As ruínas do antigo complexo Casa de Cultura Alzira Saunier, na avenida Nações Unidas, em Parintins, vem sendo reocupadas pelos movimentos populares
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A união da sociedade civil organizada está ajudando a mudar a cara de um local antes abandonado, mas que agora está voltando a ganhar vida através da arte. As ruínas do antigo complexo Casa de Cultura Alzira Saunier, na avenida Nações Unidas, em Parintins (a 325 quilômetros de Manaus), vem sendo reocupadas pelos movimentos populares.
A reocupação veio após consulta feita pelos movimentos populares ao Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan), que, segundo informou Floriano Lins, um dos jornalistas mais destacados da Ilha Tupinambarana, e ativista social, orientou que fosse iniciado um processo de tombamento para que fossem feitas as manifestações populares culturais.
A ação tem coordenação da Teia de Educação Sócio-Ambiental e Interação em Agro-Florestas, que foi criada visando adestinação final dos resíduos sólidos produzidos pela comunidade e resgate dos quintais urbanos de Parintins. E a arte entra como incentivo à cultura para tentar resgatar a questão cultural, explica Lins.
“O movimento começou em 22 de agosto de 2013 depois de uma assembleia que ocorreu na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) em Parintins onde foi tirado o indicativo de que essas ruínas precisavam ser ocupadas e reocupadas até para se saber o que funcionava no local e porque do seu abandono de quase 25 anos de abandono pelo poder público. O local foi saqueado, tendo sido levadas as estruturas metálicas. Em agosto de 2013 teve a primeira ocupação, com o pessoal trazendo pra cá aulas universitárias públicas. Isso era cercado de outdoors que era para que ninguém tivesse a impressão das condições daqui, a visão do representava isso aqui. Naquela noite que ocupamos com os acadêmicos da Ufam nós começamos a ver de perto o espaço que havia, um local bom, abandonado, mas onde havia condições de se fazer algo. Então começaram alí as intervenções e se criou na época o movimento “Parintins sem Fantasia”, onde iniciou-se a intervenção de artistas plásticos, dos artesãos, músicos, roqueiros. Aí se uniram movimentos populares como como a Articulação Parintins Cidadã, o movimento anarco-punk, grupos de rock, a presença da Associação dos Artistas Plásticos, o Liceu do Instituto Irapan, enfim. Mas depois deu uma refega e as ruínas voltaram a ficar abandonadas”, relembra o jornalista.
Neste ano, prossegue Floriano Lins, os movimentos se reuniram e resolveram fazer uma reocupação. “E nela estamos fazendo um calendário artístico-cultural, envolvendo a comunidade. Aos sábados temos uma feira de quintais onde as pessoas trazem a produção de seus quintais para expôr e comercializar aqui. E enquanto acontece a feira de quintais, os artistas fazem as suas intervenções”.
Floriano informa que, durante o Festival de Parintins, todos os dias haverá uma intervenção cultural. Na quarta teremos uma peça teatral com a intervenção poética de um artista pernambucano chamado Fernando que vem dar apoio ao movimento. Já na próxima quinta-feira, a partir das 19h, vamos ter um show de candomblé com a Mãe Bena. Queremos resgatar a cultura através das ruínas da Casa de Cultura de Parintins”, disse ele.
Padrinho de peso
O projeto ganhou um padrinho de peso: o artista de ponta e membro da Comissão de Arte do Boi Garantido, Jair Mendes, o homem que introduziu os movimentos robóticos nas alegorias e que deu “vida” ao boi de pano para mexer orelhas, olhos, boca e etc. O pedido especial para abraçar a atividade veio da neta de Mendes, Jade Jesus Mendes dos Santos, de 18 anos, que estudou no Instituto de Artes de Parintins.
“Desde pequena eu fui criada num ambiente com arte.Meu avó incentivava a todos nós, netos, a pintar, e eu gosto muito de desenhar e ele sempre me ajudou com críticas construtivas. Ele me mostrou onde eu poderia melhorar com críticas construtivas. Não foi difícil convencê-lo a vir: ele só queria que batesse os horários dele com o Boi Garantido no galpão. Ele não pôde vir de manhã, mas veio à tarde e pintou o painel”, explicou a jovem, filha de Geane Mendes (a única filha mulher de Jair Mendes, que é pai também de Jairzinho, Teco (os dois primeiros são artistas de ponta mas neste ano não trabalharam para o Festival de Parintins), Beto e Jean).
Em companhia do namorado, Jade está terminando um painel onde vai retratar a estátua da justiça com a balança na mão e com dois mastros. A obra deve ficar pronta até a próxima semana. A artista falou sobre a satisfação em participar da revitalização.
“Para mim é muito importante participar dessa revitalização. Antes, quando eu olhava pra cá, eu passei a ter um certo amor por aqui. Peguei a causa pra mim e pedi para o meu avó vir ajudar a dar mais ênfase para essa situação”, conta a talentosa neta do mestre Jair Mendes.