DEBATE

Fake news do PIX e ‘libera geral’ da Meta acentuam debate sobre regulação das redes

Presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-AM diz que debate sobre regulação das redes sociais precisa ocorrer e contar com a sociedade

Waldick Junior
online@acritica.com
15/01/2025 às 18:07.
Atualizado em 15/01/2025 às 18:38

Regulação das redes sociais no Brasil volta a ser tema de debate por conta de polêmica envolvendo a fake news e a multinacional Meta (Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil)

A propagação de informações falsas que levou o governo a revogar ampliações na fiscalização do PIX e as mudanças nas diretrizes da Meta — empresa responsável pelo Facebook, WhatsApp e Instagram — que permitirão comentários homofóbicos, xenofóbicos e misóginos, intensificaram o debate sobre a regulação das redes sociais no Brasil.

O tema ainda divide a opinião popular, mas especialistas do direito digital defendem que o debate precisa ocorrer com urgência. Na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei das Fake News está parado desde o ano passado. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), anunciou um grupo de trabalho que ainda não saiu do papel. O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), relator do texto, disse ao jornal O Globo não ver horizonte para discussão do projeto.

Já no Supremo Tribunal Federal, o julgamento sobre o Marco Civil da internet está parado desde o fim do ano passado, após um pedido de vistas do ministro André Mendonça. O julgamento definirá se as plataformas terão responsabilidade sobre o que é publicado nas redes, incluindo mentiras. Os ministros Dias Toffoli, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso deram votos divergentes, mas no sentido de que deve haver alguma responsabilização.

Presidente da Comissão de Direito Digital, Startups e Inovação da Ordem do Advogados do Brasil (OAB) no Amazonas, o advogado Aldo Evangelista lembra que ainda não há uma legislação específica sobre fake news no Brasil. “O que se tem utilizado são os crimes contra a honra, como calúnia, injúria e difamação, quando alguém sofre alguma fake news”.

Omissão

Na avaliação dele, o assunto sobre regulação das redes sociais e a desinformação sofrem com uma omissão do Congresso Nacional, responsável por legislar e fomentar o debate por meio de audiências públicas, por exemplo. 

“É por conta dessa omissão que há, no STF, uma Ação Direta de Inconstitucionalidade em relação ao artigo 19 do Marco Civil da internet. Ele diz que os provedores de aplicativos não são responsáveis pelo conteúdo, mas sim nós, os produtores. Caso seja declarado inconstitucional esse artigo, então os provedores de aplicativos, que são as big techs, o Instagram, o Facebook, em geral, passam a ser responsabilizados”, explica.
“O STF até protelou o julgamento deste processo, porque ele existe muito antes da pandemia, aguardando que o Congresso Nacional legislasse sobre o assunto. Como não ocorreu, o STF tomou para si esse julgamento e que agora está em andamento na Corte”, complementa.

Meta

Mark Zuckerberg, dono da Meta, anunciou o fim das agências de checagem de fatos nas redes e a moderação da empresa sobre o conteúdo

O debate sobre liberdade de expressão nas redes também ganhou força em outros países após o dono da Meta, Mark Zuckerberg, anunciar o fim das agências de checagem de fatos nas redes e a moderação da empresa sobre o conteúdo. O anúncio ocorreu um dia após o republicano Donald Trump ter a eleição confirmada para a presidência dos Estados Unidos, demonstrando um alinhamento do empresário junto à política trumpista, já apoiada pelo bilionário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter).

“Isso é um retrocesso. Assim é avaliado por todos os estudiosos da área do direito digital. O Zuckerberg anunciou essa mudança iniciando pelos Estados Unidos e lá o número de pesquisas buscando por como encerrar contas no Facebook e no Instagram aumentou, assim também pessoas buscando outras alternativas de provedores de aplicativos”, diz.

Sobre o PIX

Receita Federal revogou um ato normativo que estendia o monitoramento das transações financeiras, que visava combater casos de sonegação; Medida foi alvo de fake news de que haveria um novo imposto sobre o PIX

Nesta quarta-feira (15), a Receita Federal revogou um ato normativo que estendia o monitoramento das transações financeiras de usuários a bancos digitais, fintechs e instituições de pagamento, sobre valores acima de R$ 5 mil por mês. A medida, que visava combater casos de sonegação, se espalhou como uma fake news de que haveria um novo imposto sobre o PIX.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou ainda que o governo Lula editará uma medida provisória para reforçar que não pode haver diferença no valor cobrado em PIX e e dinheiro, incluindo a proibição de qualquer imposto sobre o meio de transação que se tornou o mais utilizado pelos brasileiros.

"A MP reforça os princípios tanto da não oneração da gratuitidade do Pix quanto das cláusulas de sigilo bancário do Pix, objetos de exploração por parte dessas pessoas que estão cometendo um crime", disse Haddad.
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