EDITORIAL

MONETIZAÇÃO DO DRAMA DO POVO GAÚCHO

Dissiminação de notícias falsas sobre o desastre ambiental no Rio do Sul é conduta criminosa e seus autores devem ser punidos

acritica.com
11/05/2024 às 07:33.
Atualizado em 11/05/2024 às 07:33

(Foto: AFP)

A distopia tornou-se uma das palavras mais citadas nos últimos anos na tentativa de explicar a realidade brasileira. Parte dos atos patrocinados para tratar o drama da população do Rio Grande do Sul demonstra como a ação política pode chegar ao nível máximo de perversidade como visto em outras tragédias humanas no mundo.

Mentiras e o desejo incontrolável de utilizar uma situação deplorável de centenas de pessoas podem ser vistos em grande volume nas redes sociais. Nessa batalha, há que se aprender muito não para ficar ao lado de uma versão e, sim porque a realidade enfrentada pelos gaúchos reivindica o humanismo na dimensão mais elevada e, por meio dele,  a própria sociedade impor o respeito a princípios.

As redes X (antigo Twitter)  e WhatsApp aparecem em levantamentos como principais espaços de abrigo das não notícias, de circulação e convocações do posicionamento de ódio, escárnio, calúnia e ataque a honra de pessoas. Tais condutas são criminosas e seus autores e disseminadores devem ser punidos. A não punição representa, em arga escala, a cumplicidade com a produção distópica, por sua vez, instrumento utilizado para assegurar determinados nichos políticos, partidários, eleitoreiros. Esta vincula-se a um movimento mundial que têm objetivos concretos para ampliar seus espaços de poder.

Não há problema quanto às disputas de poder, é parte da história humana. O que se busca, colocando como marco a segunda guerra mundial, é o respeito aos mecanismos instituídos para mediar os conflitos  e salvaguardar os limites. O transtorno no Rio Grande do Sul demonstra que os limites foram ultrapassados e os crimes seguem sendo ampliados, reverberam nas casas legislativas e como enxurrada estão sendo espalhados para conquistar mentes e audiências. 

A monetização e a politização do drama dos gaúchos precisa ser rechaçada de imediato e cabe, em parte, ao jornalismo fazê-lo fazendo jornalismo. Ao judiciário e ao legislativo agir, pois, serão também vítimas em ataques mais sofisticados, como há bem pouco tempo foram. O sucesso, com nome de audiência, do movimento que promove a mentira e os crimes de calúnia e de honra demonstra a urgência de fazer prevalecer outras instâncias legais e legítimas para fortalecer a democracia, o esclarecimento da maioria da sociedade para que não se torne segmentos reféns da propaganda, da coerção e da violência generalizada que chega a festejar a desgraça alheia, como ora se vê.  
   

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