A queda pela metade no número de multas motivadas por crimes ambientais tem várias motivos e uma séria consequência. Entre os motivos estão o processo de desmonte que instituições como Ibama e ICMbio vêm passando, e também a própria falta de disposição do governo federal em combater delitos ambientais. A consequência do afrouxamento da vigilância e das punições aos infratores não poderia ser diferente: aumento de 36% no desmatamento no Amazonas em 2019 na comparação com 2018. Neste ano, o incremento da destruição florestal deve ser ainda maior, em parte por causa da pandemia do novo coronavírus - que reduziu as operações das equipes de fiscalização do Ibama e do ICMbio. Os desmatadores aproveitaram a deixa para intensificar a ação predatória, como revelam os números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Por outro lado, madeireiros ilegais, garimpeiros, grileiros se sentem legitimados pela postura oficial que, ao permanecer inerte, favorece a prática criminosa. Ocorre que, ao que tudo indica, o mundo pós-pandemia será ainda mais preocupado com a questão ambiental; a pressão por políticas que promovam a preservação tende a aumentar, segundo diversos analistas. Para estes, o surgimento de um problema de proporções globais como a pandemia de covid-19 fortalece o sentimento de que algumas questões não se restringem a nações específicas, uma vez que têm potencial para afetar a vida de todos no planeta, como é o caso da preservação das florestas, especialmente da Amazônia.
Cresce a responsabilidade do Brasil, detentor de grande parte dessa biodiversidade, e cresce a urgência de se desenvolver uma política séria e sólida para a região, focada no desenvolvimento sustentável, mantendo a integridade da floresta sem abrir mão da geração de riquezas. Diante das dificuldades que se avizinham, o Brasil não poderá dar-se ao luxo de abrir mão de apoio internacional, inclusive financeiro, para promover esse tipo de desenvolvimento. O governo federal, que vem sendo obrigado a abrir mão de retóricas extremistas, precisa excluir o Ministério do Meio Ambiente do campo de batalha ideológico que paralisa pastas como a da Educação e a Secretaria de Cultura, por exemplo. Ainda há tempo de mandar um recado robusto para o mundo no que diz respeito à responsabilidade ambiental.
Foto: Fernando Donas