OPINIÃO

O molde da universidade indígena em debate

Por Ivânia Vieira*
24/07/2024 às 07:55.
Atualizado em 24/07/2024 às 07:55

Ilustração gerada com inteligência artificial

Há mais de quatro décadas, líderes de povos indígenas do Amazonas tecem o sonho de ver construída a universidade indígena. A criação de organizações de professores indígenas e o longo percurso de lutas desses professores entrelaçado nas reivindicações pautadas pelo movimento indígena estadual/regional/nacional, leva adiante a ideia de o Estado, com maior número de povos e de línguas indígenas, abrigar um espaço de formação universitária a partir dos perspectivismos indígenas.

Na segunda-feira (22), por todo o dia, no auditório anexo da Escola Normal Superior da Universidade do Estado do Amazonas (ENS/UEA), estudantes, professores, líderes de organizações indígenas e convidados participaram do Seminário de Escuta para criação e implementação da Universidade Indígena (UnINDI). É o segundo de uma série de encontros, o primeiro ocorreu na Bahia.

A universidade indígena deverá sair do papel ainda no mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.  É a proposta feita. Até à consolidação dela, um caminho adverso deve ser percorrido entre escutas e consultas dos principais interessados, como defenderam representantes indígenas; o nome que a universidade terá; e o modelo de funcionamento, possivelmente um dos aspectos complexos do projeto.

A arquitetura em funcionamento é de universidades moldadas ao Ocidente e à métrica capitalista utilizada em países sob o selo de periferizados e destes, como o Brasil, nas regiões internas periferizadas. O arcabouço referente é dessa universidade, cada vez mais a serviço do mercado naturalizando práticas que no âmbito do ensino público superior não deveriam ser naturalizadas e sim enfrentadas.

Os grupos de trabalho, constituídos nessa escuta, ofereceram aos consultores do Ministério da Educação, responsável pelos seminários, em parceria com SESU, SECADI e Ministério dos Povos Indígenas, uma série de conteúdos para compor o documento final que irá orientar a base da universidade. Em  meio aos debates e indicações, aparecem traços  fortes do modelo hegemônico de universidade, o mesmo que estudantes universitários indígenas – participantes dela por meio de cotas – criticam. Denunciam o filtro estreito da presença indígenas nesses espaços, o racismo e a falta de uma política de manutenção desses estudantes nas instituições.

O “casco” da universidade indígena está sendo talhado. É um momento histórico e foi possível ver o brilho nos olhos dos jovens que participaram do seminário em Manaus. É um outro pedaço do sonho de muitos que lutaram pela universidade e já encantados observam os seus filhos nesta terra para que a determinação não cesse e a universidade indígena se torne realidade noutra proposta, pluriversal e manejadora de outros instrumentos no fazer o conhecimento acontecer.

* participei do seminário a convite da organização

               

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