Estudo destaca característica antioxidante e antineoplásica do extrato da casca do caule da planta amazônica
(Foto: Jander Robson)
Há tempos as propriedades medicinais das plantas amazônicas são analisadas em pesquisas científicas pelo Brasil e mundo afora. No uso popular, principalmente nas comunidades ribeirinhas e no interior, é comum o uso de chás, banhos, e óleos extraídos de árvores da região para fins fitoterápicos. A copaíba, por exemplo, é muito utilizada como um anti-inflamatório e, agora, uma pesquisa nova comprovou o possível potencial dessa planta no combate ao desenvolvimento do câncer.
O resultado da “Avaliação do potencial antioxidante de Copaifera multijuga em camundongos portadores de tumor de Ehrlich”, feita com substâncias extraídas (extrato etanólico) da casca do caule da árvore da copaíba, foi publicado em uma recente edição da revista científica Acta Amazônica. Uma das principais publicações do ramo no Brasil que tem como intuito divulgar os estudos relacionados à botânica, às ciências florestais, à ecologia e outras áreas que envolvem o contexto amazônico.
A pesquisa mostrou que o extrato, na concentração de 200 miligramas/kg do animal teve efeitos significativos em camundongos com células tumorais. Segundo os pesquisadores, foram quatro anos até a conclusão desse resultado, que, de acordo com eles, avaliou o potencial farmacológico do extrato da casca de caule da planta.
Os pesquisadores, Adilson Paulo Sinhorin e Valéria Dornelles Gindri Sinhorin, que fazem parte do Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Ciências Ambientais, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT-Sinop), explicaram que eles tinham conhecimento prévio do papel anti-inflamatório do óleo da copaíba, porém, após uma vasta revisão na literatura científica referente aos vários usos e benefícios das propriedades da planta, viram que não havia nada relacionado aos estudos com a casca do caule da árvore.
“O trabalho começou com uma aluna do mestrado em Ciências Ambientais que propôs pesquisar sobre esse tema. A pesquisa iniciou com uma ampla revisão bibliográfica e coleta do material vegetal. Em especial neste trabalho, publicado em janeiro, nós investigamos o efeito de diferentes doses do extrato da casca do caule da copaíba sobre o crescimento do tumor de Ehrlich nos camundongos. Durante o crescimento tumoral também ocorre a produção de radicais livres e há um sistema de defesa dentro do organismo muito importante que são moléculas e enzimas antioxidantes capazes de combater a produção destas substâncias nocivas à saúde do animal. E então observamos que o extrato, na dose de 200 miligramas por quilo, apresentou um bom efeito antioxidante, provavelmente devido à presença de compostos antioxidantes, além de um efeito antineoplásico após 30 dias de tratamento”, detalhou Valéria Sinhorin, uma das pesquisadoras.
A especialista contou que outro estudo, anterior e com o mesmo objetivo, mas com o uso de outro modelo experimental, com paracetamol, foi realizado e mostrou que o extrato da casca teve um importante efeito antioxidante e não foi prejudicial ao fígado e nem aos rins. Este outro estudo também foi publicado na Acta em 2018. “O que as pesquisas demonstram é que a casca do caule da copaíba possui compostos que podem ter ação biológica, podendo combater radicais livres e o crescimento de tumores, bem como uma ação estimuladora de alguns componentes do sistema imunológico”, explicou.
Melhora a resposta imune
No geral, o resultado analisado pelos pesquisadores da UFMT sugere que o tratamento com extrato da casca de caule de copaíba é capaz de reverter o efeito pró-oxidante induzido pelo tumor de Ehrlich (induzido para análise científica), melhorando a resposta imune antitumoral, capaz de reduzir a viabilidade de células tumorais de Ehrlich in vitro, bem como seu desenvolvimento in vivo.
O mesmo estudo também avaliou a produção de citocinas ex vivo em culturas de células de baço. Segundo a professora Lindsey Castoldi, também parceira nessa pesquisa, nos animais tratados por sete dias, foi demonstrado um perfil pró-inflamatório em resposta ao sistema imune contra o tumor.
“Esses resultados são a base para a continuidade dos estudos, com outros modelos experimentais, com o isolamento dos compostos presentes nos extratos e futuramente até com o desenvolvimento de novas opções de medicamentos. Para isso é necessário investimento financeiro, pois o custo é alto e, infelizmente, nós precisamos parar com este trabalho por enquanto”, esclareceu a professora.
Consagrada no uso popular
Na cultura amazônica, a copaíba é usada como produto diurético, laxativo, antitetânico, antiblenorrágico, anti-reumático, anti-séptico do aparelho urinário, antitussígeno e cicatrizante. Muita gente faz uso de chás com a casca, toma em cápsula e/ou usa o óleo extraído da planta para vários outros fins, além dos citados acima.
No Mercado Municipal Adolpho Lisboa, no Centro Histórico de Manaus, o que não falta é a variedade do produto distribuído em vários boxes do local. Puro ou misturado com outros fitoterápicos e com plantas típicas da região amazônica ele faz sucesso entre os clientes.
O consultor financeiro Jerry Frota, 40, diz que aprendeu as finalidades medicinais da planta com a família. “Aqui temos muitas coisas que curam muitas coisas. A região amazônica é cheia de curas que ainda não foram cientificamente comprovadas. Assim como a copaíba, que serve para um monte de coisa, a gente usa andiroba e vários desses bens que a natureza nos deu, seja para curar uma inflamação, fazer um chá, um banho”, disse. “As pesquisas precisam explorar mais ainda essas riquezas”, opinou.
Na banca da dona Josiane Costa, 36, há vários tipos de materiais extraídos da árvore da copaíba, muitos até misturados com outros produtos da medicina tradicional. “Muita gente vem aqui em busca das coisas. A copaíba sai muito. Tem natural, a casca, o óleo e ela em cápsulas. A gente vende muito. Tanto para turistas, como para os próprios moradores da cidade. Muitos acham melhor que o remédio produzido em laboratório e faz muito o uso dos produtos naturais”.