Crônica

Parabéns ao Vovô Branco

Gentil, educado, dedicado, simples, amante do belo, homem justo e bom, saiu semeando a arte entre os pequeninos daqueles anos.

Robério Braga
roberiospbraga@gmail.com
13/10/2024 às 10:12.
Atualizado em 13/10/2024 às 10:12

(foto: Reprodução)

Sei que já não muitas as pessoas que se lembram dessa figura quase lendária da história do teatro amazonense: Américo Alvarez Amoedo. Faz tempo que dele não se fala, nem em pequenas notas de jornal, muito menos em pesquisas bibliográficas, estudos acadêmicos, apresentações artísticas, exibição de seus textos dramáticos e cômicos, desde o seu desencarne nos anos 1960.

 Tive o privilégio de o conhecer de perto, na intimidade que a condição de menino muito pequeno me permitia, desde os meus quatro anos de idade até mais adiante pouco depois da primeira dezena de anos de vida. Levado pelas mãos de meus pais – Lourenço e Sebastiana - que, com Américo, subi ao palco do Teatro Amazonas de calças curtas, declamei, discursei, ganhei prêmios e me tornei o orador oficial do programa, assim como ocupei os microfones das rádios Rio Mar e Baré, aos domingos, participando do “Programa do Vovô Branco”, personagem que ele criou e encarnava para animar os domingos com atividades artísticas e culturais exclusivamente dedicadas às crianças.

 Ator, diretor, produtor, maquiador, dramaturgo, criador e animador cultural, em uma cidade ainda pequena e romântica, ele também liderou várias campanhas beneficentes para o Educandário Gustavo Capanema, o Asilo de Mendicidade Dr. Thomas, o Hospital Colônia Antônio Aleixo, o Hospital Dr. Fajardo, os movimentos em favor dos tuberculosos e dos hansenianos, dentre outras, procurando estimular a participação de centenas de pessoas e famílias para tais ações sociais.

 Seu programa era uma festa. Formavam-se filas de crianças de todas as idades, sexo, escolaridade e posição social, como se dizia na época, ao redor do Teatro Amazonas, tal como havia sucedido na Maloca dos Barés, na beira do rio Negro, onde ele começou a realizar as suas tardes alegres nas quais os principais artistas eram crianças. E quantos de nós experimentamos esse destaque nos palcos que ele organizava. E como ele nos tratava com respeito e afeto, demonstrando, a todo tempo, como poderíamos realizar as proezas que ele nos atribuía com generosidade.  

 Havia instrumentistas ao violão, acordeons, sax, pandeiro, bandolim, violino, canto, alinhando-se com declamação, discursos, esquetes, concursos de oratória e declamação infantil, pequenas peças educativas e com mensagens humanas e de amor e solidariedade. Por lá, ao mesmo tempo que as crianças tinham destaque, também desfilavam artistas consagrados e membros do Teatro Escola Amazonense de Amadores e do Teatro Amazonense de Comédia, grupos que com ele realizavam experimentos artísticos desde que o padre Agostinho Caballero Martin facultou o Teatro do Colégio Dom Bosco para que Américo e Fueth Mourão apresentassem espetáculos, alguns anos antes.

 Gentil, educado, dedicado, simples, amante do belo, homem justo e bom, saiu semeando a arte entre os pequeninos daqueles anos, estimulando e premiando, reconhecendo e elogiando, mas, sobretudo, ensinando como um grande filósofo que nos preparava para o futuro que parecia distante e incerto, mas quando bateu a nossa porta muitos de nós estávamos prontos para enfrentá-lo e nos destacarmos no Grupo Escolar, no Ginásio e na vida adulta.

O dia 12 de outubro é seu aniversário, o que deve ter sido um presente divino, o mesmo dia da santa padroeira do Brasil e das crianças, por isso resolvi romper o silêncio e registrar, nesse canto de página, um breve esboço do papel que ele desempenhou para a minha geração mirim, rogando paz e luz para o seu espírito.   
    

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