OPINIÃO

Uma cidade e seu destino

Se queremos manter a esperança de mudar esse estado de coisas, que nenhum de nós pode deixar de fazer: onde erramos?

Por Júlio Antonio Lopes*
julioajlopes24@ gmail.com
19/10/2024 às 10:33.
Atualizado em 19/10/2024 às 10:33

(Foto: Michael Dantas/ Secretaria de Cultura e Economia Criativa)

No próximo dia (24), Manaus completa 355 anos de existência. Três dias depois vai escolher, em segundo turno, o seu prefeito. São duas datas importantes que se entrelaçam e despertam em nós, que aqui nascemos ou vivemos um turbilhão de sentimentos, uma boa dose de orgulho, grande desalento também e uma réstia, que seja, de esperança.

Orgulho porque, dentre outras coisas, neste solo sagrado, nesse templo a céu aberto na exuberante floresta amazônica, habitavam tribos indígenas, de gente valente, que enfrentou o colonizador e pagou com o extermínio heroico a ousadia. É uma honra tê-los como antepassados. Orgulho também, diante da marcha inexorável da história, em ver que o pequeno fortim de São José do Rio Negro, tempos depois, graças ao boom da borracha e ao sonho em ação do visionário governador Eduardo Ribeiro, foi transformado numa linda e organizada cidade, que de tão linda e organizada, vejam os postais da época, chegou a ser chamada de a Paris dos trópicos...


O desalento, por sua vez e infelizmente, tem passado e tem presente. O fim do ciclo da borracha colocou a cidade de joelhos. Mais adiante, com a instalação e operação da Zona Franca de Manaus, experimentamos um renascimento econômico espetacular, uma grande euforia tomou conta de nós, a qual, não foi, entretanto, acompanhada, com raras exceções, pela  sensatez, pelo planejamento inteligente, pela responsabilidade e, mesmo, visão de estadista, de nossos governantes.

Manaus cresceu de forma desordenada, tanto que a maioria de seus bairros, a partir dessa época, surgiu de invasões. Milhares de árvores foram derrubadas; seus igarapés foram poluídos; a frota de carros explodiu; o contingente de moradores de rua aumentou; o clima está cada vez mais quente, insuportável, mesmo, para quem dormia de janelas abertas há pouco mais de 50 anos; a fumaça é sufocante; o seu centro histórico foi mutilado, salvo o largo de São Sebastião, lindamente preservado; isso tudo sem falar nas estiagens, sempre mais severa, que alcança todo o estado.

Há algumas perguntas, se queremos manter a esperança de mudar esse estado de coisas, que nenhum de nós pode deixar de fazer: onde erramos? Onde isso tudo começou a se deteriorar e perder? Como enfrentar o gigantesco desafio de reconstruí-la?

Penso que só boa vontade não basta. É preciso ter humildade para se cercar de pessoas que pensam, que estudam e que amam essa cidade. Humildade, que no caso é grandeza, para aprender, assim como também para ouvir e sentir no contato diário as angústias do povo. É preciso ter disposição para servir, para entender que ganhar uma eleição significa, acima de tudo, tornar-se o maior dos servos de concidadãos, jamais o seu senhor. É preciso agir com probidade, destinando os recursos públicos para aquilo que verdadeiramente é prioridade. E preciso, especialmente, ter prudência para não repetir os erros que outros cometeram. A vantagem de quem vive no presente, e estuda, e trabalha duro e de boa-fé para contemplar o bem comum, é justamente este: já saber o que deu certo e o que deu errado. Basta um pouco de inteligência.

Parabéns Manaus e boa sorte aos eleitos, vereadores definidos no primeiro turno, e prefeitos e vices, agora, no segundo turno. Estando o nosso destino comum nas mãos de vocês, eu torço e oro para que façam o melhor que puderem. Ter a chance e a honra de representar o povo é uma senhora responsabilidade e uma benção que deve ser aproveitada.

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