OPINIÃO

Dos gestos e da batalha dos bons e dos justos

Muitos corpos sucumbiram, a seiva da luta não, ela segue, nutre outros corpos, reinventa entrelaçamentos e se põe em marcha, sempre

Por Ivânia Vieira
29/01/2025 às 13:45.
Atualizado em 29/01/2025 às 13:45

(CHIP SOMODEVILLA / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)

Sim, sorrir com a alma e seguir. Este é o aprendizado para manejo no tempo de hoje. Talvez não tenhamos a firmeza necessária e nos sintamos fadigadas diante do tamanho da luta a ser lutada, agora com elementos novos e de impactos profundos na maneira como somos e como desejamos ser nesta passagem pela terra.

Atingimos o ápice da barbárie? Ou cada tempo tem a sua própria barbárie sem aprendizados assimilados para superar esse jeito de governo do mundo. Não conseguimos fazer valer princípios do respeito às pessoas diferentes, aos territórios dos povos, à dignidade da vida de gente e de não gente.

As barbáries de outros tempos, alguns recentes, não ajudaram a melhorar a qualidade da espécie humana. Acordos de governos apertam o cerco da fúria contra os mais frágeis, aceitam algemas e correntes – modelo pós-moderno da escravização - e aplaudem em meio a sorrisos largos e abraços apertados em rito de saudações da conquista realizada perversamente com o voto de eleitores e da democracia agonizante.

Andamos em meio a espancamentos, sangue derramado e morte; andamos entre as lágrimas de crianças, jovens e mulheres e não as enxergamos, não os abraçamos em fraternidade. E os culpamos por não serem fortes, dominadores, empreendedores de sucesso na paleta do gueto de êxito de poucos bilionários no mundo feito de multidões de pobres e miseráveis. 

Flertamos com o individualismo e o egoísmo exacerbados. Engatamos relações promíscuas em nome do triunfo de areia enquanto prédios são desmoronados por bombas, incêndios, enchentes e muros derrubados por ondas revoltas na linguagem do mar.  As praias, as cachoeiras, os lagos, os rios, as pedras, presentes da Natureza aos humanos e às outras formas de vida, foram tornadas mercadorias e o preço do acesso veta a multidão excluída.

Fracassamos? Recorro à leitura da história dos povos indígenas no Brasil e à das mulheres em diferentes regiões deste planeta, aos registros de algumas das suas estratégias e alianças no enfrentamento da tirania. Muitos corpos sucumbiram, a seiva da luta não, ela segue, nutre outros corpos, reinventa entrelaçamentos e se põe em marcha, sempre. É desse sumo, na porção e no tamanho da vontade de cada indivíduo, da compreensão de ser parte da história ora em escrita que alimento a esperança diante da barbárie e, alimentada, a esperança se faz concretude, movimento, luz e firmeza por vezes em gente franzina, como a pastora Mariann Edgar Budde, gigante diante do mal, reafirmando em voz generosa os gestos da misericórdia e hoje parte da história na batalha dos bons e dos justos.      

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