Trilogia “Before” e a importância do diálogo nos relacionamentos

Se existe um sentimento que o cinema já explorou de todas as formas é o amor, seja em romances ‘água com açúcar’ ou paixões destinadas à tragédia. Já se viu de tudo, principalmente relacionamentos idealizados (onde o amor supera tudo), o que – cá entre nós – na vida real está muito longe de ser verdade. É por isso, que na véspera do Dia dos Namorados, se faz tão importante falarmos sobre aqueles filmes que mais se aproximaram da realidade de um relacionamento, estou falando da ‘Trilogia Before’.

Também conhecida como ‘Trilogia do Antes’, a trilogia Before conta a história de Jess (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), e as diversas fazes do relacionamento entre eles. No primeiro filme, “Antes do Amanhecer”, de 1995, acompanhamos o momento que eles se conhecem, mostrando logo de cara a química entre os dois, que resolvem passar a noite juntos em Viena.

A narrativa é construída quase inteiramente em torno de suas conversas enquanto exploram a cidade, revelando suas personalidades, sonhos e inseguranças. O filme captura a magia e a efemeridade do encontro, o romance nascente e a conexão imediata entre os protagonistas. A química entre atores, a direção de premiado Richard Linklater, junto com o roteiro criam autenticidade e profundidade emocional na interação dos personagens. É um filme tão bem feito, que o final chega a doer no coração – ainda que deixe uma esperança de felicidade.

Já o segundo filme, “Antes do Por do Sol”, de 2004, é ainda mais bonito e real, mostrando o reencontro entre os personagens nove anos depois daquela noite. A obra retoma a narrativa quase que em tempo real, com os personagens refletindo sobre suas vidas e as escolhas feitas desde a última vez que se viram. Outro destaque é a paisagem, já que saímos da bela noite de Viena para a tarde ensolarada de Paris.

É um filme é mais maduro, abordando temas como arrependimento, responsabilidades e a inevitável passagem do tempo. A evolução dos personagens é tratada com sutileza, e os diálogos continuam a ser a força motriz, desta vez carregando uma melancolia que só a vida real é capaz de trazer. As performances de Hawke e Delpy é são ainda mais refinadas, e a química entre eles, agora temperada pelo tempo, é mais complexa e rica. Novamente temos um encerramento aberto, mas que sinaliza para um ‘final feliz’.

Mas o final veio nove antes depois, em “Antes da Meia-Noite”, de 2013, que desta vez se passa na Grécia. Aqui descobrimos que o casal Jesse e Céline está em um relacionamento de longa data, tendo duas filhas. Este é o filme mais sombrio da trilogia, explorando as dificuldades e os desafios de se manter uma relação a longo prazo. 

A intensidade das discussões e a crueza das emoções expostas destacam a vulnerabilidade e a autenticidade dos personagens. O filme oferece uma visão realista e muitas vezes dolorosa do amor e do compromisso, sem cair em clichês ou idealizações. Linklater, Hawke e Delpy continuam a desenvolver seus personagens com uma honestidade brutal, resultando em um desfecho poderoso para a trilogia.

A trilogia é uma obra-prima do cinema independente, se destacando pela abordagem inovadora do gênero romance. Ela evita as armadilhas comuns do romance no cinema, escolhendo uma representação sincera das relações humanas. Cada filme, embora autônomo, se beneficia da continuidade e do crescimento dos personagens, resultando em uma meditação poética sobre o amor, o tempo e a vida.

A proposito, os três filmes da “trilogia do Antes” estão disponíveis na Max.

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