Mulheres reafirmam esperança em outro mundo que, para ser viável, deve valorizar as lutas e as pautas ecofeministas
Vandana Shiva afirma que ecofeminismo é uma cosmovisão que reconhece seres humanos como parte da natureza
O Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (MUSAS) completa um novo giro nesta terra neste dia 31 de outubro. O aniversário do e das MUSAS é motivo de celebração por tantas razões no entorno dessa existência.
No 31 de outubro de 2005, de acordo com anotações de algumas das mulheres presentes naquele ato, na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações do Estado do Amazonas (SINTTEL-AM), nascia oficialmente o MUSAS, tramado por bruxarias de longas datas.
Uma delas é marcante para consolidar o passo seguinte da confirmação do MUSAS: é a de 2003 quando, nos dias 26, 27 e 28 de setembro, uma turma de mulheres trabalhadoras, operárias, artesãs, jornalistas, benzedeiras realizou, em parceria com outras organizações, o 1º Seminário da Mulher do Médio Amazonas. Participaram delegações dos municípios de Itapiranga, São Sebastião, Silves, Uatumã, Urucará e Urucurituba, Manaus e da cidade anfitriã – Itacoatiara.
A Carta de Itacoatiara é bússola dessas andanças (e pode ser lida aqui). Nela, as mulheres se reafirmam e reafirmam a esperança em outro mundo que, para ser viável, reivindica inserir com respeito e importância as lutas e as pautas ecofeministas. São pautas em luta para além do que alguns etiquetam como identitarismo. Vandana Shiva estabelece uma noção de valor ao defender que “toda a humanidade deve deixar para trás a cobiça e a exploração e deve se converter à economia feminina do compartilhar e do cuidar”.
Shiva afirma que o ecofeminismo é uma “cosmovisão que reconhece os seres humanos como parte da natureza, não uma entidade separada dela”. Nessa concepção, está na noção de interconexão através da vida, “a natureza e as mulheres, seres vivos e autônomos, não objetos inertes passivos, explorados e violados pelo poder masculino”. Na elaboração da pesquisadora e ativista Shiva, a criatividade e a produtividade da natureza e das mulheres são os fundamentos de todos os sistemas de conhecimento e de todas as economias.
As MUSAS carregam em seus corpos canteiro ou quintais de enfrentamentos, de sonhos e das vozes contracoloniais tecidos por Vandana Shiva, Margarida Alves, Roseli Nunes, Osvalinda Pereira entre tantas outras. Na luta pela terra ou no chão das fábricas do então Distrito Industrial de Manaus, essas mulheres são a história das lutas de mulheres do Amazonas.
A maioria delas entre os 60 e 70 anos, algumas estão encantadas, outras permanecem ativas nessa marcha, andam devagar sem perder a firmeza na fala, no protesto, na denúncia, no aprender sobre autocuidado, na amorosidade. Estão tesas no ato de chamar, escutar e esclarecer as mais novas sobre a importância de se tornarem parte do processo contínuo de resilir e de se posicionar contra programas vigentes nas cidades que sistematizam e naturalizam a opressão e a violação dos direitos fundamentais das mulheres vigente nas cidades.
São musas e bruxas, realizando milagres todo dia em algum cantinho do lugar onde habitam. São mulheres-livros cujas histórias precisamos conhecer e fazer circular pela necessidade de nos termos norte naquilo que nos fazer seguir.