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Candidatos apelam à guerra santa no 2º turno em busca de votos para alcançar a vitória

David Almeida recebe apoio de mais igrejas e palanque de Alberto Neto tem discurso de bem contra o mal na eleição

Waldick Júnior
waldick@acritica.com
19/10/2024 às 09:39.
Atualizado em 19/10/2024 às 09:44

Em evento de David com evangélicos, o deputado Silas Câmara cita Satanás e pede voto no prefeito. (Foto: Divulgação)

Os candidatos à prefeitura de Manaus, que têm disputado o status de conservador de direita a despeito dos problemas da cidade, agora apelam ao ‘voto religioso’ para alcançar a vitória no segundo turno. Nesta semana, os dois palanques reuniram lideranças políticas e evangélicas que discursaram sobre o que entendem como uma “guerra santa” no pleito municipal. A eleição é no próximo dia 27 de outubro.

O discurso mais fervoroso foi do deputado federal Silas Câmara (Republicanos), da Assembleia de Deus. Em um evento com o prefeito David Almeida, o parlamentar usou uma série de analogias bíblicas para exaltar o atual prefeito e disse que o candidato à reeleição é o primeiro gestor evangélico da cidade em 38 anos.

“Olhem para mim. Isso não é uma eleição. Isso é uma guerra espiritual onde o inferno e Satanás estão decididos, enganando aqueles que são salvos, retirar da cadeira de governador deste município um servo de Deus e colocar alguém que vocês não conhecem”, apelou o deputado. O trecho virou peça de campanha do atual prefeito.

Já na sexta-feira (18), David Almeida publicou um vídeo desejando ‘feliz sábado’ aos seguidores com uma imagem do pôr do sol na praia da Ponta Negra. A publicação contava com um versículo bíblico na legenda e uma música evangélica ao fundo do post. Além da Assembleia, ao longo da campanha, o prefeito, que é adventista, também conquistou o apoio de líderes desta denominação, do Ministério da Madureira e Ministério Internacional da Graça de Deus. 

Na quinta-feira, o prefeito veiculou um direito de resposta nas contas de Alberto Neto, que tem chamado David Almeida de “pinóquio manauara” e o acusado de defender pautas contrárias ao conservadorismo cristão. Na publicação, Almeida diz que é “um cristão conservador que não guia sua conduta por ideologias radicais, sejam elas de direita ou de esquerda”. 

Na outra face da moeda, Alberto Neto também tem apostado na imagem religiosa. A começar pela sua biografia nas redes sociais, na qual ele se apresenta como “cristão conservador”. No último dia 15 de outubro, o candidato participou de um evento em Manaus com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, no qual ficou evidente o apelo ao voto evangélico. A senadora Damares Alves (republicanos-DF), que é pastora, também esteve presente. 

Ficou a cargo de Michelle, assim como ocorria na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, fazer a ponte com a população cristã. “O outro lado tem o projeto de avançar com tudo o que é do mal”. E acrescentou, “nós estamos aqui, hoje, numa corrente de bem e vamos sair daqui impulsionados, com esperança de dias melhores para esse estado tão maravilhoso”.

Comício de Alberto Neto tem discurso de bem contra o mal proferido pela ex-primeira-dama. (Foto: Tadeu Rocha/Assessoria)

Além das lideranças nacionais, Alberto Neto tem recebido o apoio de vereadores eleitos pela base evangélica, e que se pautam pela agenda conservadora na Câmara Municipal. É o caso de Raiff Mattos (DC), Marcel Alexandre (PL) e João Carlos (Republicanos).

O cientista político Ademir Ramos, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), avalia que “a disputa em Manaus tem tido um caráter medieval”. Para ele, os candidatos calculam que o conservadorismo ainda tem força no eleitorado. A memória da eleição de 2022, quando Bolsonaro ganhou em Manaus, também está viva.

“A primeira coisa a dizer é que este é um cenário medieval. Segundo, os postulantes partem do princípio de que Manaus é uma cidade bolsonarista, e eles têm razão quanto a isso, porque Bolsonaro ganhou em Manaus enquanto o Lula perdeu, em 2022. Por causa disso, cada um quer ser mais bolsonarista, mais de direita”, avalia.

Para ele, o posicionamento neste campo ideológico passa pelo conservadorismo e pela imagem de um candidato cristão, “apesar de nem todo evangélico ser de de extrema-direita, de direita ou de esquerda”. Além disso, para o cientista político, os candidatos já perceberam que a disputa apertada será decidida por esse eleitorado.

“Quem é de esquerda, apesar dos tropeços do David Almeida, deve optar por ele e não por Alberto Neto. Mas há uma parcela do eleitorado cristão que não é de extrema-direita, de direita. Temos uma diversidade de igrejas e a opção que esse eleitorado fizer vai definir esta eleição”, comenta.

Para além dos interesses dos políticos, Ademir Ramos destaca o que pode explicar a posição das lideranças evangélicas de decidirem apoiar um ou outro candidato. “As igrejas pretendem se beneficiar. Há uma série de possibilidades. Suspensão de impostos, valorização dos seus vereadores, prestígio dos pastores junto à gestão municipal e de atendimento a seus fieis. Até mesmo em nível federal, por exemplo, já temos atendimento do governo dentro de igrejas. Do Bolsa-Família, por exemplo”, pontua.

Voto progressista importa

A candidatura considerada de uma frente de esquerda no pleito deste ano foi a do ex-deputado federal Marcelo Ramos (PT), que terminou em quinto lugar com 66 mil votos. Além dele, o eleitorado progressista se dividiu entre o deputado federal Amom Mandel e, em pouco mais de mil votos, o candidato Gilberto Vasconcelos. 

Em uma eleição com disputa voto a voto, o cientista político Marcelo Seráfico avalia que essa população também deve ser considerada. Apesar disso, ele avalia que ao menos o eleitor de esquerda já deve ter uma opção definida.


“O eleitor progressista tem poucos caminhos a seguir diante dessa situação em que os dois candidatos se situam no mesmo polo, que é o do reacionarismo. Os progressistas podem votar nulo, branco ou se abster. Agora, aqueles que pretendem evitar o que consideram pior, vão avaliar os argumentos. O que eu diria é que é improvável um eleitor dito progressista votar em uma candidatura apoiada pelo ex-presidente Bolsonaro”, comenta.

“Se esse eleitor não votar, talvez tenha um pouco de paz de espírito por não ter feito ele a escolha, mas eu diria que é uma situação lamentável e que precisamos observar por qual motivo os partidos progressistas, não digo nem da esquerda, não estão conseguindo ter eco eleitoral. Os três mais votados nesta eleição são da direita. Isso deveria levar a algum tipo de preocupação do campo progressista”, afirma.

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