ENTREVISTA DA SEMANA

Baixa adesão à vacina expõe impacto da desinformação sobre imunizantes

Em entrevista, a diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde diz que os governos federal, estadual e municipal precisam reforçar a importância da imunização contra a desinformação

Waldick Júnior
09/02/2025 às 08:55.
Atualizado em 09/02/2025 às 09:07

(Foto: Jeiza Russo / A Crítica)

Em meio ao aumento de casos de doenças respiratórias no Amazonas, o Estado decidiu ampliar a campanha de vacinação até julho devido à baixa adesão ao imunizante. Inicialmente prevista para encerrar em 31 de janeiro, a campanha atingiu apenas 47% de cobertura vacinal, um número bem abaixo do mínimo de 75% e do ideal de 90%.

Em entrevista para o acritica.com, a diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), Tatyana Amorim, destacou que a hesitação vacinal ainda é fortemente influenciada pela desinformação disseminada sobre os imunizantes.

Segundo ela, a vacinação é fundamental para que o estado consiga enfrentar os períodos sazonais de vírus respiratórios, especialmente diante da possibilidade de eventos climáticos extremos prolongarem esses ciclos.

Além disso, Tatyana Amorim abordou a situação da dengue no Amazonas e compartilhou orientações para prevenir a doença. Confira a entrevista completa.

 1. O número de 39 casos confirmados de covid-19 até o final de janeiro reflete a realidade? Qual a possibilidade de subnotificação e qual a importância desse monitoramento?

Estamos enfrentando um período de sazonalidade para vírus respiratórios e para arboviroses, especificamente a dengue. Com relação à covid-19, temos observado um aumento de casos nas últimas semanas de janeiro. Durante esse período, que vai de janeiro até maio, diversos vírus respiratórios estão em circulação, como o Sars-CoV-2, rinovírus, adenovírus, metapneumovírus e para-influenza. O Sars-CoV-2 continua circulando desde o início da pandemia e, neste momento, está se sobrepondo aos outros vírus respiratórios. Como estamos enfrentando esse aumento, precisamos adotar todas as medidas preventivas já conhecidas.

A Vigilância em Saúde tem essa preocupação e esse compromisso de manter uma vigilância ativa em todos os 62 municípios do estado, por meio dos pontos focais das Vigilâncias em Saúde municipais. Cada município possui sua estrutura de Vigilância em Saúde, que remete informações para nós. Além disso, contamos com a Vigilância Laboratorial, que recebe amostras do interior e as analisa no Laboratório de Saúde Pública Central, permitindo a identificação dos vírus em circulação.

Graças a essa Vigilância Laboratorial, conseguimos confirmar que o Sars-CoV-2 tem se sobressaído em relação a outros vírus respiratórios. É importante destacar que, comparando janeiro de 2025 com janeiro de 2024, houve uma redução de aproximadamente 22% nos casos, mas ainda assim é essencial adotar medidas preventivas. Seguimos monitorando por meio da Vigilância Genômica para identificar a variante em circulação. No entanto, a sociedade também precisa fazer a sua parte. Se alguém apresentar sintomas respiratórios, é essencial proteger os outros, evitando dispersar o vírus no ambiente e utilizando álcool gel.

2. O estado está bem abastecido com testes para covid-19?

Todos os municípios do estado possuem testes rápidos para identificação da covid-19. Eles estão abastecidos, orientados e capacitados. A rede assistencial está qualificada e treinada para receber pessoas com sintomas respiratórios e oferecer as orientações e os cuidados adequados. Também temos medicamentos antivirais tanto para influenza quanto para covid-19, e a rede está devidamente abastecida.

3. Quais são as principais medidas de prevenção contra vírus respiratórios?

Se apresentarmos sintomas respiratórios, como tosse, devemos evitar dispersar o vírus no ambiente. O uso de máscaras cobrindo nariz e boca é fundamental para proteger tanto os outros quanto as superfícies ao redor. A higienização das mãos com álcool gel também é essencial para eliminar o vírus caso tenhamos tocado em superfícies contaminadas. Além disso, a etiqueta respiratória é importante: ao tossir, devemos cobrir a boca com a dobra do cotovelo. Outro fator essencial é a vacinação, que reduz os riscos de agravamento da doença.

