OPINIÃO

Números fotografam a outra face da violência contra as mulheres

Por Ivânia Vieira
11/11/2024 às 14:24.
Atualizado em 11/11/2024 às 14:24

A realidade é caótica para uma multidão de mulheres. Na Amazônia, o caos, como prática cotidiana, pode ser projetado a partir de alguns dos indicadores: no item responsabilidade pela unidade doméstica, o Amapá (com 52,9%) integra a lista dos dez estados brasileiros onde as mulheres são maioria nessa condição. Pernambuco detém o porcentual mais alto (53,9%) seguido pelo Maranhão (53%).

Nos demais estados da Amazônia, o comando da casa pela mulher também apresenta porcentuais altos. No Amazonas alcança 50%, em 2010 era 39,8%; Acre (49.1%); Pará (48.9%); Roraima (48.9%); Rondônia (44.3%), de acordo com o mapa do Censo 2022 do IBGE. A média nacional dos domicílios chefiados por mulheres é de 49,1%, mulheres (36 milhões de mulheres).

Recai sobre os corpos das mulheres a responsabilidade de cuidar das crianças, dos jovens, dos idosos, de arcar com todas as despesas da casa. Os salários estão achatados e persiste a diferença salarial em favor dos homens mesmo que nas mesmas funções. Os trabalhadores em funções domésticas recebiam 28,9% a mais que as trabalhadoras; 37,3% deles tinham carteira de trabalho assinada, as mulheres eram 28,2%.   

Dados do Relatório Anual Socioeconômico da Mulher/2024, mostra que nas regiões Norte e Nordeste, a proporção de mulheres vivendo em área rural está acima da média nacional (19,6% e 22,2%, respectivamente). No Norte, 83,9% das mulheres com filhos de 0 a 3 anos afirmaram que nenhum deles frequentava creche.

O tempo despendido pelas mulheres em atividades de cuidado de pessoas e/ou afazeres domésticos era, em média 21,3 horas semanais; o dos homens 11,7 horas semanais. 

O número de mulheres que residem em casas sem coleta de esgoto saltou de 26,9 milhões para 41,4 milhões no período de 2016 e 2019, uma taxa de crescimento de 15,5% ao ano do número de brasileiras afetadas pelo problema. O estudo é do Instituto Trata Brasil que apontou: 15,8 milhões de mulheres são diretamente afetadas pela falta de água tratada e 24,7 milhões pela ausência do serviço regular de fornecimento d’água.

As mulheres sem banheiro em casa somam 2,5 milhões (53%). A maior ocorrência dessa situação é nas regiões Norte e Nordeste que apresentam os maiores déficits de saneamento. Mulheres que não têm acesso a água tratada comprometem parcela maior da renda com a compra de absorventes e coletores menstruais, o impacto é 36% superior. Para aquelas que vivem sem banheiro em casa, o esforço econômico é 64% maior. O acesso universal ao abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto pode tirar mais de 18 milhões de mulheres da condição de pobreza.

Nas regiões Norte e Nordeste, uma em cada duas mulheres não recebe água tratada. A pesquisa aponta que a renda das mulheres sem acesso a banheiro em casa é 66,7% inferior em comparação às demais trabalhadoras que vivem em domicílios com banheiro. E poderia ser ampliada em 1/3 se tivesse a garantia do acesso regular à água, com banheiro e com coleta de esgoto.

Se o caos é essencial à existência e uma força motriz que nele sejam construídas as maneiras de enfrentar e superar as violências contra as mulheres. Que no tema água e saneamento, as mulheres sejam percebidas e sejam inseridas como participantes ativas na tomada de decisão nas políticas públicas de saneamento.  

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