Editorial

Os transtornos naturalizados

Se há mais de 20 anos, cientistas e militantes em defesa da Natureza alertam para os riscos de formação do “arco do fogo” a partir do Sul do Amazonas, hoje é realidade e com ela toda a crise que esse tipo de operação provoca na vida das pessoas, da flora, da fauna e dos recursos hídricos

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21/09/2024 às 09:39.
Atualizado em 21/09/2024 às 09:39

(Foto: Michael Dantas/AFP)

Todos os dias uma parte do Brasil está sob ataques do fogo e da fumaça e da seca dos rios. Nesse momento, milhares de famílias estão sitiadas e uma parcela vive os impactos dessa condição com agravamentos de doenças respiratórias, alergias, dor de cabeça ou o aparecimento de doenças até então sem sintomas.

São dias e noites longos com indicadores de agravamento e que completaram mais de um mês nessa forma intensa. A mídia apresenta, diariamente, novos focos de incêndio, pessoas tocando fogo em áreas que deveriam ser protegidas. São cenas que expõem o caráter criminoso que envolve parte das ocorrências de incêndio no Amazonas.

É preciso que os responsáveis por esse tipo de crime sejam identificados e responsabilizados. Por enquanto, o entendimento é de que a impunidade prevalece e se manterá distante das sanções legais.

Estão sendo misturados relatos que tratam dos efeitos das mudanças climáticas e aqueles que referem-se ao comportamento criminoso em torno dos focos de incêndio, muitos dos quais destinados a abrigar, no pós- fogo, outros empreendimentos que necessitam dos incêndios para “limpar a área”.

É nessa mistura estratégica que o Amazonas está submetido e o fogo segue preparando o Estado, até então, abrigo da porção mais densa da floresta. Se há mais de 20 anos, cientistas e militantes em defesa da Natureza alertam para os riscos de formação do “arco do fogo” a partir do Sul do Amazonas, hoje é realidade e com ela toda a crise que esse tipo de operação provoca na vida das pessoas, da flora, da fauna e dos recursos hídricos. Até agora, nenhuma lei e ou ação conseguiu barrar os atentados que estão sendo cometidos nessa região.

O Amazonas está no centro desse tipo de investimento que derruba floresta, avança na monocultura da soja, da pecuária, nos megaprojetos de exploração mineral, na destruição de rios e igarapés, sem ter resolvido o comercio ilegal de madeira. É nesse estado que a pressão político-econômica está sendo reforçada, alimentada pelo fogo e pela lentidão na tomada de posição governamental para enfrentar os ataques ora feitos.

Se políticas de monitoramento e de tomadas de decisões mais ágeis não forem postas em prática, permanece a saga da destruição entre o fogo, a fumaça, a perda de referências cruciais para os povos e a região, a apropriação de que é “assim mesmo” que deve ser a cada ano, muitos passando mal, adoecendo e morrendo.

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