OPINIÃO

Bancada da bala, democracia é o alvo do tiro

Povo tende a ser eliminado pela cor da pele, a pobreza, o lugar de moradia e a coerção dos donos das armas

Por Ivânia Vieira
23/10/2024 às 13:59.
Atualizado em 23/10/2024 às 13:59

(Rovena Rosa/Agência Brasil)

Das 211 candidaturas apoiadas pela Associação Nacional Movimento Pro-Armas (Proarmas), 57 foram eleitos no primeiro turno das eleições municipais de 2024. O levantamento é do Instituto Fogo Cruzado e foi divulgado pela Carta Capital no dia 10. Dos 5.569 municípios onde ocorreram eleições, em 167 o Proarmas apoiou candidatos.

A defesa do uso de armas de fogo, as ações do movimento animado a partir de slogans “bandido bom é bandido morto” e “malandro comigo é na bala” ganharam espaço generoso na campanha eleitoral deste ano. O dado repetido por especialistas da área é de que os eleitores e a população querem exatamente isso: o povo e os membros do poder armados com armas de fogo. Prontos para atirar diante de qualquer insatisfação. 

No jogo dos interesses mais particulares, o povo será aniquilado por aqueles detentores de armas ou de comando sobre os grupos armados. O povo tende a ser eliminado pela cor da pele, a pobreza, o lugar de moradia e a coerção dos donos dessas armas, os legalizados e os ilegais.

Mulheres e homens pobres, sem direito a tratamento dentário, tiveram seus rostos escancarados entre outros figurantes, nas peças eleitorais circulantes no horário eleitoral gratuito, gritando por uma guarda municipal armada. Um tipo de farsa ou de tragédia anunciada recorrente, utilizada como subterfugio – com alguma audiência - para tratar de soluções grotescas do descontrole da violência urbana e rural e do fracasso da política de segurança pública. 

Bancadas da bala têm demonstrado o efeito perverso desse tipo de agrupamento parlamentar na sociedade. Atuam, em sintonia com outros tipos de bancadas – da bíblia, do fogo, do agro – na fragilização da noção de parlamento e, ao mesmo tempo, sustentam os setores que disseminam a ideia de fragilizar as instituições do Estado. 

A atenção da sociedade organizada está sendo desafiada. Não apenas em períodos eleitorais quando questões dessa natureza ganham palco. Partidos políticos, instituições e setores progressistas têm disposição de enfrentar o movimento da bala, com seus núcleos espalhados inclusive na bancada parlamentar?

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