Qualidade do ar

Fumaça invade São Gabriel da Cachoeira; ‘serras desapareceram’

Na manhã desta terça-feira (27), comunidades indígenas da região publicaram nas redes sociais vídeos de uma ‘nuvem tóxica’ que encobre a zona urbana e as terras indígenas

Waldick Júnior
waldick@acritica.com
27/08/2024 às 15:51.
Atualizado em 27/08/2024 às 15:51

(Foto: Ana Amélia Hamdan/ISA)

A população de São Gabriel da Cachoeira, município no extremo noroeste do Amazonas, também inala fumaça de queimadas ilegais. Na manhã desta terça-feira (27), comunidades indígenas da região publicaram nas redes sociais vídeos de uma ‘nuvem tóxica’ que encobre a zona urbana e as terras indígenas. São Gabriel da Cachoeira é considerado o município com a população mais indígena do país, segundo o Censo de 2022. 

A região é uma das que ainda não possui estações de monitoramento da qualidade do ar pelo Sistema de Eletrônico de Vigilância Ambiental (Selva), utilizado como referência no Amazonas. Por essa razão, não é possível aferir com precisão o nível de material particulado no município, mas os relatos dão conta de que a situação é crítica e não começou agora. 

“Estamos há uns três meses na comunidade Açaí-Paraná com essa fumaça impactando a gente. Não dá para ver o outro lado do rio e o calor também está muito alto, e aumentando. Aqui o rio começou a baixar bastante e já aparecem os bancos de areia. A expectativa é que seja uma seca grande novamente”, afirma o comunicador indígena Rosivaldo Miranda, do povo Piratapuia.

A nuvem tóxica também afeta a terra indígena Yanomami, que se estende do município até Roraima e é considerada a maior do país em extensão territorial. O comunicador indígena Alex Lins relata o problema. “Mais uma vez fumaça chegou aqui na comunidade Maturacá, na terra indígena Yanomami. A fumaça já acobertou a nossa floresta, as nossas serras estão desaparecidas por conta da fumaça”.

Em consulta ao BD Queimadas, plataforma de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a reportagem verificou que houve registro de cinco focos de calor durante agosto, em São Gabriel da Cachoeira. O município responde por 0,1% dos focos no Amazonas, o que levanta a possibilidade de a fumaça ser proveniente de outras regiões.

No Amazonas, os cinco municípios que respondem por 68,4% dos registros de focos de calor, em agosto, são: Apuí, Lábrea, Novo Aripuanã, Manicoré e Humaitá, todos na região sul do estado. Segundo analistas, por exemplo, a fumaça que atinge a capital, Manaus, é proveniente desses municípios.

A reportagem procurou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de São Gabriel da Cachoeira e aguarda retorno. Também houve pedido de nota para o Ministério do Meio Ambiente. O espaço continua aberto para manifestações.

Questionado por A CRÍTICA sobre a fumaça em São Gabriel da Cachoeira, o governo do Amazonas informou que, segundo dados da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), uma frente de massa de ar vinda do sudoeste do Brasil “chegou em Manaus de segunda-feira (26) para terça-feira (27), trazendo consigo material particulado oriundo das queimadas do sul do Amazonas e estados vizinhos e, também, de parte da Bolívia”.

(Foto: Ana Amélia Hamdan/ISA)

Sem citar São Gabriel da Cachoeira, a gestão estadual afirma que “desde 03 de junho até o dia 25 de agosto, o Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) já combateu 10.451 focos de incêndio na capital e interior. Com o reforço de mais 200 bombeiros enviados na segunda-feira (26) principalmente para o sul do Amazonas, o efetivo estadual empregado nas ações de combate às queimadas conta atualmente com cerca de 600 homens”, finaliza a nota.

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