4.  Sobre imunização, a campanha de vacinação contra influenza foi estendida até julho. A meta é 90% de cobertura, mas estamos em 47%. A que se deve essa baixa adesão?

Houve um período de grande desinformação, e precisamos reforçar a importância da vacina. Esse é um esforço conjunto entre Ministério da Saúde, governos estaduais e prefeituras. Trabalhamos para aumentar a adesão por meio de estratégias de microplanejamento e combate à desinformação. Vacina é ciência, e a ciência traz benefícios.

5. Como a FVS trabalha para combater a desinformação sobre vacinas e fortalecer a confiança na imunização?

A Fundação atua por meio do nosso Programa Estadual de Imunização, que trabalha estratégias de microplanejamento junto às secretarias municipais. Isso significa que desenvolvemos ações específicas conforme as necessidades e características de cada região.

Um dos principais eixos desse trabalho é o combate à desinformação. Para isso, utilizamos os veículos de comunicação, assessorias, a sociedade e os próprios profissionais de saúde. Existe toda uma rede atuando nesse sentido, pois a desinformação precisa ser combatida em paralelo com as demais estratégias de imunização.

6. Em relação à dengue, estamos vendo um aumento de casos. Como está esse cenário?

Atualmente, temos uma tendência de aumento nos casos de dengue. Em 2024, enfrentamos um surto de Oropouche, mas, em 2025, já temos 344 casos confirmados de dengue. A doença é endêmica, e estamos monitorando os sorotipos circulantes, que atualmente são o 1 e o 2. Os municípios estão orientados e já emitimos notas técnicas com diretrizes para o controle da doença.

7. Quais são as orientações gerais para a população sobre a dengue?

O principal é eliminar criadouros do mosquito Aedes aegypti, evitando água parada. Reservatórios de água devem ser mantidos fechados, garrafas devem ficar viradas para baixo e pneus devem ser armazenados de forma que não acumulem água. Pequenos esforços semanais ajudam a reduzir a proliferação do mosquito.

8. As mudanças climáticas podem influenciar no aumento de doenças como dengue e viroses respiratórias. A FVS está atenta a isso?

Nos próximos anos, enfrentaremos eventos climáticos extremos. O governo do Estado já tomou iniciativas, como a criação do Comitê de Enfrentamento para Crises Relacionadas a Eventos Extremos Climáticos.

Na Fundação de Vigilância em Saúde, temos grupos de pesquisa intersetoriais, atuando em parceria com órgãos como a Secretaria de Meio Ambiente e a Defesa Civil. O objetivo é identificar o impacto desses eventos extremos na saúde, considerando fatores físico-químicos, ambientais e até mesmo o desmatamento.

A mudança no habitat natural de vetores, por exemplo, pode trazer novos desafios. Precisamos entender esses impactos e trabalhar para minimizá-los. Estamos desenvolvendo estudos nas áreas de vigilância ambiental e epidemiológica para ajustar estratégias e reduzir os efeitos dessas mudanças climáticas na saúde.

9 . Esse trabalho de pesquisa busca entender um cenário que já está posto. Como isso pode, de fato, se refletir em uma política? O que pode ser alterado no trabalho da FVS em relação a esse ponto?

Podemos, por exemplo, aprimorar estratégias de controle vetorial. Sabemos a quantidade de vetores que circulam no estado, e hoje utilizamos estratégias específicas para controlá-los. No entanto, os estudos irão nos mostrar se essas medidas continuam eficazes ou se precisam ser ajustadas.

A pesquisa subsidia a tomada de decisão, mas esse trabalho ainda está em fase inicial. Precisamos estar atentos aos impactos do ambiente na saúde das pessoas e dos animais.

  

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