Carros-chefes do governo brasileiro, planos de transição ecológica e compensação por florestas tropicais ainda têm poucos detalhes, avaliam especialistas
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou sobre o plano de transição ecológica na economia (Foto: Reprodução / COP28 / United Nations Climate Change)
Dubai - O governo brasileiro apresentou, nesta sexta-feira (1), durante a Conferência das Partes (COP 28), em Dubai, dois planos que devem ser os carros-chefes do país para reduzir a influência negativa sobre a mudança climática. O primeiro prevê uma transformação ecológica na economia brasileira, exigindo mais de US$ 1 trilhão em investimentos, e o segundo, de teor global, propõe um fundo destinado a países que protejam suas florestas.
Embora ambos os projetos já tivessem sido anunciados no Brasil, o governo buscou levar as duas propostas como vitrine na COP para se mostrar preocupado com o tema. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou sobre o plano de transição ecológica na economia ao lado da ministra Marina Silva, do presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, e da presidente do banco dos BRICS, Dilma Rousseff.
O plano está estruturado em seis eixos: financiamento sustentável, desenvolvimento tecnológico, bioeconomia, transição energética, economia circular e infraestrutura e adaptação às mudanças do clima.
Além do citado mercado de carbono, estão incluídas a criação de núcleos de inovação tecnológica nas universidades, a ampliação de áreas de concessões florestais, a eletrificação de frotas de ônibus, o estímulo à reciclagem e obras públicas para reduzir riscos de desastres naturais.
Segundo o ministro, o plano está em “processo evolutivo e buscará se adaptar a novos paradigmas”. Ele ressaltou que estudos da iniciativa privada já preveem que a transformação ecológica poderia gerar entre 7,5 a 10 milhões de empregos em todos os setores, principalmente em bioeconomia, agricultura e infraestrutura. O custo ficaria entre US$ 130 a US$ 160 bilhões por ano na próxima década, elevando o total a mais de US$ 1 trilhão no período.
Diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética, organização da sociedade civil que promove debates sobre o tema, Rosana Santos diz que o plano apresentado pelo governo “é um passo na direção certa” e que vem para “dar um rumo” ao país, servindo como marco do Brasil no tema. Ressalta, porém, que ainda carece de detalhes.
Rosana destaca que o Brasil já está em uma posição considerada positiva ao se tratar de transição energética. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mais de 60% do total de energia consumida no país vem de hidrelétricas, uma fonte renovável. Porém, segundo a diretora-executiva, é necessário continuar avançando
A especialista sugere que o país poderia, por exemplo, utilizar essa base mais verde já existente, considerando que o Brasil tem uma energia menos poluente, para agregar valor a produtos oriundos da indústria brasileira no mercado mundial.
Ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva também apresentou aos participantes da COP 28 uma proposta do Brasil para a criação de um fundo destinado a países que conservam suas florestas. A meta inicial é captar US$ 250 bilhões para até 80 países.
Nomeado Fundo Floresta Tropical para Sempre (FFTS), o programa ainda deverá receber contribuições de outros países com florestas tropicais. Antes da COP 28, ele já foi apresentado a nações que integram a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).
Caso seja criado, o novo fundo internacional deverá ter o Brasil como um de seus principais recebedores de recursos, considerando que o país possui a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, e já conseguiu reduzir o desmatamento no bioma em 22%, entre agosto de 2022 e julho deste ano.
Parte da comitiva brasileira na COP 28, em Dubai (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Segundo o governo, o novo fundo internacional deve ser semelhante ao Fundo Amazônia, programa brasileiro que recebe aportes internacionais e financia projetos de conservação da floresta e de iniciativas que visam o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis na região.
*O repórter de A CRÍTICA que assina esta matéria viajou a Dubai a convite do Instituto Clima e Sociedade (ICS)