OPINIÃO

Arnaldo: supercampeão

"Há um vácuo no Amazonas, desde que ele caminhou para novas responsabilidades e encargos em outros campos da eternidade, passado o tempo do desligamento da matéria. Afinal, Arnaldo foi craque na vida"

Robério Braga
02/02/2025 às 17:32.
Atualizado em 02/02/2025 às 17:32

Arnaldo dos Santos Andrade, um ícone do esporte no Amazonas (Foto: Arquivo Pessoal)

Depois do forte impacto sofrido em razão da notícia que me chegou por telefone, informando que o desenlace se dera há poucos minutos, emocionado e triste me recolhi em orações contritas em agradecimento pela nobre passagem terrena do amigo e profissional de alto quilate que tive o privilégio de conhecer: Arnaldo dos Santos Andrade.

Durante alguns dias tentei escrever em sua homenagem para publicação neste canto de página que ele fazia questão de ler semanalmente e, quase sempre, tecer comentários elogiosos, animadores e saudosistas. Era generoso!

Nossa amizade vinha de antes de nós. Decorria da relação fraterna entre nossos pais – Lourenço Braga e Francisco Caetano de Andrade – que atuaram juntos na política partidária, eleitoral e sindical do começo dos anos 1930, na defesa dos direitos dos trabalhadores, quando compuseram os quadros do Partido Trabalhista Amazonense -PTA. De lá em diante, todos nós, de lado a lado, seguimos amigos e caminhamos nem sempre juntos, mas nunca apartados dos valores que os pais nos legaram. Foi bom filho e pai extremado!

Tenho presente o dia em que foi convidá-lo, em nome do governador Amazonino Mendes, para dirigir a área de Esportes do governo estadual e, aberto a desafios, mas atento aos compromissos assumidos, honrado com o convite, mas preso ao trabalho que vinha realizando na empresa privada, preferiu debater com seus superiores para, só depois, aquiescer ao chamamento que lhe fora feito para mais uma vez servir ao desporto amazonense. Seu trabalho ganhou destaque imediato. Era competente! 

Pouco depois, reformulada a estrutura da Administração, o Esporte foi incorporado à Secretaria de Cultura e Estudos Amazônicos e para nossa alegria – dele e minha, bem sei – fomos trabalhar lado a lado na construção dessa relação (cultura e esporte e esporte como cultura social), a partir de seminários e debates sérios e profundos com técnicos e especialistas e, mais uma vez, ele se destacou pela clareza das apreciações, pela pertinência de suas abordagens. Foi uma demonstração de grandeza de sua parte, integrar uma equipe jovem que sonhava alto. E ele sonhou junto e construiu conosco os primeiros desenhos do sonho que se realizou por 21 anos. Era idealista!

Com ele, e por iniciativa dele, dentre inúmeras realizações, pode-se referir a regata Cambridge-Brasil-Oxford nas águas do rio Negro, com uma organização impecável, a merecer elogios de quantos acompanharam a iniciativa ou dela participaram. Era perfeccionista!

Muito mais tarde, fui encontrá-lo no comando do grande campeonato do Peladão, inovando, construindo e reconstruindo ideias que ampliassem ainda mais essa competição criada por Umberto Calderaro e que permanece com sucesso, passados 50 anos. O “Peladão” de agora tem o toque de sua genialidade e a gestão operosa e dedicada da família de “A Crítica”, liderada por Cristina Calderaro Corrêa e Dissica Calderaro Thomaz, exemplo bem-sucedido de empresa familiar que permanece progredindo. Era inovador!

Nosso último encontro foi de abraços, sorrisos largos, conversa franca, como sempre sucedia, dessa feita no corredor do Teatro Amazonas, após um belo espetáculo de balé. Disse-lhe do livro que publicara contando as histórias do PTA e dos nossos velhos comandantes – Lourenço e “seo” Caetano –, mas sei que ele não chegou a ler como era de seu ardente desejo. Na ocasião, deu-se o abraço fraterno que repetia inúmeros outros que ele e meus irmãos João e José confraternizaram em diversas empreitadas e dos quais sempre ouvi considerações de respeito e elevada admiração em relação ao desportista e ao cidadão Arnaldo Santos. Era bom amigo!

Há um vácuo no Amazonas, desde que ele caminhou para novas responsabilidades e encargos em outros campos da eternidade, passado o tempo do desligamento da matéria. Afinal, Arnaldo foi craque na vida.

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