ENTREVISTA

Omar Aziz afirma que no AM existe esquema de venda de terras

Senador também acusou cartório de Manaus de estar envolvido em atos criminosos

Lucas dos Santos
online@acritica.com
01/08/2024 às 15:54.
Atualizado em 01/08/2024 às 16:06

Omar Aziz (Foto: Senado Federal)

O senador Omar Aziz (PSD) afirmou que existe um esquema de venda de terras do estado do Amazonas e da União para que empresas captem créditos de carbono que deveriam ser usufruídos pela população local. Segundo ele, grandes empresários compram milhões de hectares de terras “com anuência de amazonenses”. A declaração ocorreu entrevista a uma rádio local. 

“Está cheio de picareta, é o nome mesmo que eu vou dar, picaretagem, vendendo terras do estado e da União, título sobre título, cartórios sendo utilizados e fazendo parte de uma quadrilha que está vendendo crédito de carbono que é da população do país, do estado do Amazonas, dos povos tradicionais, dos povos originários, e eles não usufruem disso, e grandes empresários picaretas comprando milhões e milhões de hectares aqui”, disse.

O senador afirmou que a operação mais recente sobre o tema, a Greenwashing, foi apenas “um pingo de água nesse oceano de bandidagem” e que a Polícia Federal deveria “ir para cima” e realizar vistoria em todos os cartórios do Amazonas.

“É uma brincadeira o que cartório faz aqui. Você tem um título, o cara vai lá, registra em nome de outro e fica por isso mesmo. Eu já fiz uma denúncia ao corregedor do Conselho Nacional de Justiça, eu espero que essa correição seja feita imediatamente. Os cartórios estão fazendo esse tipo de coisa, bandalheira!”, criticou.

Omar Aziz disse ainda que há um lobby de empresários que se apropriam de áreas na região do Amazonas, que ficam com milhões dos créditos de carbono sem investir nas terras e nas populações que moram no local.

“Se a gente for vender o crédito de carbono e ficar distribuído com aquela população, com os caboclos, os indígenas, que cuidaram da Amazônia, que vivem de forma paupérrima hoje, eu ficaria calado. Não há isso. Querem dar um salário mínimo e ficam com milhões e milhões todo ano sem botar um prego lá dentro, só comprando a área, com a anuência de alguns cartórios. Tem algum aqui em Manaus que já era pra ter sido fechado há muito tempo que é useiro e vezeiro de fazer isso”, disse.

O senador não revelou o nome do cartório na entrevista, mas disse que levou a situação para o corregedor Luís Felipe Salomão e para o futuro corregedor, o amazonense Mauro Campbell.

Cancelamento

Em julho deste ano, o desembargador Jomar Fernandes, corregedor-geral de Justiça do estado do Amazonas, proferiu duas decisões cancelando as matrículas de três imóveis registrados em cartórios nos municípios de Boca do Acre e Lábrea, que chegavam a 241,7 mil hectares. As terras são de propriedade da União. 

Ele também determinou o bloqueio de todas as matrículas de imóveis registradas nos cartórios extrajudiciais de Lábrea e Apuí com mais de 50 mil hectares após alerta do Juízo da 7ª Vara da Justiça Federal sobre as investigações deflagradas pela Operação Greenwashing, que apurou a prática de grilagem e ocupação de terras públicas no sul do Amazonas. 

Os responsáveis pelos cartórios extrajudiciais dos dois municípios foram instados a repassar as informações sobre esses imóveis à CGJ, que promoverá as correições especiais em 60 dias. 

A fiscalização da Justiça, no início do processo, confirmou a grave situação das comarcas, especialmente a de Lábrea, onde havia “fortes indícios de abertura de matrículas de imóveis de forma irregular, além de notícias de grilagem de terras da União, desmatamento florestal e suspeitas de atuação ilegal de agentes policiais”.

No caso do bloqueio das matrículas de imóveis registrados em Lábrea e Apuí, o desembargador afirmou que trata-se de uma medida de precaução para o momento devido à operação da PF.

“De acordo com a autoridade policial que preside o inquérito, a organização criminosa investigada atua especialmente nos municípios de Lábrea e Apuí, grilando terras e fraudando documentos públicos. Essa organização estaria se utilizando de mecanismos para proporcionar uma aparência de legalidade e legitimidade a títulos que se referem a áreas pertencentes à União Federal”, apontou.

Greenwashing

Deflagrada no Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho, a operação desarticulou uma organização criminosa que vendeu cerca de R$ 180 milhões em créditos de carbono de áreas da União invadidas.

A investigação apurou que o esquema fraudulento se estendeu por mais de uma década e começou no município de Lábrea com a duplicação e falsificação de títulos de propriedade. Nos últimos três anos, a ação criminosa se expandiu para Apuí e Novo Aripuanã. Entre as irregularidades identificadas estavam a emissão de certidões falsas por um servidor da Secretaria de Terras do Estado do Amazonas (Sect-AM), sobreposição de registros e apropriação indevida de terras públicas.

O dano ambiental provocado pelas atividades criminosas foi avaliado em R$ 606 milhões, além da obtenção de R$ 820 milhões em terras griladas pela organização.

Créditos

Normalmente, o processo para se obter créditos de carbono é complexo e pode durar anos. A empresária Janaina Dallan, diretora da Carbonext, uma das empresas vencedoras da licitação promovida pelo governo do Amazonas para desenvolver projetos em unidades de conservação, elencou que o processo para geração dos créditos é extremamente trabalhoso.

“A gente começa com uma análise de terras. Você me manda essa terra, eu vou fazer uma diligência fundiária, vou ver se o seu título é real. A gente faz toda uma análise até o destaque do Estado, para quem passou, qual a cadeia que aconteceu. De 42 milhões de áreas que a gente analisou aqui, 2 milhões viraram projeto. 40 milhões a gente já descartou por não ter toda essa segurança jurídica na terra, porque no Brasil você sabe que é um problema sério”, disse.

Além da análise de terras, é verificado se a área está em conflito com uma área pública, floresta nacional ou reserva ambiental. Se estiver, ela não poderá ser utilizada para gerar crédito de carbono.

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