O poder público, em todas as suas esferas, precisa compreender que, na era da conectividade, qualquer equívoco na comunicação pode ganhar enormes proporções, com prejuízos potencialmente irreversíveis
(Foto: Agência Brasil)
A revogação do ato da Receita Federal que previa fiscalização em operações via pix superiores a R$ 5 mil para pessoas físicas exemplifica o potencial destrutivo da desinformação, sobretudo nas redes sociais. O poder público, em todas as suas esferas, precisa compreender que, na era da conectividade, qualquer equívoco na comunicação pode ganhar enormes proporções, com prejuízos potencialmente irreversíveis. A gestão pública precisa estar pronta para se comunicar adequadamente com a população, fazer-se entender e enfrentar as fake news.
É preocupante constatar que as mentiras foram disseminadas com apoio de parlamentares que deveriam zelar pela boa informação do povo. Mais preocupante ainda é o fato de que as chamadas big techs, donas das principais plataformas que operam na internet mostram disposição em transformar a web em “terra sem lei”, onde qualquer mentira pode ser dita sem que as empresas se importem em repor a verdade.
Também é curioso observar a forma como a notícia falsa se dissemina, é tomada como verdade inquestionável, obrigando o governo a revogar um ato porque uma parcela enorme da população estava convencida que seus efeitos seriam outros.
O caso também expôs a falha do governo federal em gerir sua própria comunicação. Não basta trocar ministros, é preciso desenvolver uma estratégia robusta de divulgação dos atos e programas governamentais, bem como ferramentas eficazes para combater a disseminação de fake news, antecipando-se a situações como o caso do monitoramento do pix.
Também ficou evidente a vulnerabilidade de larga parcela da sociedade à difusão de informações distorcidas. Inúmeros comerciantes de todos os portes estavam absolutamente convencidos de que as operações com pix seriam taxadas. Muitos já estavam recusando essa forma de pagamento, preferindo receber em dinheiro. A falsa notícia ficou tão arraigada no seio da população que, certamente, a revogação do monitoramento do pix não será suficiente para restaurar plenamente a normalidade.
Vivemos em uma encruzilhada. O País não pode ser refém da vulgarização da mentira. Mas o enfrentamento do atual cenário requer equilíbrio, eficiência e firmeza. Não sabemos se o poder público conseguirá colocar esses atributos em ação.