Entrevista

'A ZFM deve ao compromisso do presidente Lula com o AM’, alega Bosco Saraiva

Superintendente da Suframa afirmou que a manutenção das vantagens comparativas da Zona Franca de Manaus na regulamentação da reforma tributária se deve ao compromisso de Lula com o Amazonas

Lucas dos Santos
politica@acritica.com
29/12/2024 às 09:33.
Atualizado em 29/12/2024 às 09:34

Bosco Saraiva é Superintendente da Zona Franca de Manaus (Suframa) (Junio Matos)

O  Superintendente da Zona Franca de Manaus (Suframa), Bosco Saraiva, afirmou para A CRÍTICA que a manutenção das vantagens do Polo Industrial de Manaus (PIM) na regulamentação da reforma tributária ocorreu graças ao compromisso firmado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o Estado do Amazonas ainda na campanha eleitoral de 2022, além da articulação dos senadores Omar  Aziz (PSD) e Eduardo Braga (MDB),  e da bancada federal.

Ele destacou, na entrevista abaixo, os bons resultados da ZFM, que deve faturar mais de R$ 200 bilhões em 2024, mesmo em meio às fortes atribulações deste ano, como a regulamentação da reforma tributária e a nova seca recorde, e projetou uma perspectiva positiva para 2025.

“Nós deveremos, em 2024, quebrar o recorde de faturamento. Os indicadores dão conta que nós batemos o faturamento de 2023 em outubro de 2024 e já há indicadores do faturamento de novembro, que deve ser em torno de R$ 17 bilhões. Portanto, deve fechar aí próximo de R$ 190 bilhões de faturamento. Esse número não está fechado ainda, mas nós estamos fechando, os indicadores dão conta disso. Nós deveremos ultrapassar os R$ 200 bilhões de faturamento em 2024”, disse. 

Foi um ano positivo para a Zona Franca de Manaus, mas também um ano bastante atribulado pela questão da reforma tributária e da seca. Começando pela reforma, que teve a regulamentação aprovada agora no fim do ano, a quem o senhor atribui a manutenção das vantagens da ZFM?

Ao compromisso do presidente Lula com o Estado do Amazonas, anunciado desde a campanha eleitoral, mantido na reforma, na PEC [proposta de emenda à Constituição] do ano passado e mantido esse ano na regulamentação da reforma tributária. Sem desprezar, evidentemente, a atuação da bancada federal do Amazonas, coordenada pelo senador Omar Aziz (PSD) e com relatório brilhante do senador Eduardo Braga (MDB) no Senado. O relatório do senador Eduardo Braga mais a articulação da nossa bancada nos garantiu o texto e tudo aquilo que são os ganhos comparativos da Zona Franca de Manaus.

Essa reforma vai ter um período de transição, que foi acordado com o Amazonas para desenvolver bioeconomia e outras atividades sustentáveis. Qual vai ser o papel da Suframa nesse contexto?

Nós temos o papel técnico de trabalhar efetivamente essa regionalização. Nesse período da gestão do governo do presidente Lula, esse período que nós estamos à frente da Suframa, nós promovemos a integração regional efetiva dentro dos estados alcançados pela Suframa, que são Amazonas, Rondônia, Roraima, Acre e Amapá. E nós, tanto no ano passado quanto nesse ano que finda, fizemos este estreitamento de relações institucionais com governos, prefeituras e também com o reforço à gestão das unidades da Suframa que tem nesses estados.

Isso principalmente levando a divulgação e incentivando os institutos, as universidades, as organizações não governamentais a participarem da Lei de Informática da Zona Franca de Manaus, a acessarem os recursos da nossa lei de informática para que eles possam desenvolver industrialmente os nossos produtos regionais. Pesquisar, desenvolver, gerar produto para que possa gerar emprego e renda. Dentro desse contexto, no ano passado tivemos um grande salto com a criação do CBA, o Centro de Bionegócios da Amazônia, que já é um ato do presidente Lula do final de abril do ano passado, e que esse ano avançou muito para que a gente possa, já a partir do próximo ano, com bastante recurso no CBA, trabalhar mais efetivamente nos resultados das pesquisas, do desenvolvimento da ciência local e dos nossos produtos regionais.

 Como o senhor vê o futuro da Zona Franca de Manaus e dessa nova diversificação de negócios após o fim da transição da reforma tributária?

 Nós temos que trabalhar a cada dia. A mudança no contexto da economia mundial ela é diária. Nós temos a garantia [da existência da Zona Franca] até 2073, na Constituição e na regulamentação da reforma tributária, estamos totalmente encaixados aí dentro e nos resta trabalhar o desenvolvimento tecnológico. Esse é o desafio. Esse desafio nós já estamos enfrentando desde o início do ano, com a aprovação da PEC em dezembro do ano passado. 

Nós avançamos no sentido de instalarmos com muita rapidez a indústria 4.0 na maioria das fábricas do Polo Industrial de Manaus. Muitas fábricas já estão trabalhando nesse nível de desenvolvimento tecnológico, com muita automação, no sentido de que nós possamos concorrer com os demais produtos fabricados em outros pontos do planeta, especialmente México e Índia. Nós estamos trabalhando exatamente nesse sentido.

