Editorial

Não basta pedir desculpas

O pedido de desculpas se deve ao longo período de perseguições, torturas, assassinatos e expulsão de suas terras durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985).

acritica.com
03/04/2024 às 09:20.
Atualizado em 03/04/2024 às 09:20

(Foto: Reprodução Youtube)

Ontem, a presidente da Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos, Eneá de Stutz, de joelhos, pediu desculpas, em nome do Estado brasileiro, aos indígenas Krenak, do norte de Minas Gerais, e aos Guyraroká, que vivem no Mato Grosso do Sul. O pedido de desculpas se deve ao longo período de perseguições, torturas, assassinatos e expulsão de suas terras durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). 

Ressalte-se que os Krenak e os Guyraroká sequer faziam oposição ao regime, não estavam organizados politicamente para formular críticas que reverberassem contra os militares. Mas sua mera existência, o fato de ocupar um território que interessava aos planos de “desenvolvimento” vigentes, os transformou em obstáculo que deveria ser removido e isso foi feito até mesmo com orgulho pelos fardados. Mas tal orgulho é pouco para explicar por que um indígena Krenak foi atado a um pau-de-arara e exibido durante um dos desfiles da ditadura na década de 1970. A imagem chocante divulgada pelo Ministério Público Federal resume o tratamento horrendo dispensado aos indígenas no período da ditadura. 

Pedir desculpas é necessário, mas não basta. Sabemos que uma reparação real é impossível diante de décadas de humilhações, sofrimentos e mortes, mas algumas medidas ainda podem e devem ser tomadas, como garantia de direitos a essas comunidades e demarcação de terras. O pedido de desculpas será melhor aceito se acompanhado de políticas públicas eficazes, de respeito por parte da sociedade e da oportunidade de viver em paz em suas próprias terras.

O pedido de desculpas por parte do Estado Brasileiro se reveste de simbolismo por ser o primeiro desse tipo em nossos 524 anos de história e é um passo importante. No entanto, o regime militar apenas explicitou e acentuou o modo como o País trata os indígenas desde 1500. Agora mesmo, o povo Ianomâmi luta contra um avançado processo que pode resultar em sua extinção. Garimpo ilegal, doenças trazidas por não índios, desnutrição e violência são alguns componentes desse processo. O governo brasileiro, que não é uma ditadura há 39 anos, vem tentando reverter a situação, mas ainda não se percebe melhora significativa.

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