Há 31 anos defendendo as cores vermelho e branco, ele está completando 21 deles como Tripa do Boi da associação folclórica da Baixa do São José
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“Ser tripa do Boi Garantido é representar uma nação”. As palavras são do artista plástico Denildo Piçanã, que dá vida ao boi de pano branquinho como pêlo de coelho durante as três noites do Festival Folclórico de Parintins. “Eu não estou representando a mim, mas toda a nação vermelha e branca que está ao redor do boi-bumbá. Eu sou a alma, e o boi de pano é o corpo fazendo os movimentos de um boi-bumbá real”, diz ele.
Denildo José Matos Ribeiro - o verdadeiro nome de Piçanã - está completando neste Festival 43 anos de idade e 21 de Tripa (começou em 1995), sendo que desde o início é o próprio confeccionador do boi de pano, num misto de criador e criatura. No geral, ele está no Garantido há exatos 31 anos, desde quando tinha 12 anos de idade, ainda nos tempos do tabladão do estádio Tupy Catanhede.
“Fui vaqueiro, tonto, índio... De cada coisa no Boi eu já brinquei, até chegar no personagem principal, que é o Boi Garantido”, contou ele, autêntico morador da tradicional Baixa do São José, ao lado do Curral do Boi Garantido. “Nasci praticamente dentro do Curral. Meu pai desde pequeno já me levava pra lá e, quando ele não me levava, eu fugia, pois o Curral ficava praticamente na porta da minha casa”, explicou.
O apelido Piçanã foi dado ainda na infância por um tio - Raul Prado, já falecido – e quer dizer “pássaro”em tupi-guarani. “Eu era criança e não estava nem aí com o apelido Piçanã. Como eu comecei sendo Tripa do Garantido, foram me chamando mais vezes, todo tempo, foi ficando e virou marca registrada. Já fui ate no fórum para poder assinar Piçanã no documento, mas não deu certo até agora, pois minha mulher não aceitou que eu tirasse o sobrenome Ribeiro”, brinca ele.
Confecção
Piçanã começou a confeccionar o boi de pano aprendendo com o “mago das alegorias”, Jair Mendes, responsável por dar movimento às grandiosas estruturas alegóricas que encantam bilhões de pessoas em todo o Planeta. Na época, “Seo Jair”, como é conhecido, integrava a Comissão de Artes do Garantido - hoje ele faz parte do Conselho de Artes do Boi Caprichoso.
“Antes era diferente pois o Seo Jair fazia o boi na casa dele em segredo. Só quem via o Garantido que estava sendo confeccionado era eu, ele e a família dele. E na época, era só um boi para as três noites. Para eu aprender, ele fazia uma parte do Boi e pedia pra mim fazer a outra. Eu tinha que dar meu jeito de observar o que ele fazia pra aprender. O Seo Jair dizia: ‘Ninguém aprende pegando; aprende olhando”, relembra.