo e Legislativo municipal. O número de candidaturas deste ano é um pouco maior que no pleito de 2020, quando nove indígenas colocaram os nomes nas urnas.
Em todo o país, são 2,4 mil candidatos autodeclarados indígenas. Deste total, quase metade (1.008) está na região Norte. Entre as capitais nortistas, a que possui o maior número de candidaturas indígenas é Boa Vista (14), à frente de Manaus. Porto Velho (RO) tem duas; Rio Branco (AC) e Belém (PA) têm uma, cada; e Palmas (TO) e Macapá (AP), zero indígenas.
O número, considerado baixo, se acentua ainda mais ao ser comparado com outros perfis. Em Manaus, as onze candidaturas indígenas representam 1,32% do total de concorrentes à Câmara de Vereadores. A maioria é parda (69,8%) ou branca (21,78%).
Um estudo publicado na revista Resenha & Debate, do Departamento de Antropologia do Museu Nacional, aponta que Manaus nunca teve um vereador indígena, ao menos desde a redemocratização, em 1985.
Para a cacica do bairro indígena Parque das Tribos, Lutana Kokama, a baixa quantidade de candidaturas indígenas e a representatividade zero na Câmara podem ser explicadas por dois fatores: a falta de espaço nos partidos e a divisão dentro do próprio movimento indígena. São mais de 180 povos só na Amazônia, cada um com visões de mundo diferentes.
A população do Parque das Tribos, reconhecido pela prefeitura de Manaus como o primeiro bairro indígena da cidade, é de cerca de 5 mil indígenas. O número representa 7% do total de 71 mil indígenas registrados pelo Censo 2022 na capital do Amazonas, o que reforça a presença de outras populações originárias em diferentes regiões da metrópole.
A socióloga Valéria Marques, indígena do povo Baniwa, diz que a eleição de representantes das populações originárias é essencial para garantir políticas que considerem a diversidade da população amazonense.
Candidatos à CMM autodeclarados indígenas: Poliana Lima (Novo); Dra. Lúcia Oliveira (PCdoB); Cláudia Tikuna (PDT); Dody Comapa (PDT); Pastora Lane Kokama (PP); Josue Kokama (PP); Professor Vander Lourenço (PRTB); Patrícia Carvalho (PT); Cacique Agenor (PT); Anne Moura (PT); Vanda Witoto (Rede).
Sem candidato
Independente do resultado da eleição neste ano, Manaus terá, por mais quatro anos, um prefeito não-indígena. Dos sete candidatos ao cargo de gestor municipal, três se declaram brancos, três pardos e um preto.
Desde 2016, quando os candidatos passaram a poder indicar a raça ou etnia na candidatura, Manaus não teve nomes indígenas à disposição para chefiar o Executivo municipal.
Para a cacica Lutana Kokama, o cenário volta a ser difícil para os indígenas. Embora haja candidaturas com discurso pró-indígena, a liderança do Parque das Tribos diz que muitos indígenas ainda não decidiram o voto.
Dos sete planos de governo apresentados pelos candidatos à prefeitura, quatro citam a palavra ‘indígena’ ou ‘indígenas’. São elas: Alberto Neto (PL), Amom Mandel (Cidadania), David Almeida (Avante) e Gilberto Vasconcelos (PSTU). A maioria não apresenta propostas específicas para essa população. Já outras três candidaturas sequer mencionam os indígenas nos planos entregues ao TSE. São as de Marcelo Ramos (PT), Roberto Cidade (União) e Wilker Barreto (Mobiliza).