Abaixo do radar

Como um avião cheio de cocaína explica o Amazonas entre os cinco estados que mais apreendem drogas

De janeiro a março, foram mais de 16 toneladas apreendidas, conforme levantamento da Secretaria de Segurança Pública. Estimativa pode ser quase meio bilhão em prejuízo ao crime organizado.

Cley Medeiros
online@acritica.com
04/06/2023 às 09:50.
Atualizado em 04/06/2023 às 10:03

(Foto: reprodução)

Para fugir do radar dos órgãos de fiscalização que registram aumento das apreensões de drogas, cada vez mais narcotraficantes se utilizam das áreas de difícil acesso da floresta Amazônica para ocultar as atividades ilícitas.

Um avião monomotor caiu em um trecho do Rio Negro com mais de 300 quilos de maconha do tipo skunk, uma versão mais potente e com maior valor, a 115 quilometros de Manaus, no município de Novo Airão, em 25 de maio deste ano. Cinco dias depois, 480 quilos de pasta-base de cocaína foram encontrados em um avião escondido em uma pista de pouso clandestina no Amazonas, totalizando mais de R$ 80 milhões em drogas.

Essas duas apreensões não fazem parte de um levantamento da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP/AM), do pacote de janeiro a abril, que soma mais de 16 toneladas apreendidas no Amazonas. A estimativa do prejuízo é de R$ 252 milhões para o crime organizado, o maior já registrado desde 2019, quando a operação Hórus teve início. 

Considerando as duas apreensões em aviões durante o mês de maio, esse valor pode saltar para quase meio bilhão de reais em drogas e materias apreendidos da rede do narcotráfico, incluindo equipamentos que facilitaram o transporte das cargas, como aviões, barcos e balsas.

Os moradores da comunidade em que o avião monomotor caiu chamaram os serviços de emergência, depois de ouvir um barulho e observarem o avião afundando, mas após uma  grande quantidade de tabletes de maconha boiar, decidiram também chamar a polícia.

(Foto: Divulgação)

“Três mergulhadores foram ao local e constataram que de fato a aeronave estava na localidade, em uma profundidade aproximada de oito metros, ocasião em que foi realizada a apreensão do restante do material”, disse o delegado Paulo Benelli, adjunto do Departamento de Repressão ao Crime Organizado.

Ninguém foi preso

Assim como na operação que resgatou a maconha que flutuava no Rio Negro, a apreensão de 480 quilos de pasta-base de cocaína, em uma pista de pouso clandestina, também não resultou em prisão. A apreensão ocorreu em um trecho do rio Japurá, chamado de Caquetá na Colômbia. A pasta-base está avaliada em mais de R$ 57 milhões.

A apreensão foi feita pela Operação Ágata - Comando Conjunto Uiara, e contou com apoio de mergulhadores da Marinha do Brasil e agentes da Polícia Federal, que foram transportados por uma aeronave black hawk, usada para acessar áreas de difícil acesso, como se vê na imagem abaixo: 

(Foto: reprodução)

A aeronave, que estava camuflada com galhos secos, apesar de avariada, possuía sistema de comunicação, que foi retirado. Além disso, foi localizado um acampamento, dentro da floresta, com barracas, antena de internet, comida e água frescas, com características de abandono recente, como destacou A Crítica.

Comparativo

A reportagem comparou a quantidade de apreensões no Amazonas com dados de outros  quatro estados com histórico de grandes operações neste ano.

Considerando os números oficiais até agora divulgados, que levam em conta os quatro primeiros meses deste ano, o estado empata com o Paraná nas toneladas apreendidas: 16, e fica na frente de estados como Mato Grosso, Goiás e Rondônia, que somam uma média de cinco toneladas apreendidas até agora. 

São Paulo disputava junto com o Rio de Janeiro o segundo lugar, só perdendo para o Amazonas e o Paraná, na quantidade apreendida neste período, que não ultrapassou 16 toneladas de janeiro a abril, mas, na última semana, São Paulo passou a liderar a lista, com mais de 24 toneladas de drogas tiradas de circulação, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP/SP).

Em todos os casos, houve um aumento no número de apreensões. Um levantamento divulgado pela SSP-AM, aponta um aumento de 47% em relação ao mesmo período do último. No Ceará, esse aumento foi de 188%, embora a quantidade de drogas apreendidas seja inferior aos estados citados nesta matéria, chegando a menos de 3 toneladas. No Paraná, o aumento foi de 60%.

No Amazonas, o esforço dos órgãos de segurança, incluindo o nível federal, está voltado em boa parte para realizar operações antes que a droga seja vendida em pontos das cidades da Amazônia, além de impedir que ela chegue nos aeroportos. 

(Foto: reprodução/Marinha)

O Chefe do Centro Conjunto de Operações Aeroespaciais (CCOA), brigadeiro do ar Francisco Bento Antunes Neto, destacou a importância de uma dessas operação para o controle de atividades ilegais na região de fronteira.

Segundo ele, a Operação Ágata Uiara "é crucial para promover a presença do Estado na região norte do país, contando com o apoio das aeronaves e equipamentos de vigilância em conjunto com as demais Forças Singulares e agências governamentais. A operação reafirma o compromisso da FAB com a soberania do país, destacando o papel das forças armadas na integração, defesa e controle do território nacional". 

De outro lado, mas na mesma sintonia, a operação Hórus, comandanda pela Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, resultou em 184 prisões em flagrante e apreensão de 28 embarcações e 42 veículos.

O secretário de Estado de Segurança Pública, Carlos Alberto Mansur, destacou os números e ressaltou as apreensões realizadas pelas Forças de Segurança.

“Desde o início das atividades da Operação Hórus/Fronteira Mais Segura, no ano de 2019, o quadrimestre de 2023 fechou com recorde de prejuízo ao crime, acarretando um dano superior a R$250 milhões e, por determinação do governador Wilson Lima, as ações para enfrentamento ao crime e ao combate a todos os ilícitos nas regiões de fronteira e divisas do Amazonas serão intensificadas”. Afirmou o secretário.
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