repúdio

Entidades repudiam processo da Ufam contra professora que auxiliou indígenas Mura

Universidade é alvo de críticas desde que firmou acordo para prestar apoio aos projetos da empresa

Lucas dos Santos
online@acritica.com
16/09/2024 às 17:54.
Atualizado em 16/09/2024 às 17:54

Universidade Federal do Amazonas (Foto: Michael Douglas)

O Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e o Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Ufam emitiram notas criticando a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) por abrir um procedimento administrativo (PAD) contra a professora Caroline Nogueira após ela prestar assessoria a indígenas do povo Mura.

Uma denúncia anônima afirmou que o Observatório de Direito Socioambiental e Direitos Humanos na Amazônia (ODSDH), vinculado à Ufam e do qual a professora Caroline Nogueira faz parte, prestou assessoria jurídica à Organização de Lideranças Indígenas Mura de Careiro da Várzea e à Comunidade Indígena do Lago dos Soares, especialmente em processos movidos contra a empresa Potássio do Brasil.

Em nota conjunta, a SBPC e a ABA demonstraram perplexidade após a corregedoria da universidade dar seguimento a denúncia e destacaram que a Constituição Federal dá liberdade de “prender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber”.

“Denúncias como a presente, que buscam inibir legítima atuação profissional de professora e pesquisadora, devem ser arquivadas de imediato, de modo a evitar o efeito silenciador que a prática busca alcançar. As contratações e adesões firmadas pela gestão financeira e administrativa das universidades certamente não impõem limites às áreas de ensino, pesquisa e extensão, seja no plano profissional, seja no plano ético. As universidades, portanto, devem estar atentas ao seu regime de liberdades, por ele zelando em todas as frentes, especialmente em face do poder econômico”, dizem.

O Programa de Pós-Graduação em História manifestou apoio irrestrito à professora. Seus membros declararam estar indignados “ao saber que nossa instituição, historicamente comprometida com a defesa da justiça social em todas as suas formas” deu seguimento à denúncia contra Caroline Nogueira.

“Acreditamos que o trabalho da Profa. Caroline Nogueira é exemplar e está em plena consonância com nosso papel social enquanto servidores públicos e docentes universitários amazônidas: defender, de forma incondicional, os interesses dos povos originários”, concluem.

Procurada por A CRÍTICA, Caroline informou que não poderia se aprofundar sobre o assunto por estar “concentrando esforços para oferecer as informações solicitadas sobre o tema ao órgão competente” e que ainda não tem maiores informações sobre o procedimento.

A reportagem também procurou a Universidade Federal do Amazonas por meio de sua assessoria de comunicação, a qual afirmou não poder responder a tempo da publicação da matéria, mas que logo daria retorno com as informações solicitadas.

Críticas e pedidos

Após o acordo entre a Ufam e a Potássio do Brasil se tornar público, a universidade foi alvo de fortes críticas. Em maio de 2023, a Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (Famddi) publicou uma carta aberta condenando a posição da instituição. 

Em resposta, a Ufam informou que “aproximadamente uma centena de cientistas da Instituição trabalha para elaborar, com imensa responsabilidade e comprovada expertise, o Plano Básico Ambiental (PBA) do Projeto Autazes Sustentável, que visa transformar os municípios de Autazes e Careiro da Várzea em municípios autossustentáveis, concebidos para atender às cidades e aos povos tradicionais”.

Em junho deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou que a universidade anule o termo de cooperação firmado com a Potássio do Brasil após investigações de um inquérito civil apontarem irregularidades no projeto Autazes Sustentável. O órgão manifestou preocupação com os povos indígenas da região e apontou que havia pesquisadores e docentes que não consentiram com a participação no projeto.

“O Autazes Sustentável apresenta diversas inconsistências e potenciais violações aos direitos territoriais dos povos indígenas e à legislação ambiental. A recomendação visa assegurar que a Ufam e outras partes envolvidas cumpram rigorosamente os princípios da prevenção e precaução ambiental, garantindo a proteção das comunidades afetadas e do meio ambiente," afirmou o procurador da República Igor Jordão Alves, que assina a recomendação.
Assuntos
Compartilhar
Sobre o Portal A Crítica
No Portal A Crítica, você encontra as últimas notícias do Amazonas, colunistas exclusivos, esportes, entretenimento, interior, economia, política, cultura e mais.
Portal A Crítica - Empresa de Jornais Calderaro LTDA.© Copyright 2024Todos direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por