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Caprichoso e Garantido: curiosidades sobre as cores dos bumbás e o formato do chifre

Especialistas tentam explicar algumas características de cada bumbá, tornando-os únicos naquela composição

Gabrielly Gentil e Karol Pacheco
online@acritica.com
27/06/2024 às 12:42.
Atualizado em 27/06/2024 às 13:46

Uma das curiosidades é em relação ao direcionamento da ponta dos chifres, onde o do Caprichoso é virado para traz e o do Garantido para frete (Fotos: Daniel Brandão/A Crítica e Paulo Bindá/A Crítica)

Parintins (AM) - Defender as cores azul e vermelho é mais do que uma tradição para os torcedores apaixonados pelos bois Caprichoso e Garantido. Trata-se de uma verdadeira paixão que é ainda mais acentuada na última semana de junho.

Em Parintins, todos conhecem as características do seu bumbá mais amado, como a estrela ou coração na testa e até mesmo o formato do chifre de cada um deles. A reportagem de A CRÍTICA ouviu especialistas que vão esclarecer o porquê da escolha das cores e dos símbolos em torno das duas agremiações.

No boi Garantido, não existe uma única explicação para a definição das cores vermelho e branca, o que torna o tema “um pouco complexo”, segundo afirmou o professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), historiador e antropólogo Diego Omar.

“Não existe uma explicação, mas evidências (que esclarecem a escolha da cor). Uma dessas evidências mais significativas é de que boa parte da família Monteverde tinha ligações com a umbanda e, em função de Xangô, que é relacionado a São João Batista, escolheu o vermelho”, explicou.

Sobre o Caprichoso, Diego afirma que uma das evidências é de que as cores fazem referência à proximidade do “Touro Negro” com a região portuária de Parintins, que tinha intensa movimentação de oficiais da Marinha, com a predominância das cores azul e branca. 

Outro simbolismo que pode justificar a escolha das cores azul para o Boi Caprichoso e vermelho para o Boi Garantido é uma referência reminiscente das cruzadas, em um conflito entre cristãos e mouros, que duelavam de azul e vermelho, respectivamente.

Em relação ao boi Caprichoso, a historiadora e administradora do boi de Parintins, Larice Butel, explica que a definição do azul e branco está diretamente ligada com a relação com os marujeiros da Marujada de Bragança. “Tanto os Cid (criadores do Caprichoso) quando os Monteverde (criadores do Garantido) tinham devoção à Marujada de Bragança, daí vem a escolha das cores azul e branca”, explicou.

O Garantido, com a ponta do chifre voltado para frente; e, o do Caprichoso, posicionado para trás. O que isso significa? De acordo com Omar, esses detalhes normalmente têm a ver com uma tentativa de copiar as aparências de espécies de boi.

“Então, teve um momento que o boi deu uma apelada para essa questão mais realista, e aí buscou-se, no caso do Caprichoso, nos Zebus; e, no caso do Garantido, no Gado Nelore, algumas características típicas desse tipo de animal, né? O branco e o negro”, esclareceu

Segundo o historiador, podem ser características dessas espécies, ou de uma conjugação de espécie, ou seja, o cruzamento de características físicas de várias espécies na composição. “E são detalhes que tornam um [boi] levemente diferente do outro, mas que vão sendo desenhados um pouco fortuitamente também ao longo da história. Não tem muita explicação para esse processo, nem tem muita racionalidade, é até um processo um pouco permeado por essas emoções, rivalidades, etc”, complementa.

O boi Garantido carregava uma mancha, parecida com um coração, na testa. Era escura, mas não era vermelha. Foi a pedido de Dona Maria Ângela que aquela pequena mancha foi transformada em simbologia. 

“A Dona Maria Ângela, mãe do Paulo Faria, disse para o Seu Jair Mendes - que fazia o Boi - que aquela mancha parecia um coração e, a pedido dela, foi, de fato, transformada em um. Então, o coração na testa do Garantido já existia antes da [estrela na] testa do Caprichoso”, esclareceu Larice.

Mestre Jair Mendes recebeu um pedido de Dona Maria Ângela que uma macha na cabeça do boi Garantido se transformasse em coração. (Foto: Daniel Brandão/A Crítica)

 O Caprichoso tinha a estrela no flanco. Naquela época não se pensava nele como um boi de brinquedo, por isso a representação mais próxima de um boi real. Ele era o Touro. 

“Quando ele chegava no curral, havia todo um processo de ferro, pois quando o boi voltava - porque ele foge, né? - no outro ano pra brincar, o padrinho entrava com ele no curral e ferrava no flanco do boi a inicial do padrinho, e geralmente era um diamante, ele também era chamado de Diamante Negro. E aí, quando o diamante se transformava, ele virava uma estrela. Então, por causa disso, o símbolo do Caprichoso também virou uma estrela”, destacou a historiadora.

 

Uma das teorias para a cor azul do Caprichoso é com relação aos marujeiros da Marujada de Bragança (Foto: Daniel Brandão/A Crítica)

A junção dessas evidências tornou o que os Bois são hoje para os seus torcedores, que andam pelas ruas de Parintins com orgulho das cores azul e vermelho.

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