OPINIÃO

Seleção Feminina x Seleção Masculina: uma disputa histórica

Mesmo com a visibilidade crescente do futebol feminino, a igualdade com o torneio masculino ainda é sonho distante

Por Yan Bártholo*
21/07/2023 às 12:34.
Atualizado em 22/07/2023 às 09:28

Começou a Copa do Mundo Feminina de Futebol! O único esporte que identifica a gente como brasileiros pro mundo todo. E que está, atualmente, no melhor momento da história para as mulheres. O que não significa que esteja muito bom, na verdade. Tão pouco que esteja próximo de chegar aos pés do futebol masculino. Pelo contrário. As jogadoras ainda enfrentam muitos problemas, como falta de espaço, investimento e, principalmente, preconceito. 

Muitos comparam o futebol masculino com o feminino usando o mesmo discurso de sempre. “O futebol das mulheres é chato”, “elas não jogam bem”, “é um jogo muito devagar” etc. O que é uma comparação totalmente injusta, porque ainda existe um abismo enorme entre os dois. É o mesmo que querer comparar a seleção brasileira de baseball com a porto-riquenha. Ou comparar o time de hóquei brasileiro com o dos Estados Unidos. E olha que são todos homens. 

Poucas mulheres sonham em ser jogadoras profissionais. Esse baixo interesse, comparado aos homens, está ligado diretamente à desvalorização da profissão e à sexualização. Pra ter uma ideia, na época do presidente Getúlio Vargas, as mulheres perderam o direito à prática de certas modalidades esportivas, incluindo o futebol. O decreto terminou em 1979, mas a regulamentação do esporte só aconteceu em 1983 e a seleção brasileira feminina foi criada apenas em 1986. Isso atrasou o desenvolvimento do esporte para as mulheres, que foi ficando para trás, enquanto o futebol masculino crescia maravilhosamente, gerando cada vez mais dinheiro.

Quando Marta foi eleita a melhor jogadora do mundo em 2006, ainda não existia nenhuma competição nacional para mulheres no país. A Copa do Brasil feminina começou apenas no ano seguinte e o Campeonato Brasileiro, só em 2013. Quase ontem! E só agora, em 2023, o governo brasileiro se comprometeu em promover e incentivar a entrada e a manutenção de meninas e mulheres no esporte. 

Marta vai jogar sua quinta Copa do Mundo e, mais uma vez, jogará sem a estampa de marcas grandes em seus pés, como protesto para promover a igualdade entre os gêneros no futebol. Ela recusou todas as propostas por avaliar que os valores ofertados são desproporcionais com sua história. E está certíssima. Até as marcas patrocinadoras desvalorizam as mulheres, pagando caminhões de dinheiro aos homens e oferecendo uma merreca pra quem construiu tanta coisa para o esporte, como a Marta. A camisa 10 terá as chuteiras estampadas pela marca “Go Equal”, movimento que luta por maior participação feminina no esporte.

O valor investido na Copa do Mundo feminina em 2019 representa 0,02% do que foi aplicado na masculina, ano passado. Apesar disso, a expectativa é de que a de 2023 seja vista por mais de 2 bilhões de pessoas, o maior público da história para um único esporte feminino. Isso oferece uma oportunidade de celebrar as conquistas das mulheres no esporte e um avanço para a igualdade de gênero. 

Uma campanha publicitária muito inteligente nos últimos dias, para a Copa do Mundo, foi a da seleção feminina da França, que surpreendeu a internet com o uso da inteligência artificial transformando as jogadoras nos jogadores famosos e mostrando que não existe tanta diferença entre os dois tipos de jogo. Além disso, pela primeira vez como canal da competição feminina, a CazéTV já possui 11 marcas patrocinadoras: Coca-Cola, Esportes da Sorte, Eurofarma, iFood, Itaú, Latam, Mastercard, Mercado Livre, Mc Donalds, Sensodyne e Unilever. 

Assim, o torneio máximo do futebol feminino amplia cada vez mais as discussões sobre representatividade e igualdade de gênero entre as grandes marcas investidoras do evento, provando que não existem barreiras para os amantes do esporte. Mas mesmo com toda essa visibilidade nos últimos anos, a igualdade perante os torneios masculino e feminino ainda é um sonho muito distante. 

Por isso, nós, consumidores de mídias, temos que valorizar mais as mulheres e o momento que o esporte está vivendo. Juntem os amigos pra ver os jogos. Façam churrasco. Postem nas redes sociais os gols das nossas jogadoras. Sejamos patriotas também na Copa do Mundo feminina e mostremos ao mundo e às grandes marcas que elas valem o investimento. Quem sabe assim, um dia possamos comparar de igual pra igual o futebol feminino e o masculino.

 *Bacharel em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, pela UniNorte. Formado em Redação Publicitária pela Miami Ad School/RJ. Premiado pelo Andy Awards NYC, Effie Awards México, El Ojo de Iberoamerica, FIAP, Young Lions México, Círculo Creativo de México, Colunistas RJ y Wave Festival RJ. Passou pela agência Ogilvy & Mather México, VMLY&R México e Only If-The How Company. Atualmente, é Diretor de Criação da agência Nau Brands.

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