A magia da hallaca venezuelana

O ritual do preparo é o mais marcante e o que nos deixa com saudades, principalmente, aos imigrantes que estamos longe da família

Dulce Rodriguez
Dulce Rodriguez
10/12/2020 às 20:42.
Atualizado em 24/03/2022 às 21:59

Natal na Venezuela é uma festa culinária. Em meados de novembro as mulheres batem perna em supermercados e feiras à procura dos ingredientes, para comparar preços e qualidades.

Para nós venezuelanos a rainha da festa de Natal e o Réveillon é a hallaca. Além da árvore, do Papai Noel e do presépio, em todos os lares, seja humilde ou rico, está presente a hallaca.

Ela é tipo uma pamonha porque seu corpo é uma massa de milho. Mas a massa é temperada com caldo de frango e pigmentada com onoto (urucu). Depois é recheada com um guisado muito gostoso à base de carne de boi e porco, vinho tinto, rapadura de açúcar, cheiro verde, alcaparras, páprica, cebola, cebolinha, pimenta, cominho e pimentão. Essa, pelo menos, é a receita da minha família. Tudo se cozinha durante duas ou três horas.

Seguidamente a massa é recheada com o guiso, também leva azeitonas, passas e cebola como enfeites. Logo depois, a hallaca é envolta em forma retangular em folhas de bananeira, para enfim ser amarradas com pavio ou pita e fervida em água.

O ritual

Mas o ritual do preparo é o mais marcante da hallaca e o que nos deixa com saudades, principalmente aos imigrantes que estamos longe da família. A tradição é que toda a família se una para prepará-la, cada um sendo responsável por uma parte do processo.

Mas, entre uma fase e outra da elaboração, rola muito papo, sorrisos, vinho ou cerveja. É mesmo uma festa culinária. Junto das gargalhadas o que você escuta é a Gaita, música típica de Natal no meu país. As vezes dançamos e cantamos também.

É realmente uma reunião alegre onde prevalece a alegria, amor e união familiar. Você sente esse espírito do Natal, porque todo mundo da família faz junto. Participam a avó, a filha, o neto. Um se encarrega de picar a carne; outro, as verduras; outro, de arrumar, lavar e secar as folhas das bananeiras; o outro amarra a linha, e por aí vai. É uma tradição que passa de mãe para filhos e que lembramos por toda a vida.

Junto com meus filhos, já fiz hallacas em Manaus quatro vezes. Este ano, nem o fechamento da fronteira nos impediu conseguir a farinha PAN, ingrediente fundamental que vem da Venezuela. Há compatriotas que estão importando-a.

Depois da preparação ficamos exaustos, mas felizes. Realmente é muito gratificante o compartilhar e poder manter as nossas tradições natalinas.

Origem na colonização

Mas saiba que a história das hallacas começa na época da colonização espanhola. Os índios, que se tornaram escravos, pegavam as sobras da comida dos espanhóis, misturavam com uma massa, que na época era de trigo, e envolviam em folha de bananeira. E assim foi evoluindo, contam as avós.

Na hora de comer, basta cortar o pavio e abrir as folhas de bananeira, geralmente a hallaca é acompanhada com salada de galinha, porco e pão de presunto.

Nós venezuelanos adoramos misturar salgado e doce, e nestas comidas, o contraste é a caraterística que faz a hallaca ficar muito gostosa para o nosso paladar.

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