OPINIÃO

Criatividade e a saúde mental

Não é necessário sofrer para ser uma pessoa criativa, muito menos aceitar essa condição sem buscar tratamento

Por Yan Bártholo*
13/10/2023 às 14:59.
Atualizado em 13/10/2023 às 14:59

Na publicidade e em outros setores criativos em que o ritmo de trabalho é muito acelerado, com grande volume de pedidos e curtos prazos, temos que aprender a compartilhar o ambiente laboral com enormes níveis de frustração. Por isso, muitos profissionais dessas áreas sofrem Burnout. 

Existe uma pressão enorme por produzir cada vez mais coisas criativas em menos tempo. Como se fôssemos uma fábrica com uma produção frenética de resultados e alcance de metas que, às vezes, ultrapassa até os momentos de lazer. 

Mas como podemos equilibrar o nosso trabalho com esses momentos de diversão e descanso fora do escritório, de maneira que esses dois universos possam viver juntos sem que um deles atrapalhe o outro? Essa é a grande pergunta de 1 milhão de dólares. 

Quando a quantidade de trabalho começa a ocupar um espaço enorme em nossas vidas e a criatividade passa a ser uma produção em massa, ao invés de ser algo leve, sano e divertido, começamos a perceber que a nossa saúde mental vai ficando em segundo plano. Todos acabamos sendo inseridos em um pensamento no qual priorizamos o trabalho antes de tudo. Afinal, temos que pagar as contas, né? Essa é a lógica. 

Apesar de tudo, devemos aprender a organizar e gerenciar o nosso tempo. Mesmo que, muitas vezes, isso não esteja 100% nas nossas mãos, principalmente se somos funcionários. Não somente para dar conta de tudo o que precisamos fazer, mas principalmente para manter o mínimo da nossa saúde mental. Por isso, as grandes empresas deveriam investir cada vez mais em cuidar dos seus funcionários antes de promover uma frustração em massa. 

Muitos acreditam que a criatividade e a genialidade andam de mãos dadas com a melancolia. Que precisamos encontrar na tristeza ou nos problemas cotidianos maneiras de ser criativos. O que não está totalmente errado. Estudos da Universidade de Oxford mostram que os índices de depressão entre roteiristas, escritores e artistas são muito maiores do que no resto da população. 

O mesmo estudo afirma que as psicoses permitem que essas pessoas vejam o mundo de uma maneira diferente e expressem interpretações únicas, criando suas narrativas artísticas. E que a maioria das pessoas com depressão, ansiedade, bipolaridade, esquizofrenia e abuso de substâncias se encontra no meio criativo. 

Muitas vezes a criatividade é uma maneira de lidar com suas próprias feridas, com seus próprios pesadelos. Como um processo de cura individual, assim se relacionando diretamente com a saúde mental. Mas, na realidade, não é necessário sofrer para ser uma pessoa criativa, muito menos aceitar essa condição sem buscar tratamento, com o objetivo de se manter “artístico”. Nada é regra nessa vida.  

A arte, a criatividade e a genialidade são coisas de loucos e para loucos. Não importa se esses loucos são afetados pela alegria ou pela tristeza. Todos somos afetados pela criatividade e loucos por ela. Só precisamos sempre buscar o equilíbrio perfeito para dominá-la e não deixar que ela domine a nossa saúde mental.

 Bacharel em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, pela UniNorte. Formado em Redação Publicitária pela Miami Ad School/RJ. Premiado pelo Andy Awards NYC, Effie Awards México, El Ojo de Iberoamerica, FIAP, Young Lions México, Círculo Creativo de México, Colunistas RJ y Wave Festival RJ. Passou pela agência Ogilvy & Mather México, VMLY&R México e Only If-The How Company. Atualmente, é Diretor de Criação da agência Nau Brands.

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