Jornalismo oficial ajuda a compor o quadro letárgico e a espalhar a ideia de poder absoluto dos EUA sobre os outros povos
Faixa de Gaza, destruída por conflito com Israel, está nos planos do presidente dos EUA, Donald Trump (Bashar Taleb / AFP)
Desde a posse de Donald Trump à presidência dos EUA, em 20 de janeiro, uma rotina mundial diária está instituída: saber da última medida ou da última declaração do norte-americano. Trump segue o script, proporciona farto material para a mídia global situada entre a incapacidade de oferecer outras perspectivas ou por adesão ao show de Trump.
“Ninguém no mundo consegue enfrentar esse homem?”, perguntou-me um condutor de Uber ao tomar conhecimento da proposta do presidente estadunidense para a Faixa de Gaza, território palestino. O roteiro midiático é pista: está amarrado na teia de interesses subordinados às vontades do Império e nesse ambiente os relatos da mídia repetem informes oficiais de dirigentes da Europa, as ameaças do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu e instaura, com bem sabe fazer no caso brasileiro, o festival de adjetivações às reações de alguns governos, uma delas é a retaliação, igual a desforra, vingança, represália.
Os atos de Trump não deveriam ser medidos por retaliação de um ou outro governo. De fato, até agora, nenhum governo aplicou o recurso, é a mídia que faz a associação e a lança como notícia numa espécie de narrativa futebolística. O material acumulado neste inicio de gestão do republicano deveria ser suficiente a um posicionamento firme dos cidadãos do mundo e das instituições democráticas. Preocupa o grande silêncio diante do espalhafatoso governo Trump e esta pode ser a resposta à pergunta do motorista de Uber: o mundo aceitou ser encurralado pelo representante do império.
O mercado global acomoda reações, estreita passos da luta e ironiza a teimosia das pessoas de bem. O jornalismo oficial ajuda a compor o quadro letárgico e a espalhar a ideia de poder absoluto dos EUA sobre os outros povos. O que pretende Trump ao anunciar a pose da Faixa de Gaza? Em 2019, notícia divulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU), informava que foram encontradas “reservas consideráveis” de petróleo e gás nos territórios palestinos. As descobertas de gás natural estavam na faixa de 122 trilhões de pés cúbicos, enquanto a quantidade de petróleo recuperável somaria os 1,7 bilhão de barris, o que equivalem, considerando valores de 2017, a um volume de recursos de US$ 524 bilhões em combustíveis.
Não tem importância o povo palestino, a destruição de Gaza, a barbárie realizada na região. Importa o subsolo e os negócios desenhados para explorar aquele território, por isso, é naturalizado o anúncio de Trump que irá mandar embora os palestinos para nunca mais voltarem às terras onde nasceram e vivem. Ou ainda o outro anúncio, o do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, ter oferecido ao presidente dos EUA os presídios do país para receber pessoas de qualquer nacionalidade expulsas dos Estados Unidos. O silêncio normaliza a barbárie.
Como enfrentar Trump e as cordas do império?