OPINIÃO

O cadavérico jornalismo geopolítico

Quais compromissos têm os conglomerados de mídia quando usam palavras atenuadoras para traduzir o massacre na Palestina?

Por Ivânia Vieira
11/09/2024 às 15:09.
Atualizado em 11/09/2024 às 15:09

AFP

Por que o jornalismo brasileiro e de parte do ocidente produz em larga escala relatos semelhantes para tratar a situação da Venezuela, exacerbar nos adjetivos e estabelecer sentenças ao governo de Nicolas Maduro?

Por que o jornalismo brasileiro, do Ocidente e do Oriente não adota o mesmo vigor para tratar do genocídio palestino? O plano e a estratégia de matança é acompanhado na palma da mão ou na tela grande, em cores que se traduzem no cinza e nas cinzas dos corpos humanos e dos destroços de “moradias” retirantes.

Quais compromissos têm os conglomerados de mídia e grupos de jornalistas quando usam palavras atenuadoras para traduzir o massacre do governo de Israel na Palestina? A paleta de tintas de uma escrita que condena e "limpa" cenários para justificar a razão de matar está exposta.

O enquadramento noticioso possibilita compreender, se assim desejarmos, por quem os sinos dobram: em Israel, a ação de matar vítimas civis palestinos em situação de vulnerabilidade, é apresentada como direito de defesa. Assim disseram os governos de domínio do mundo e seus aliados. Na Venezuela, o discurso é para retirar o presidente do país de cena, restabelecer o controle imperial sobre ao povo venezuelano e assegurar um aliado de confiança no comando do país.

Os ataques aéreos do governo israelense à zona humanitária – que de humano nada tem – na madrugada do dia 10 provocaram 19 mortes incluindo crianças e deixou 60 pessoas feridas (dados divulgados por agências de notícias do Brasil).  Até agosto deste ano, os mortos em Gaza somavam mais de 40 mil desde 7 de outubro de 2023 (dados da CNN-Brasil). Ao mesmo tempo, uma multidão de desvalidos é mandada de um lado para outro, empurrada  a locais onde são mortas.

A fleuma de um modelo de jornalismo segue entre os cadáveres, os abandonados do mundo, o choro dos desesperados, a angústia dos sem casa, sem comida, sem água, adoecidos de Gaza. Na Venezuela veste-se da outra roupa e produz os ensaios supostamente libertários e democráticos. A lógica do jornalismo que serve para manter as ações do governo de Israel na Palestina, conciliar interesses desse governo com os dos EUA e parte dos governos da Europa não se aplica no trato da questão Venezuela.

O enquadramento da notícia (a forma de abordar) é território de reflexão no exercício contínuo da busca de compreensão sobre a produção dos acontecimentos e a divulgação dos mesmos. O discurso jornalístico contribui para a tomada de decisão e, ao selecionar estrategicamente palavras e ângulos, o jornalismo se posiciona em torno de interesses políticos, econômicos, culturais.

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