A alegria da conquista está vinculada a laços com outras histórias sobre as quais o olhar mais atencioso tem sido afastado nas escolas e no cotidiano brasileiro
(Foto: AFP)
A vitória da arte brasileira pro meio do filme “Ainda Estou Aqui” e da atriz Fernanda Torres, ganhadora do Globo de Ouro na noite de domingo (5), tem significados profundos. A alegria da conquista está vinculada a laços com outras histórias sobre as quais o olhar mais atencioso tem sido afastado nas escolas e no cotidiano brasileiro.
O filme é uma janela para aprender um pouco mais a respeito do período ditatorial no país, um dos mais longos na América Latina, e dos efeitos perversos do regime na vida de milhares de família – não ainda conhecidos. A história de Eunice Paiva, depois como advogada e defensora dos direitos dos povos indígenas, era até então um dos recortes desconhecidos. Agora é possível avançar e aprender mais, fazer novas descobertas sobre o tempo ditatorial no Brasil e, curiosidade acionada, buscar conhecer essa história na América Latina.
As democracias no mundo vivem sob ataques e estão de fato ameaçadas. A guinada de países democráticos à direita radical exige reflexão e posicionamento das sociedades em defesa da democracia e da melhoria dela. No Brasil, experiências recentes de caráter antidemocrático aprofundaram desigualdades e explodiram as manifestações de ódio, de racismo e da discriminação, a direita mais radical colocou-se na rua, ocupa espaços religiosos, empresariais e nos poderes instituídos.
Ouve-se absurdos inclusive nas casas legislativas que deveriam ser punidos para não consolidar a ideia de que “defender a ditadura” é liberdade de expressão. No dia 8 de janeiro completar-se-á dois anos dos atos golpistas de 2023. As revelações feitas no ano passado do planejamento do golpe por membros do primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro, com ideias de assassinatos do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin, e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, demonstram como setores com poder econômico e político investem no retrocesso.
O Globo de Ouro conquistado pela atriz Fernanda Torres reafirma a luta pela democracia, o dever de recolocar em primeiro plano o estudo da história brasileira, da não anistia aos golpistas e da necessidade de situar a arte como um dos mecanismos fundamentais para fazer memória, religar fatos e revelar histórias ignoradas, silenciadas. A juventude brasileira envolta no desconhecimento sobre a ditadura e até, parte dela, por não conhecer, aliar-se aos que defendem regimes ditatoriais, dispõe de uma página aberta para estudar por meio do cinema.