Editorial

Crise com Carrefour reflete resistência ao acordo Mercosul-União Europeia

Carrefour reconhece qualidade da carne brasileira e encerra boicote, mas a crise ainda reflete tensões no acordo Mercosul-União Europeia

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27/11/2024 às 08:31.
Atualizado em 27/11/2024 às 08:31

(Foto: Reprodução)

O pedido de desculpas do CEO do Carrefour, reconhecendo a qualidade da carne bovina brasileira, e pondo fim ao boicote por parte de frigoríficos aos supermercados da rede francesa está longe de ser o ponto final da controvérsia entre Brasil e europeus.

No pano de fundo do imbróglio está o acordo de livre comércio em negociação pelos dois blocos – União Europeia e Mercosul, causando insatisfação em vários setores da economia europeia. A crise com o Carrefour é reflexo da resistência que o Mercosul enfrentará no decorrer das negociações.

Naturalmente, os produtores rurais europeus – notadamente os de carne - têm criticado bastante as tratativas sobre o acordo, temendo perda de mercado, uma vez que veriam o acirramento da concorrência com o Brasil, maior produtor de carne bovina do mundo.

A rede francesa Carrefour, que no Brasil é simplesmente o maior varejista do País, quis mostrar simpatia aos compatriotas, mas seu dirigente maior acabou perdendo a linha ao afirmar que a carne brasileira não cumpriria os rigorosos padrões de qualidade da França.

Afirmação infeliz. A alta qualidade da carne brasileira é reconhecida no mundo. Décadas de investimento em tecnologia elevaram não só a produtividade como também a qualidade do produto brasileiro, o que coloca o País como maior exportador mundial de carne bovina. Diante do boicote e do mal-estar diplomático, a gigante francesa não teve outra alternativa a não ser retratar-se. 

As negociações do acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia já se arrastam por anos e sua conclusão pode trazer benefícios mútuos, mas é evidente que alguns setores, tanto no Brasil como na Europa perderão certas vantagens.

O Brasil teria acesso preferencial ao mercado de 27 países do bloco europeu, a indústria brasileira contaria com insumos mais baratos. Por outro lado, os países da UE teriam maior facilidade para acessar produtos sul-americanos, com destaque para a produção agropecuária brasileira.

Não é à toa que os produtores franceses estão preocupados. Eles precisam ser incluídos nas discussões para negociar compensações em caso de eventuais perdas. Da mesma forma, os produtores brasileiros também devem ficar atentos a todos os detalhes das discussões.

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