Apesar disso, nós saímos de 110 mil trabalhadores direitos dentro das fábricas para 125 mil trabalhadores, o que reflete exatamente a segurança que a reforma na Constituição nos deu para esse ano. A nossa perspectiva é que, nos próximos três anos, nós possamos receber muitas empresas se instalando no Polo Industrial de Manaus porque veja, os números não mentem, eles são precisos. Nós aprovamos em cinco reuniões do Conselho de Administração da Suframa 150 novos projetos, sendo que 59 são de implantação. São novas empresas que estão se instalando em todos os subsetores: setor de informática, de duas rodas, de eletroeletrônico, do setor termoplástico. E 91 projetos são de diversificação. São novas linhas de produtos, ampliação de fábricas já existentes. 

Então, veja que, dentro dos próximos três anos, nós temos uma projeção por conta desses projetos de um investimento próximo a R$ 5 bilhões, investimento para a implantação desses projetos. E estima-se um faturamento em torno de R$ 25 bilhões só a partir desses novos projetos que serão implantados ao longo dos próximos três anos. Cerca de 4.500 empregos serão gerados diretamente nesses projetos que foram aprovados nas reuniões do Conselho de Administração em 2024.

 Ainda dentro dessa questão da reforma, na regulamentação foram incluídos os refrigerantes e bebidas açucaradas no imposto seletivo. Isso tem algum impacto na produção dos concentrados daqui? Pode haver algum prejuízo para a região?

Os economistas da Suframa não estão vendo nenhum impacto pesado nisso, porque aqui a grande produção é exatamente do xarope, não da bebida. Há, claro, as empresas que fabricam a bebida aqui, mas o impacto nesse caso é o menor possível.

O estado passou pela segunda seca extrema seguida, mas nesse ano o impacto do polo industrial foi atenuado frente a 2023. Onde que a gente precisa avançar para conseguir mitigar ainda mais esses impactos nos próximos anos?

Nós temos a garantia, o contrato do governo federal, do presidente Lula, com a companhia de dragagem pelos próximos cinco anos. Então os dois pontos de estrangulamento, que é a foz do rio Madeira e a Costa do Tabocal, os dois perto de Itacoatiara, que impedem a passagem dos navios de grande calado, estariam efetivamente solucionados com o equipamento de dragagem que chegou lá no local em outubro. Nós não estamos prevendo nenhum tipo de atribulação nesse sentido para carga e descarga, para entrada e saída nos próximos anos. A seca foi menos sentida esse ano foi por causa exatamente de que se tomou conhecimento antes. Em março já se anunciava a grandeza que seria a seca deste ano e isso permitiu que a gente pudesse amenizar. A ação de transbordo do porto flutuante foi muito acertada nesse sentido e as empresas anteciparam a importação de seus insumos.

 O senhor acha que foi essa organização que fez com que, apesar da seca recorde, o faturamento e a geração de empregos na Zona Franca de Manaus também batessem recordes?

 Foi exatamente isso. Todas as medidas conjuntas de empresários, governo estadual e governo federal foram o que fez com que o impacto fosse amenizado, não houvesse solução de continuidade na produção de produtos acabados, tampouco na entrada dos insumos e no seu fluxo de saída também. Houve um aumento dos custos, é público e notório, mas a produção em si, o faturamento em si, se deu exatamente por conta da questão regular de entrega das encomendas dos nossos produtos.

 Um fato que a indústria reclama bastante é a questão da taxa básica de juros Selic, que teve alguns aumentos esse ano. Na sua avaliação, o atual patamar é justificável, bem como os anúncios de mais aumentos no próximo ano?

 O governo federal trabalha exatamente para conter a inflação. Isso é um desafio de todo governo e não é diferente para o governo do presidente Lula. O governo do presidente Lula trabalha exatamente no sentido de conter a inflação. É fundamental para a economia, para os negócios nas tratativas que temos com outros países e isso está sendo cuidado exatamente pelas instâncias econômicas do nosso governo.

Quais são os reflexos dessa política de juros na produção da indústria?

 O contexto geral do Brasil todo se dá dentro da realidade brasileira, não é de hoje que se trabalha para conter a inflação. Nós temos uma situação normalmente instável no Brasil, de idas e vindas, mas graças a Deus nos últimos anos isso tem sido controlado, e evidentemente que cada setor, cada região, trabalha com as suas dificuldades dentro do contexto atual, mas isso não tem freado a indústria brasileira.

 Na sua avaliação, quais serão os resultados da Zona Franca de Manaus em 2024 e o que o senhor espera para 2025?

Nós deveremos, em 2024, quebrar o recorde de faturamento. Os indicadores dão conta que nós batemos o faturamento de 2023 em outubro de 2024 e já há indicadores do faturamento de novembro, que deve ser em torno de R$ 17 bilhões. Portanto, deve fechar aí próximo de R$ 190 bilhões de faturamento. Esse número não está fechado ainda, mas nós estamos fechando, os indicadores dão conta disso. Nós deveremos ultrapassar os R$ 200 bilhões de faturamento em 2024. Para 2025, nós temos a perspectiva positiva de que todos os subsetores, especialmente o setor de informática, possam crescer muito, que nós possamos gerar muito mais emprego no Polo Industrial de Manaus e, com isso, multiplicar os empregos indiretos no nosso estado e na nossa região.

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