OPINIÃO

Mulheres estendem “túnicas de sangue” pelo combate à violência

Feminicídio é o ato final de violências, um crime que assombra sem ranhurar a sociedade nos seus valores patriarcais

Ivânia Vieira
29/11/2023 às 11:27.
Atualizado em 29/11/2023 às 11:27

(Dall.e2)

Algumas túnicas brancas, manchadas de vermelho encarnado, foram estendidas no chão de Manaus, na esquina da rua Pará com a avenida Djalma Batista, Centro. Junto a essas peças, velas acesas e cruzes performando no silêncio, interrompido pelo barulho dos carros, o grito das mulheres ao pedir o enfretamento dos governos, do legislativo, do judiciário e da cidadania à escalada da violência no Amazonas, no Brasil, na América Latina e no mundo.

O ato no 25 de novembro – Dia Internacional de Luta pelo fim da violência contra a mulher - é fruto de trabalho longo, árduo, conflituoso e delicado no tecer os fios da adversidade até a concretude na terra, no asfalto dando visibilidade de uma das ações para retirar da acomodação silenciadora as violências praticadas sobre o corpo e a alma da mulher todos os dias, muitas vezes. O feminicídio é o ato final dessas violências e esse crime nos assombra sem ranhurar a sociedade nos seus valores patriarcais.

Noutra movimentação, a campanha “Por uma geração sem violência”, do Movimento de Mulheres Negras da Floresta – Dandara, e Ykamiabas Produções, insere crianças e adolescentes nos convocando a ampliar os braços da luta para que elas tenham direito garantido à vida com dignidade. Outra iniciativa, envolvendo vários coletivos de mulheres e feministas, é “Racismo não é mal-entendido. Racismo é crime”.

Importante a atenção a esse ponto. É recorrente a tentativa de abrandar atitudes racistas e vesti-las como mal-entendido, e não crime. Trata-se do arranjo de outros setores sintonizados com as práticas racistas para validar o pacto de viver nessa cultura. No Amazonas, é questão de fundo: as mulheres amazonenses e amazônicas sofrem violências históricas, da doméstica à institucional, compondo a cultura por meio da qual um sistema de violações de gênero é mantido e incentivado.

Até 21 de novembro deste ano foram registrados 4.418 casos de violência contra a mulher no Amazonas (dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Drª “Rosemary Costa Pinto”). Na lista dos municípios com maior volume estão: Manaus – 1.160; Manacapuru – 335; Tefé – 287; Coari – 162; Parintins e Benjamin Constant – 147; Borba – 152; Itacoatiara – 132. As faixas etárias das mulheres vítimas de violência apresentam o seguinte quadro: de 10 a 19 anos – 1.928; de 20 a 39 – 1.378; de 40 a 59 anos – 371; de 5 a 9 anos -256; de 1 a 4 anos – 219; 1 ano – 146; e 59 anos – 120. O quadro completo pode ser acessado aqui. 

A institucionalidade da violência de gênero no Amazonas se revela nas condutas diárias, produzidas e desenvolvidas em uma comunicação marcada pelos códigos da desqualificação, esforço sistêmico de rebaixar e anular as mulheres nos espaços públicos e privados. Os gritos feministas, no centro de Manaus e nas periferias socioeconômicas, semeiam outros marcadores de reivindicação do direito humano das mulheres, alerta, denuncia e finca corajosamente os esteios da construção do princípio de que toda mulher tem direito à vida sem violência, o que significa agir para realizar rupturas de um modelo de sociedade.          

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