CONSEQUÊNCIAS DA ESTIAGEM

Navios de carga cancelam ida a Manaus e Abac vê risco de desabastecimento

Solução anunciada pelo governo federal, dragagem ainda não começou

Waldick Junior
waldick@acritica.com
09/10/2023 às 19:57.
Atualizado em 09/10/2023 às 19:57

Assoreamento do rio Amazonas causa transtornos para embarcações (Foto: Aliança / Divulgação)

O assoreamento do rio Amazonas, por causa da extrema seca, fez dois navios de carga cancelarem viagens previstas para Manaus, nesta semana. Pelo menos outras três embarcações devem fazer o mesmo nos próximos dias, segundo nota da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (Abac). O governo federal anunciou a dragagem (escavação) dos rios, mas o serviço ainda não começou e deve durar pelo menos 45 dias, segundo estimativa oficial.

“São pelo menos cinco navios a menos chegando a Manaus por conta da seca, porque a praticagem, seguindo orientação que entendem que a Capitania dos Portos deu, mas não há clareza, está limitando a passagem de navios com até 7,30 metros [de profundidade]. É uma questão operacional, porque esses barcos já não têm condições de navegar. Não temos mais como ir a Manaus”, disse para A CRÍTICA o diretor-executivo da Abac, Luis Fernando Resano.

De acordo com ele, o cenário, considerado o mais crítico até aqui, torna mais real a possibilidade de desabastecimento na capital do Amazonas.

“O problema que vai acontecer é que vai começar a faltar as coisas. Vão ter que mandar de avião, chamar a Força Aérea para levar aí. E será que vão dar conta de levar tudo? Esses navios transportam de tudo, arroz, feijão, é difícil dizer até o que pode faltar. E não é que vai faltar por causa daquele navio que não foi, mas porque o estoque já poderia estar baixo”, afirma.

Os dois trechos com maior dificuldade de navegação são a Enseada do Madeira, no rio de mesmo nome, e no Tabocal (entre Manaus e Itacoatiara, no rio Amazonas). No último dia 27 de setembro, o governo federal anunciou obras de dragagem nesses dois locais e em um terceiro, no rio Solimões, entre Tabatinga e Benjamin Constant. 

“A informação extraoficial que tive é que daqui a duas semanas deve ter a draga no local. É tarde. A draga já devia estar lá na posição para fazer um canal que permita aos navios fazer a passagem pelo trecho do rio”, afirma o representante da Abac.

Dragagem

Anunciados há duas semanas, quando o Ministério dos Transportes assinou o contrato, os serviços de dragagem dos rios ainda não começaram. De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit), as máquinas já estão no local, mas ainda aguardam o trabalho de batimetria (medição da profundidade do rio), que não começou.

“O DNIT informa que as máquinas estão no local. O Departamento já tem a  Licença Ambiental Única, emitida pelo Ipaam [órgão ambiental estadual] e também a autorização pré-dragagem da Marinha. A supervisora, cujo contrato foi publicado hoje (9), irá iniciar os trabalhos de batimetria para que seja possível iniciar a dragagem”, diz nota enviada à reportagem. A dragagem no rio Solimões é avaliada em R$ 18 milhões. Nos rios Madeira e Amazonas, um total de R$ 100 milhões. 

Transporte

Presidente da Câmara dos Lojistas de Manaus (CDL), Ralph Assayag diz que a empresa Aliança, que fazia transporte de cargas, parou de trazer containers a Manaus. Agora, apenas uma empresa opera com navios menores, a Log-In. O cenário tem provocado aumento no preço dos produtos, mas ele ainda não vê desabastecimento.

“O pessoal da praticagem, que cobrava R$ 80 mil para trazer um navio até Manaus, agora cobra R$ 800 mil para uma viagem de três, quatro dias de Belém a Manaus. Isso deixa os produtos mais caros e estamos brigando para reduzir esses valores. Sobre desabastecimento, ninguém sabe. Se ficar secando até dezembro, vai chegar um momento que não vem mesmo. Mas até agora ainda estão chegando navios”, afirma ele.
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